Chorar no trabalho, só se for no banheiro, alerta médico
Getty ImagesObjetos devolvidos, status no Facebook alterado, fotos apagadas — agora é verdade, o relacionamento acabou. Depois de uma separação, seja pelo fim de um namoro ou casamento, manter o foco e tocar a vida é necessário, mas geralmente bem complicado. Como fazer, por exemplo, para trabalhar quando se está com o coração partido?
Que atire a primeira aliança quem nunca passou por esta situação. Ter que se concentrar nas tarefas, ser pontual e produtivo no emprego, se relacionar com os chefes e colegas, tudo isso pode parecer impossível após um rompimento, por mais amigável que ele tenha sido.
O psiquiatra Estevam Vaz de Lima explica que a maneira de enfrentar a vida profissional enquanto se lida com este tipo de problema varia de pessoa para pessoa, e principalmente da intensidade e da duração da relação que acabou.
— Depende também do temperamento da pessoa, e de se havia muitas brigas ou não, por exemplo. Manter o foco é possível para alguns, e não é possível para outros. O que ajuda é se esforçar conscientemente para ocupar a mente com o trabalho. Cabeça vazia, oficina do diabo.
Pessoas introvertidas ou discretas podem ter mais facilidade neste momento, já que, segundo avalia Lima, o ideal, em um ambiente corporativo, é preservar a vida íntima. Para os expansivos, a dica é tentar não falar sobre a situação, especialmente com os chefes, a menos que ela esteja interferindo demais no desempenho. E isso só se eles forem pessoas sensíveis e abertas aos subordinados.
Em relação aos colegas, vale o mesmo conselho.
— Se você trabalha com um grupo saudável e acolhedor, há mais chance de poderem te ajudar, te apoiando e reconfortando. Lembre-se de que, por outro lado, sempre há o risco de que o assunto seja divulgado dentro da empresa e exponha o funcionário de maneira indesejada.
Evitar contato com o ou a ex durante o horário comercial é uma das lições fundamentais para aqueles que esperam, além de superar a dor, também manter seu emprego seguro.
Isso porque o rompimento deve interferir o mínimo possível na rotina, de acordo com o psiquiatra. Se, por exemplo, o celular tocar no trabalho e for o número do antigo amor, o ideal é não atender, deixando para fazer isso quando já estiver fora do escritório.
Lima admite que isso às vezes pode ser complicado, especialmente quando se trata de um ex muito ciumento ou controlador, que pode decidir insistir até vencer o outro pelo cansaço. Mas, e quando quem tem ciúmes e é possessivo é você mesmo?
— Se você quiser sofrer ou se gosta de sofrer, xerete. Facebook, celulares e emails têm sido uma fonte inesgotável de atritos entre casais. Atualmente, quase todas as brigas e rompimentos passam pela internet e telefones celulares. Considere, também, que ficar sondando o que acontece “do lado de lá” pode dificultar o processo de esquecimento do outro e a aceitação do fim do relacionamento.
E, em meio a tanta pressão emocional, chorar às vezes pode ser inevitável. O psiquiatra sugere que, para não correr o risco de ser mal visto por chefes ou colegas, o ideal é, quando não for possível conter as lágrimas, dar uma fugidinha até o banheiro e, lá, tentar se acalmar.
— O tempo de recuperação é extremamente variável. Para alguns, mais "duros", pode durar uma semana, para outros, a vida toda. O rompimento amoroso envolve um sentimento de perda e tristeza semelhante ao luto, e um processo de luto normal dura cerca de um ano.
Caso a dor seja realmente insuportável e trabalhar se torne algo impraticável, existe até a possibilidade de o profissional pedir afastamento temporário.
— O afastamento é necessário quando a reação à separação é tão forte que provoca certos quadros clínicos, como ansiedade, depressão ou uma mistura de ambos. O que precisa ficar caracterizado é que o distúrbio é intenso a ponto de ser incapacitante para o trabalho.