A postagem de Juliana rendeu debates
Reprodução/ Facebook
Na última semana, o desafio da maternidade fez a timeline do Facebook ser dominada por postagens de mulheres e crianças sorridentes. A brincadeira consiste em reunir imagens que mostrem o que deixa cada mãe feliz e orgulhosa, e a hashtag logo se alastrou pela rede social. Mas uma postagem dissonante chamou mais a atenção do que todas as fotos de famílias de margarina: o desabafo de Juliana Reis, que declarou amar o próprio filho, mas odiar ser mãe.
Com um bebê de 40 dias, a moradora de Belford Roxo, Rio de Janeiro, abriu o jogo sobre os perrengues da maternidade: o julgamento alheio, os palpites, a dor e a dificuldade para amamentar, e o cansaço extremo. Mães se identificaram com o texto, mas muitas mulheres ficaram indignadas com o teor da postagem. Tanto que, além dos xingamentos que pipocaram na publicação, o perfil de Juliana foi denunciado e suspenso do Facebook durante boa parte da quarta-feira (17).
A técnica de enfermagem Eliene Calixto Alves, de 40 anos, é mãe de duas meninas, de 20 e de 2 anos, e definiu o ponto de vista de Juliana como absurdo.
— Eu não quero julgar, mas aquela menina não é a primeira pessoa da face da terra a ser mãe. A gente que é mulher sabe que o ato sexual leva a ser mãe, e se tem dúvidas sobre querer isso, a gente tem que se proteger. Porque, depois que o bebê nasce, é você que tem que cuidar, e realmente não é fácil.
Em entrevista ao R7, Eliene disse que mães realmente ouvem muitos palpites, mas que é preciso saber filtrar. Alguns são para o bem da criança, e os que não são podem ser ignorados.
— É uma imaturidade muito grande dela ficar se preocupando com o que os outros dizem.
No Facebook do R7, também apareceram críticas à mãe que usou a rede social para contar que as dificuldades a fazem não curtir a experiência da maternidade. A internauta Tania de Oliveira comentou: “Tenho muita pena dessa criança que ela gerou... Uma mãe que odeia ser mãe não deve ser bom pra nenhuma criança! Dificuldades todas as mães têm... sendo pobre ou rica, casada, divorciada ou solteira. Mas daí a dizer que odeia ser mãe? Isso já é demais! Deveria ter ficado calada se não queria críticas!”.
Em defesa de Juliana
Mas nem todas as mulheres ficaram indignadas com o desabafo da mãe de um recém-nascido. Quando ele começou a ser compartilhado, outras mulheres se sentiram à vontade para falar sobre o quanto a maternidade pode ser dura. A honestidade de Juliana funcionou como um acolhimento para quem está no olho do furacão e se sente desamparada, ou para as mães que já se viram nas mesmas dificuldades que ela.
“Quando minha filha nasceu me bateu um desespero, achei que a minha vida se resumiria a acordar, dar de mamar e acordar de novo. Chorei horrores… A mulher fica fragilizada. Eu já tive inúmeros desafios nesse pouco tempo de vida, mas nada, nada me causou maior impacto, ou tanto medo, quanto ser mãe. Estas questões só vão aumentado com o decorrer do tempo, a diferença é que a mulher tem a predisposição para aceitar esse amor tão grande. Sendo assim, deixe cada um ser quem é. Essa mãe não desanimou, apenas relatou sua verdade”, escreveu Leilane Sobral no Facebook do R7.
A internauta Ivana Cristina também saiu em defesa de Juliana. “Na verdade, muitos não prestaram atenção no que ela diz. Só pegaram a parte de odiar a maternidade. Mas ela deixou bem claro que ama o filho. Eu também tem horas que odeio ser mãe. É difícil e mãe exerce o papel principal. Qualquer coisa que dá errado, a culpa é sempre da mãe”.
Depois da polêmica instaurada nas redes sociais, a hashtag #TamoJuntaJuliana se disseminou. Outras mulheres demonstraram solidariedade ao sofrimento da puérpera e pediram menos julgamento e mais acolhimento.
O empresário Marcos Vinícius Ranauro compartilhou uma foto da mulher e da filha, logo após o nascimento dela, e relatou o período em que acompanhou a depressão pós-parto da companheira. Ao final do relato, explicou que sua mulher também foi julgada e xingada, e que esse tipo de ataque machuca ainda mais quem está tentando superar um momento difícil. “Se a sua maternidade foi perfeita e comercial de margarina por que não tenta dar um conselho construtivo pra mães recém-paridas? Sou homem, mas aprendi com a minha esposa a palavra sororidade. Tá faltando isso entre algumas mulheres. Falta respeito entre o ser humano. Vi minha esposa sofrer o preconceito na pele por causa da depressão pós-parto. Passei tudo isso com ela e pretendo passar o que for pela Monique e pela Mia. Depressão não é palhaçada. Puerpério também não é. Isso não é frescura de mulher. As pessoas cagam regras sobre o que o outro passa. A Internet virou um tribunal aberto, onde todo mundo julga todo mundo sem ter passado por situação semelhante”.
Ao ter o perfil no Facebook reativado, Juliana Reis agradeceu o apoio e o carinho de quem se manifestou em defesa dela e esclareceu que a intenção nunca foi ofender ou segregar. “O que eu fiz? Se eu ofendi alguém com o que eu postei eu só posso me desculpar. Mas me desculpar como? Eu fui calada sem mais nem menos. As pessoas estavam dizendo que eu não aguentei a pressão, afinal, todo mundo estava achando que eu tenho depressão pós parto! Para esclarecer esse lado, EU NÃO TENHO DEPRESSÃO! Tive muito medo de ter. Então eu li e reli sobre o assunto, conheci gente que teve, e a parada é séria. É real! Saber disso me faz ser complacente com elas. Não é a minha realidade mas não sou eu que vou julgá-las. Mesmo que julgar e apontar o dedo na cara do outro esteja na moda. Eu não sou assim. Minha intenção foi abraçar a dor dessas mulheres”.
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