Mães reunidas em unidade do Sesc, em São Paulo, amamentando os filhos em protesto a proibição
Reprodução/Facebook/ Casa da Borboleta
Em uma quarta-feira, a modelo Priscila Navarro levou a filha de sete meses à exposição sobre o cantor David Bowie no Museu da Imagem e do Som, em São Paulo. Durante o passeio, a pequena começou a reclamar, e a mãe precisou alimentá-la.
Ao expor parte de um seio para amamentar Julieta dentro do museu, Priscila foi abordada por uma monitora, que perguntou se ela não preferia ir a um lugar mais reservado. Depois da negativa, quem apareceu foi uma segurança.
— Minha filha havia dormido e ela falou alto, “ah, mas você não está mais amamentando!”, chamando a atenção de todos ao redor. Eu fiquei constrangida, e uma outra monitora apareceu para me dizer que era proibido amamentar ali.
Chocada com a atitude da monitora e da segurança do museu, Priscila deixou o local e contou o que aconteceu às mães de um grupo do Facebook. E, unidas, elas organizaram mais um mamaço, encontro em que todas levam os filhos e os amamentam publicamente, em protesto a proibições.
Não foi o primeiro, nem será o último. Como as mães não conseguiram uma retratação do MIS, já têm outro mamaço agendado para 16 de março.
Antes do caso de Priscila, outras mães também foram proibidas de amamentar seus bebês em espaços públicos e ocasionaram manifestações. O mais recente mamaço paulistano foi realizado no Sesc Belenzinho, que se desculpou publicamente e cedeu espaço às mães.
O advogado e membro da OAB Sergei Cobra Arbex afirma que o mamaço é uma manifestação legítima.
— Foi desrespeitado um direito da criança. Amamentar é um ato maternal e de amor, além de recomendado pela Organização Mundial de Saúde.
Segundo ele, nenhuma pessoa ou empresa pode impedir uma mulher de amamentar, tampouco dizer a ela qual é o local adequado para isso.
— Pode-se, no máximo, convidá-la a se dirigir a um local mais confortável, mas com o intuito de protegê-la e dar condições adequadas aos cuidados com o filho. E, se a mãe não aceitar, ninguém pode fazer nada.
Para Reila Miranda, chef e coordenadora do espaço Casa da Borboleta, que apoia o parto humanizado e a maternidade ativa, as tentativas de proibir a amamentação em público estão ligadas a uma visão deturpada do corpo da mulher, em que mostrar o seio para alimentar um filho é um ato sexual.
— Constrange uma mulher amamentar uma criança porque é mais bonito abrir a bolsa e dar uma mamadeira, em vez de expor o seio. Porque essa é uma parte do corpo para o sexo, mostrada durante o Carnaval, de acordo com essa cultura em que vivemos, em que tudo é objeto.
A opinião de Reila condiz com o relato de Priscila.
— Quando o caso saiu na mídia eu recebi recados no Facebook de homens pedindo para mamar também.
A coordenadora da Casa da Borboleta considera chocante a necessidade de um projeto de lei, proposto no final de 2013, que prevê multas a locais que tentem impedir uma mulher de amamentar, e recomenda que as mães fiquem munidas de informações para que, caso abordadas de maneira constrangedora, não sejam privadas de seus direitos.
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