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Os telespectadores estão torcendo o nariz para a mudança de fase de Velho Chico e o motivo é a destruição dos personagens. A passagem do tempo é um recurso comum usado pelos autores, mas, no caso de Velho Chico, não agradou. Até a diretoria da emissora encomendou mudanças diante da rejeição.
Os problemas são amplos. Vão das interpretações desconectadas, que destruíram a alma dos personagens construídos na primeira fase, a um figurino fora de seu tempo. Confira, na galeria, os piores erros cometidos na condução desta nova fase de Velho Chico
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O coronel Afrânio da primeira fase foi magistralmente interpretado por Rodrigo Santoro. O filho de coronel que não queria para si o mesmo destino se acabava na capital em festinhas lisérgicas, curtia a vida e teve de abandonar tudo para assumir o lugar do pai a contragosto. Isso fez dele um cabra soturno, atormentado. Ainda na primeira fase, Afrânio já surge mais velho, com a filha (Maria Tereza) já mocinha. No entanto, o que se viu no salto de quase 30 anos na história causou estranheza.
Antônio Fagundes retorceu o personagem moldado por Santoro. Entrou em cena aquele tipo clássico já feito pelo ator em novelas rurais — o "novo" Afrânio tem trejeitos parecidos com os de Bruno Mezenga, em O Rei do Gado. O coronel vivido na primeira fase por Santoro não combina com o da nova fase. Ou Santoro tirou tudo aquilo da sua cabeça e improvisou, ou foi Fagundes que resolveu criar um outro personagemMontagem R7
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Santoro, que estava afastado das novelas, voltou mostrando ótima forma em Velho Chico. Construiu um coronel Afrânio que da boemia da juventude se transforma, ao poucos, no líder político que esperam que ele seja, tradicional e rígido, não sem enfrentar seus dramas pessoais e afetivos, como abrir mão do grande amor, se casar na ponta da peixeira, perder a esposa no parto e virar um pai durão. Nem todo o poder tirou do olhar do Afrânio de Santoro uma certa melancolia, típica de quem precisa abrir mão do que deseja. Nada disso, porém, sobreviveu à virada de fase da novela
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Ao assumir o papel de coronel Afrânio, Antônio Fagundes jogou uma pá de cal em tudo o que foi erguido por Santoro. Ele transformou o perturbado personagem em um coronel caricato, um arremedo de todos os coronéis de tantas outras tramas já vistas
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Pobre Maria Tereza de Sá Ribeiro! A filha de Afrânio, que na primeira fase foi interpretada com garra e ousadia pela jovem Julia Dalavia, virou uma chorona histérica nas mãos de Camila Pitanga. O frescor e a jovialidade de Julia, que emocionou o público tanto em suas cenas de amor com o Santo de Renato Góes, como no abandono no colégio interno e no flagrante que deu em Santo e Luzia, se perdeu na pele de Pitanga. Camila é outra que parece viver sempre a mesma personagem, nervosinha, destemperada e escandalosa, nada a ver com a natureza forte de Maria Tereza
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Julia Dalavia surpreendeu com a ótima performance na primeira fase de Velho Chico e conseguiu imprimir na personagem a rebelde reprimida, que, grávida do desafeto de seu pai, é obrigada a se resignar e aceitar um casamento arranjado. Essa mágoa desapareceu na virada da trama, como se Maria Tereza sempre tivesse adorado o maridão imposto pela família
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Depois do coronel Afrânio de Fagundes, a transformação mais drástica foi de Iolanda. A personagem, que era uma cantora sensual e apaixonada na primeira fase, vira uma perua do agreste, sem nenhuma conexão com o que foi na juventude. Tudo bem que as pessoas mudam, mas Christiane Torloni parece muito pouco à vontade na pele de Iolanda. Parece que jogaram uma de suas peruas urbanas, como a Tereza Christina criada por Aguinaldo Silva, lá no meio do sertão
Montagem R7
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Também há uma estranheza em Velho Chico no que diz respeito ao figurino. Se a trama realmente deu um salto de quase 30 anos, o que significam as roupas usadas pelo elenco? Parece que todo mundo parou no tempo, nada nos figurinos remete à atualidade. Onde Iolanda descola aqueles looks anos 40? E Afrânio então? Sem falar que todo mundo vive cheio de sobreposições, o que deve fazer a galera derreter naquele sol do sertão
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Se não é um bonitão à altura do novato Renato Góes, que fez um Santo de ajoelhar e rezar na primeira fase, Domingos Montagner pelo menos não detonou o personagem. Santo segue sendo como sempre foi, o que em se tratando de Velho Chico já é um alivio
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O também estreante e galã Pablo Morais passou o bastão de seu Cícero para Marcos Palmeira. Não houve também, neste caso, um assassinato completo do trabalho anterior, mas Marcos Palmeira, como muitos de seus pares em Velho Chico, se repete e até bordões como "Oh, diacho", já usados por ele em outras tramas, estão de volta. É outro caso de reencarnação eterna de personagens
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Em menor escala, também merecem menções desonrosas pela desconstrução as personagens Doninha e Piedade.
Doninha, vivida na primeira fase por Barbara Reis, entregou a personagem para Suely Bispo, que está se esforçando para manter a empatia da empregada dos de Sá RibeiroMontagem R7
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Já Piedade, que foi lindamente defendida por Cyria Coentro na primeira fase, está tentando sobreviver na pele de Zezita Matos, que assumiu o papel na segunda etapa, sem o mesmo brilhantismo
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Certo mesmo seria fazer como fizeram com a dona Encarnação, desde o princípio vivida por Selma Egrei, atriz que incorporou na medida a matriarca, a despeito de sua história de atriz de pornochanchadas no passado. O único detalhe que também chama a atenção em Encarnação é o figurino. Ela segue parecendo uma criatura de museu. Nem alguém com 100 anos se vestiria daquela forma nos dias de hoje
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