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A vida começa...

Até onde sei|Octavio Tostes

... aos 50, diz o bordão de um programa de rádio para esta faixa etária. Anúncios de planos de saúde e estimulantes sexuais vão na mesma linha. Toda vez que ouço ou leio uma coisa destas, eu, recém-chegado aos 58, confesso que desdenho com meus botões.

A vida começa num clarão de luz. Quando o espermatozoide penetra no óvulo, um súbito aumento de cálcio libera zinco, que se prende a outras moléculas e elas fluorescem. O espetáculo registrado em câmera microscópica relembra que somos pó. Mas, observa meu analista, a vida começa bem antes desta maravilha. Já no instante da fecundação, a história e a esperança de teus antepassados te precederam e acompanharão vida afora, a ti, carcaça feita de tempo, relendo Marx.

E você, ovo, vive, embrião, feto, bebê, criança, adolescente, jovem, adulto, velho, e morre. Ou, de outra forma, olho d´água, escorre, nascente, veio, regato, riacho, ribeirão, corredeira, rio, remanso, e Rio Doce pós-rompimento. Muito, se não toda beleza da vida está neste curso. Imprevistos, sustos. Encantos e alumbramentos. Dores, provas, provações. Desafios, derrotas e conquistas. Perdas, ganhos. Somar e, sobretudo, compartir. Pão, terra, liberdade e utopia.

Há mortes em vida. Tristeza, melancolia, depressão. Quando o desejo, que é o que nos move, por alguma desrazão reflui. Você se recolhe, água parada. Ou envereda para cavernas fluviais. Já cruzei gargantas assim. Até que, por alguma razão, e isto é mistério … Heráclito, o grego antigo conhecido pela ideia de que o mesmo homem nunca se banha no mesmo rio, porque tudo flui, o Obscuro, como foi chamado, disse também “não tocarás nos limites da alma, seja qual for o rumo da tua pesquisa, tão profunda é a sua medida “..., você pulsa de novo.

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E tudo ganha sentido, toma rumo, a vida corre em descobertas. Faz dois anos recebi essa dádiva com sopro de colheita. Primeiro no corpo, posto a surfar, exercício de coragem, leveza e improviso. Depois, simultâneo, um encontro na alma. Um olhar ganhou voz e se fez espelho, duplo e invisível. Hoje, assim como na aquarela sobre minha cama, a garota de cabelos castanhos ao lado do menino com a prancha no Arpoador segue comigo. Foi ela quem, com delicadeza, técnica e água, deu forma e luz à cena que se parece começo, é no fundo, e sempre, recomeço.

Para Renato, psicanalista,

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Cisco, Igor, Marcelo, Pajy e Romeu, mestres no surfe

e Marina, parceira na viagem

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