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“Meu filho apanhou na escola”. “Minha filha agrediu outra aluna”. “Meu filho não consegue socializar”. Certamente as frases anteriores não são uma surpresa para os pais. Já foram ditas ou até mesmo compartilhadas por outros colegas que dividem as alegrias e anseios ao formar uma família — mas encontram algumas “pedras” nesse caminho. Segundo, a psicóloga Maura de Albanesi tais dificuldades afloram muitas vezes na escola, mas o problema pode ser doméstico. Sim, isso significa dizer que os pais podem cometer bullying
Texto e entrevista: Bárbara Garcia, do R7Reprodução/Montagem/R7
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Nos últimos anos, tanto se falou em bullying que ficou difícil compreender o verdadeiro significado do comportamento. Esse tipo de ação ocorre quando “alguém toca no ponto fraco da outra pessoa e ativa ainda mais um defeito, ridicularizando, excluindo e fazendo com que ela se sinta inferior dentro da sociedade”, explica Maura
Reprodução/Flickr/Lee Morley
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Dotado de senso de humor, o ser humano não consegue diferenciar o que pode ser uma brincadeira inofensiva de algo que se torna repetitivo e enaltece defeitos e dificuldades.
— É diferente de um amigo tirar um sarro, e algo que vai interferir na autoestima da pessoaGetty Images
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— O ser humano tem uma capacidade incrível de perceber o ponto fraco da pessoa, isso é desenvolvido desde a infância. Por exemplo, com uma criança mais retraída, começa a exclusão pela dificuldade em se comportar, chamam o gordinho de bola rolando e o magrinho de esqueleto, e por aí vai
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Esses adjetivos, de acordo com a psicóloga, escacaram e aumentam o problema, que pode ser uma dificuldade, defeito ou uma vergonha que existe apenas na pessoa.
— Os pais praticam bullying quando começam repetidas vezes a criticar os filhos. "Você é isso, é aquilo, não sabe fazer nada". São expressões habituais dentro de casa. A nossa educação tem sua base no bullying, por isso que está tão exacerbado na sociedadeGetty Images
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— Na realidade, os pais acham que estão mostrando o problema para o filho. Na cabeça deles há a certeza de que estão educando, mas não estão
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— Isso acaba se transformando em raiva embutida e , muitas vezes, é percebida apenas quando o comportamento muda na escola
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Para fugir de uma conduta ofensiva, os pais devem educar ativando o "melhor" e neutralizando o "pior".
— A educação tem que ser embasada nas qualidades do filho. Se os pais exacerbarem as qualidades, automaticamente os defeitos perdem a força. Mas, infelizmente, a nossa educação é pautada em mostrar e acentuar a dificuldade na tentativa, inocente, de reverter a situaçãoThinkstock
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Maura explica que esse tipo de compensação está enraizada na sociedade e na família.
— Isso vem com nossos pais, avós, tataravós, desde os primórdios. Como se exaltar o melhor de uma pessoa fosse arrogância, como se fosse estimular a vaidade. É uma forma errônea de procurar estimular a pessoagetty Images
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Apesar do leque de informações ter se ampliado aos pais, a dificuldade em reverter essa conduta permanece.
— Eles viram acontecer com os pais e repetem com os filhos. A verdade é que educamos por repetição, por mais que falem ‘não quero fazer com meu filho o que fizeram comigo’, acaba fazendo e não percebemGetty Images
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Como reverter a situação?
— Começar a agir diferente, ativar o melhor desse filho. Os pais me procuram para ver o que podem fazer. Eles dizem: ‘como? Vou falar que ele é bom sendo que não é?’ Ou seja, eles têm dificuldade em reconhecer o bom, a qualidade. O vício está em olhar para o “não bom”. Procurar uma orientação terapêutica é o caminhoGetty Images
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— Os pais vão aprendendo a ser pais sendo pais. Eles não fazem por maldade, filho não vem com manual, mesmo que a maneira seja ruim, a intenção é boa. É raro ver um pai que queira o mal do filho. Quando procuram ajuda é porque eles veem que a maneira como estão agindo não está dando certo
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A psicóloga conta que os pais estão procurando mais ajuda, mas ainda sentem dificuldade em absorver esse auxílio
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Ela também esclarece que o desejo de transformar o filho no melhor amigo é o caminho errado.
— Não conseguem seguir uma linha mais firme com medo de perder o afeto. Tem uma separação entre ser mãe e mãe amiga. Eles devem estar cientes de que os filhos não vão encontrar pessoas como eles fora do mundo familiar. É aí que escola não aceita esse comportamento e chamam os pais, que acham que é instituição e os alunos os errados. Mas o problema está mais embaixoThinkStock
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O segundo filho sofre menos?
— Eu costumo dizer que o espírito do primeiro filho é mais corajoso. É como se ele dissesse: ‘deixa que eu encaro essa, eu abro o caminho para quem vier atrás’. O primeiro sempre sofre mais, fica de fato mais fácil para o segundo. Inclusive, se for uma família com muitos filhos, não precisa se preocupar tanto em educar todos, já que os outros ajudam. Por outro lado, se os pais “abrem mão” do primeiro, não dá para tentar consertar o segundo, terceiro...Thinkstock