Leonardo DiCaprio merece o Oscar de Melhor Ator por sua entrega em O Regresso
DivulgaçãoA história é difícil de digerir, mas poderosa
DivulgaçãoSe você já assistiu a filmes como 21 Gramas, Babel e Birdman, vencedor do Oscar de Melhor Filme no ano passado, sabe que o cinema do diretor Alejandro González Iñárritu provoca desconforto, mas não exatamente de um jeito negativo. Provocador, ele incomoda com cenas que muitos não teriam coragem de filmar e que causam, justamente, desconforto pelos mais variados motivos na plateia.
Chega aos cinemas nesta quinta-feira (4) O Regresso, mais nova empreitada de Iñárritu, e se apenas uma palavra pudesse descrever a produção, certamente seria angústia. São mais de duas horas e meia de puro desespero que fazem a gente se contorcer na cadeira. A direção de Iñárritu merece todos os elogios e indicações a prêmios que recebeu, por orquestrar uma verdadeira obra de arte, uma pintura em movimento. No entanto, é a atuação comovente de Leonardo DiCaprio que nos faz viver de verdade a experiência incômoda que o filme oferece.
DiCaprio impressiona mais uma vez, como já fez em tantos outros filmes, mas aqui tudo é mais intenso, maior. O ator se entrega física e emocionalmente ao papel de Hugh Glass, caçador de peles atacado por uma ursa e deixado para trás por um de seus companheiros. Ferido e sozinho, ele precisa sobreviver aos mais variados perigos, vindos do homem e da força implacável da natureza, para conseguir se vingar deste que o traiu. E é interessante perceber que em algumas das cenas mais emocionantes, o ator sequer pronuncia qualquer palavra, “falando” apenas com os olhos, a respiração e a linguagem corporal. É impossível não ficar tenso com o que ele passa.
Muito se fala sobre o tão esperado Oscar para DiCaprio, que já esteve em papeis também merecedores do prêmio, mas O Regresso é o filme certo para que isso finalmente aconteça. DiCaprio prova que um bom ator é aquele comprometido a contar uma história, não importa o que aconteça. E não apenas porque ele entrou e saiu de rios congelados, comeu carne de bisão crua, carregou por meses uma pele de mais de 40 kg ou se arrastou pelos lugares mais inóspitos, mas sim porque tudo isso não foi feito para provar absolutamente nada sobre o inquestionável talento dele, mas sim para fazer o público sentir todo o sofrimento de Glass. Em uma determinada cena, o personagem não pode se mexer ou falar e mesmo assim nós conseguimos captar absolutamente tudo que ele sente. É de arrepiar!
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Além dele, outros do elenco também brilham, como Tom Hardy, que interpreta Fitzgerald, um homem ambicioso, disposto a tudo para sobreviver. Também indicado ao Oscar, Hardy faz um antagonista perfeito, por não desenvolver um vilão caricaturado, mas sim um homem complexo e verdadeiro. Também se destacam Domhnall Gleeson, Will Poulter e Forrest Goodluck, que faz sua estreia no cinema como o filho de Glass.
A natureza, personagem importante nessa trama, também impressiona. O trabalho de fotografia de Emmanuel Lubezki enche os olhos e merece ser premiado, sem dúvida. Qualquer cena parece tirada de algum documentário sobre a vida selvagem e os cuidados da equipe para dar a grandiosidade esperada são tantos que Iñárritu decidiu filmar tudo apenas com luzes naturais. Ou seja, a equipe só tinha algumas horas do dia para gravar as cenas e, com isso, as filmagens levaram cerca de nove meses. No entanto, mais que um preciosismo, a técnica realmente dá um efeito belíssimo ao filme.
Em algumas partes, as coisas podem soar arrastadas, mas parece que tudo é mais uma estratégia pensada por Iñárritu para elevar a tensão, para que toda aquele sofrimento seja prolongado e a gente entenda que o que Glass viveu é ainda mais difícil do que estamos vendo, já que a história é mesmo baseada em fatos reais. Outros momentos são fortes por seu realismo (e por serem bem nojentos, verdade seja dita), como quando o personagem de DiCaprio dorme dentro da carcaça de um cavalo, mas o sangue que contrasta com toda aquela neve também está lá pelo mesmo motivo, de ilustrar com precisão cada sentimento desta épica história.
O Regresso é belo e angustiante, uma verdadeira jornada de sobrevivência e vingança feita de uma maneira espetacular. É um filme difícil de digerir, mas que faz refletir sobre os limites humanos, sobre ambição, sobre o impacto do homem na natureza e vice-versa. A magnífica atuação de Leonardo DiCaprio faz de O Regresso ainda mais imperdível e, sim, chegou a hora de a Academia reconhecer um dos maiores atores da história do cinema. Não por algum tipo de pena, não porque o público espera há tanto tempo, não porque já passou da hora, mas porque ele merece, especialmente por um papel tão sensacional como este. Vai que é tua, Léo!
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