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"Os sonhos são revolucionários"

O escritor José Eduardo Agualusa lança o livro 'A Sociedade dos Sonhadores Involuntários'

|Karla Dunder do R7

O escritor angolano José Eduardo Agualusa está no Brasil para lançamento de seu ovo livro
O escritor angolano José Eduardo Agualusa está no Brasil para lançamento de seu ovo livro O escritor angolano José Eduardo Agualusa está no Brasil para lançamento de seu ovo livro

O escritor angolano José Eduardo Agualusa está no Brasil para o lançamento de A Sociedade dos Sonhadores Involuntários (Planeta, 256 págs, R$41,90) e conversou com o R7 sobre o seu novo livro. O autor participará da Festa Literária de Paraty, a Flip, que ocorre de 26 a 30 julho, mais informações pelo site: flip.org.br

Seu livro fala sobre sonhos e obviamente sua inspiração veio daí, mas o que te moveu a escrever sobre os sonhos?

Eu comecei a escrever este livro a mais de seis anos, quando começou a Primavera Árabe na Tunísia, no Egito e depois na Líbia tiveram uma repercussão muito grande em todo o continente africano e também em Angola. Em Angola surgiu um movimento dos jovens ativistas fazendo manifestações, pedindo abertura democrática e sendo violentamente reprimido pelo regime por meio da polícia. A emergência desse movimento foi uma coisa que me marcou muito. Eu comecei a escrever o livro, nessa altura, por essa série de acontecimentos. Por outro lado, já tinha uma ideia de trabalhar com os sonhos por causa da minha relação particular com eles. Eu queria tratar dos sonhos das duas maneiras: enquanto mecanismo que nos prepara para a realidade e a mim em particular tem sido útil e também para muitos criadores como metáfora para a necessidade de criar novos ideais no mundo. Perdemos a capacidade de sonhar. Foi assim que comecei a escrever meu livro.

O movimento jovem de Angola é muito presente no livro. E é impossível falar da situação política sem falar do rapper Luaty Beirão, um dos símbolos dessa luta. Gostaria que você comentasse a situação política atual e como está presente no livro.

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O Luaty estará presente em uma mesa na Flip (Festa Literária Internacional de Paraty). Ele escreveu um livro com trechos – alguns trechos que ele conseguiu salvar do período em que esteve preso ¬- e também algumas letras de raps. Esses jovens foram presos, espancados, etc. Há dois anos, eles foram novamente presos quando estavam lendo um livro de resistência pacífica. Foram presos, mas não foram imediatamente soltos como aconteceu outras vezes e por essa razão, Luaty inicia uma greve de fome por 36 dias, o que teve uma repercussão muito grande dentro e fora de Angola. Dentro do país criou-se um forte movimento de solidariedade e do qual participei. Eu retomei o livro já na sequência desses acontecimentos. O livro reflete isso, esse momento político.

Podemos entender que sonhar é um ato revolucionário, um ato de resistência?

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Neste sentido sim, de pensar novas utopias, sem dúvida.

O livro se refere aos sonhadores involuntários, não seria um antagonismo dizer isso?

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Os quatro personagens principais do livro são os sonhadores voluntários, aqueles que se treinaram para sonhar – que é o meu caso. Eu sonho frequentemente com enredos dos meus livros, com títulos de romances, com personagens. Eu e esses personagens somos sonhadores voluntários.

No livro você faz claras referências ao sonho propriamente dito. Você é amigo do neurocirurgião brasileiro Sidarta Ribeiro (Professor Titular do Instituto do Cérebro em Natal, no Rio Grande do Norte). De alguma forma ele influenciou na obra?

Sem dúvida. Eu estava querendo escrever esse livro e li uma entrevista do Sidarta que ele falava da necessidade de reabilitar o sonho enquanto instrumento para a realidade. Através de um amigo médico, tentei me encontrar com ele em Natal, onde ele vive. Fui até Recife, mas aconteceu alguma coisa com o avião e eu não pude embarcar, foi cancelado. Eu estava ali no aeroporto pensando que não poderia encontrar o Sidarta quando recebi um chamado da prefeitura de Natal me convidando para passar um tempo em residência lá, fiquei em Natal para escrever um livro. Lá conheci o Sidarta e conversamos muito, ficamos amigos e essa série de conversas, portanto, de uma forma ou de outra acabam entrando no livro.

Em seus livros, você sempre faz referência ao Brasil e a cultura brasileira. Como o Brasil está presente na sua vida?

O que é natural porque os livros têm a ver com minha vida também. O Brasil entrou muito cedo na minha vida por razões pessoais, uma parte grande da minha família é brasileira e desde criança que eu tenho essa relação que é cultural também. Desde criança fui consumindo literatura brasileira, cultura, música, teatro, etc. Essa relação é muito próxima.

Você se considera um sonhador? Como você se define?

Um sonhador nesse sentido de pensar novas utopias, sim, sem dúvida. Eu acho que o mundo precisa de novas utopias. Precisa sonhar.

Com o atual cenário de Angola ainda é possível sonhar?

É imperioso sonhar, temos de sonhar, de pensar em soluções e acreditar que temos essas soluções. No Brasil é a mesma coisa, é preciso que as pessoas comecem a sonhar neste sentido - de pensar novos caminhos. Todos os movimentos transformadores começam com alguém pensando nisso. Não acho que só o Brasil ou a Angola, mas o mundo inteiro está atravessando uma crise enorme que tem a ver com o abandono de ideais e com a necessidade de buscar novos ideais. Acho que temos de pensar o futuro, definir novos objetivos e redefinir a própria democracia, pensar em uma democracia mais avançada do que esta que temos em muitos países e redemocratizar aqueles não têm.

Por fim, gostaria que você comentasse um pouco mais sobre a sua participação na Flip.

Eu tenho uma mesa de discussão na programação paralela, com o Luaty e com o Kalaf Angelo, um músico e escritor angolano. É uma mesa que eu acho que será muito interessante mesmo. Vamos tentar fazer também em Angola, porque será muito interessante.

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