Banda de post-metal Labirinto aposta nas trevas da alma em novo álbum
DivulgaçãoQue a felicidade é periódica não é novidade. Sabe-se, ainda, que normalmente as trevas existenciais causam um certo desespero ao ser humano. E foi esse desespero que inspirou o casal Erick Cruxen e Muriel Curi, fundadores da banda Labirinto, a criarem o álbum Gehenna — com músicas exclusivamente melódicas que despertam o sentimento de agonia no público.
A essência do grupo é puramente instrumental, onde o peso da guitarra de Cruxen ganha evidência na maior parte das músicas. A cada quebra melódica — referência proposital da banda —, a sensação de desconforto toma conta de quem mergulha no mundo melancólico do álbum. Muriel, a baterista, explica:
— Apesar de as músicas terem surgido naturalmente, chegamos à conclusão de que as quebras de estrutura fazem parte da alma do álbum. A gente quer causar desconforto, mostrar que a melancolia pode ser transformada em arte. A vida não é só alegria, e a música precisa acompanhar todos os sentimentos de um ser humano.
Segundo os músicos, o intuito da banda é exatamente o que o nome propõe: que o público mergulhe no som e se perca, sem ter vontade de encontrar o caminho de volta, como em um labirinto. O som é denso e pesado, lembra a angústia.
— É na literatura e no cinema que encontramos nossas principais inspirações. Queremos transmitir sentimento sem que alguém diga o que sentir. E temos plena consciência de que isso é possível mesmo sem texto e sem uma voz à frente da banda.
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Metal progressivo?
Nem a própria banda sabe definir o gênero que o grupo segue. Alguns fãs a intitulam como um grupo de post-rock, que mistura o rock alternativo com minúcias do jazz. Outros dizem que o metal progressivo faz parte da essência da Labirinto. Para Cruxen, é uma mistura dos dois:
— Post-metal? (risos). Nossas principais referências são o hardcore e o metal progressivo, mas acho que de progressivo temos muito pouco, uma vez que a quebra de estrutura faz com que a linearidade da música se perca a todo o momento. Mas se os fãs dizem, estão certos, não é mesmo?
O rock nos dias de hoje
Cruxen e Muriel, além de músicos, são produtores musicais. Para eles, falta inovação no rock’n’roll, e por isso as novas bandas continuam se inspirando em quem fez sucesso nos anos 1970 e 1980. O guitarrista explica:
— Nós percebemos referências comuns nas novas bandas de rock no Brasil. Falta inovação. E não é porque não tem gente boa por aí, tem, e muito. Mas essa galera continua no underground. O mainstream é extremamente seletivo e não gosta de sair da zona de conforto. Sempre foi assim. O medo de arriscar poda o talento de novos músicos.
De acordo com o casal, a internet é a porta de entrada para a divulgação de novos sons. É por meio dela que os músicos precisam se autopromover, uma vez que a rede não restringe o que é ou não vendável.
— As novas bandas precisam usar e abusar da internet. Precisam mostrar o novo, divulgar o que amam fazer. E isso vai fazer sucesso se for feito com a alma. Quando a música tem alma, não tem rótulo.
Os músicos explicam, ainda, que a meritocracia se faz cada vez mais presente no mundo da música.
— Para conseguir um espaço considerável, é preciso ser filho de algum músico conhecido, ou ter uma influência direta de alguém que já está no mercado. O mundo da música poda os novos talentos, e é por isso que o rock’n’roll anda apagado.