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Em 2008, o Brasil ficou aterrorizado com o caso Calabresi. Uma menina, na época com 12 anos de idade, foi resgatada da casa onde viveu anos de horror. A criança, chamada Lucélia Rodrigues, era torturada e feita de escrava pela empresária Sílvia Calabresi. Ela era acorrentada, amordaçada, agredida e obrigada a comer fezes de cachorro pela criminosa. Sete anos depois, Rodrigo Faro descobriu como vivi hoje a menina Lucélia, uma sobrevivente, que convive até hoje com a recordação de uma infância destruída por agressões
+ ASSISTA: Veja como está Lucélia, a menina torturada e humilhada por uma empresáriaReprodução/ Rede Record
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Faro foi ao encontro de Lucélia: “Olha que mulher linda que aquela menina se transformou”, comentou o apresentador
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Lucélia fala sobre os anos em que viveu sob tortura: “Nunca esqueci. Eu me lembro todos os dias, porque eu tenho que passar essa história para as pessoas e mostrar para elas que eu sofri, mas que eu dei a volta por cima”
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A vítima, que foi entregue a Silvia Calabresi por sua mãe, Joana D’arc, para ter melhores condições de vida, relata o motivo da adoção: “Tudo começou com a separação dos meus pais. Acho que quem quer casar, quem casou para construir uma família, tem que pensar nos frutos, porque quem sofre é só a gente”
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Lucélia conta que quando foi entregue a Silvia, tudo era normal: “Quando fui para lá estudava nas melhores escolas, tinha as melhores roupas, me tratava como uma filha. Minha mãe uma vez me visitou e perguntou ' filha, você não que ir embora? ' e eu falei ' não mamãe, eu quero ficar aqui, aqui eu tenho tudo’”
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Com o passar do tempo tudo mudou: “Ela tinha um filho pequenininho, ele tinha três anos e gostava muito de mim, eu era uma irmãzinha para ele. Um dia ele caiu no chão, lembro até hoje e ele falou que foi em quem o machucou”
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Desse dia em diante, Lucélia começou a sofrer agressões: “Ela começou a me bater com cintos, chinelo, começou por aí. Com o passar do tempo foi com fivelas, com ferro e foi piorando, cada dia ela renovava”
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Os lugares onde sofria as torturas tinha um nome, “ponto”: “Tinha dia que ela chegava e dizia 'hoje meu dia não foi bom' e dizia vai para o seu ponto”. Ela descreve a sensação: “Minha alma tremia. Eu pedia socorro, eu preferia pular, lá do sétimo andar, cair no chão, que iria doer menos”
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“A parte de cima em quem cuidava e a parte de baixo era a empregada. Com o tempo ela não me deixava dormir mais, dormia às duas da manhã e acordava as seis. Quando eu terminava de limpar a casa ela mandava a empregada passar barro em tudo e limpar tudo de novo”, relembra
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Lucélia desabafou: “Acho que incomodava ela me ver quietinha, na escola, lendo um livro, incomodava”
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Além de Silvia Calabresi, a empregada Vanice Novaes, também foi presa: “Psicologicamente, o que mais de doía, é que ela dizia que se eu contasse ela iria matar meu pai, minha mãe e meus irmãos”
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“Eu estudava em um colégio militar e não tinha coragem de contar. Tive várias oportunidades de contar, mas por amor a minha família eu me calei”, relatou Lucélia, durante a entrevista a Hora do Faro
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Ela sofreu tortura por quase dois anos: “Ela enchia um tanque de água, enfiava minha cabeça e sentava no meu pescoço e, enquanto eu não perdesse as forças, ela não me tirava. Me dava choques na máquina, colocava meus dedos porta, um por um”
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Na época, com apenas doze anos, quase perdeu a vida: “Uma vez ela me deu setenta pauladas na cabeça, fui para o hospital nesse dia, ela viu que eu precisava de um médico”
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As torturas são parte de sua memória sete anos depois: “Toda vez que eu estava com fome, tinha que comer o coco do cachorro e o xixi também, a minha água era a minha própria urina”
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Rodrigo Faro: O que você pensava na sua cabeça de criança?
Lucélia Rodriguez: Que meu único fim era a morte
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A vítima não conseguia imaginar seu futuro: “Eu sonhava com meu pai chegando, com minha mãe vendo aquela a cena, eles me tirando dali. Imagina policias chegando, me tirando daquele lugar, imaginava tudo. Mas eu até pedia para ela me matar, falei assim 'me mata, por favor, me mata'”
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Com o tempo, Silvia Calabresi retirou a menina Lucélia da escola e colocava roupas que tampama o corpo da criança para que ninguém visse as marcas das agressões: “Uma vez ela me levou para comer e ali com um sanduíche ela falou ‘você não vai comer?’ e eu falei assim, ‘não, porque meu pai e minha mãe não estão comendo isso agora’”
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Ela se lembra do dia em que foi salva: "Abriram aquela porta e eu ali presa, eles correndo e não entendo nada, uma mulher me viu presa”. Lucélia foi resgatada às 10h22 do dia 15 de março de 2008 e conta a Hora do Faro que perdoa sua agressora. Hoje, sonha em escrever seu livro e dividir com mais pessoas sua história de superação
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