Pedro Gomes é o diretor que mais entende sobre rap no Brasil
DivulgaçãoO cineasta Pedro Gomes, de 32 anos, diretor dos documentários Freestyle e Marco Zero, ambos com enfoque na história do rap no Brasil, gostou da série The Get Down, produção original de 120 milhões de dólares da Netflix contando a origem do movimento hip-hop.
A produção americana é ambientada no bairro americano do Bronx, no começo da década de 1970. "Desde quando vi o trailer pela primeira vez, lá atrás, já fiquei pasmo", diz o cineasta, que revelou ser fã do diretor Baz Luhrmann.
Nascido e criado no Grajaú, na zona Sul da capital, Pedro é um dos mais celebrados diretores de videoclipes de rap. É dele a direção de Tem que ser Monstrão, do rapper carioca MV Bill, e É o Moio, do grupo Pentágono. Na última semana, foi lançado o videoclipe Linha 10, do paulistano Hataka, também dirigido pelo Pedro, que, ao todo, conta com mais de 30 produções audiovisuais na carreira.
O documentário Freestyle — Um Estilo de Vida, de 2008, sobre as batalhas de rimas e o surgimento de uma nova geração de rapper, entre eles Criolo, Emicida e Projota, ganhou o prêmio de melhor filme pelo voto popular do festival de Guarnice. Em Marco Zero do Hip Hop, de 2014, Pedro fez um registro documental sobre os primórdios do rap no Brasil, com depoimentos de letristas, dançarinos e DJs que frequentavam as primeiras rodas de break e improvisos no centro da cidade, usando como ponto de partida a placa que a Prefeitura de São Paulo instalou para comemorar os 30 anos do surgimento do movimento hip-hop no país.
A série da Netflix também é nostálgica e recheada e boa música e bons atores, que também cantam bem. Um dos destaques é Jaden Smith, filho do astro Will Smith. Confira a entrevista exclusiva com o Pedro Gomes sobre The Get Down.
R7: Você fez dois documentários relevantes para a história do rap no Brasil: o Freestyle e o Marco Zero. Os dois abrem um diálogo entre gerações diferentes com pontos em comum. Quando você estava fazendo esses filmes chegou a pensar numa versão ficcional como o The Get Down?
Pedro Gomes: O grande objetivo de minha carreira, meu grande sonho, é fazer um filme (longa de ficção). Sempre isso esteve em meu horizonte. Então, quando estava filmando os documentários citados, esse era um pensamento sempre presente. Ainda mais quando ouvia as histórias dos personagens, seja de superação, garra ou até mesmo piada. Seja lá qual for meu primeiro filme, ele terá muito dessas histórias em seu escopo.
R7: O que você mais gostou na série The Get Down até agora?
Pedro Gomes: Desde quando vi o trailer pela primeira vez, lá atrás, já fiquei pasmo. Por um momento imaginei que fosse simplesmente pelo fato de amar o tema mas, não. Baz Luhrmann, um diretor que tem uma assinatura muito clara em sua obra, faz a produção executiva da série. Ele vem com sua grandiosidade, uma fotografia bem saturada — quase em tom fantasioso, que tem takes parecendo sonhos mas, não são. Essa característica vem na obra de Baz desde sempre. Somado a isso um time bom de atores, roteiristas e produtores, incluindo Nas. Não poderia dar errado. Mas, além disso tudo, no final o que mais gosto mesmo, ainda é o tema.
R7: O projeto é o mais caro e ambicioso da Netflix até aqui. Para você isso é um indicativo da importância que o hip-hop tem com cultura no mundo todo?
Pedro Gomes: Venho falando isso desde metade dos anos 2000, o hip-hop é o principal movimento artístico/cultural surgido nas últimas décadas. Pessoas ligadas ao rap, em suas diversas áreas, movimentam números impressionantes ao redor do mundo. O hip-hop sim, é muito importante, e ter uma série como essa, com esse orçamento, lançada em vários países simultaneamente, confirma isso.
R7: Você acompanhou e gravou os shows da turnê Cores e Valores, dos Racionais MCs. As letras do grupo, na sua maioria, têm uma pegada forte de roteiro. Já pensou em fazer um filme baseado em uma letra dos Racionais? Qual seria?
Pedro Gomes: Eu penso todos os dias da minha vida nisso, fazer um filme baseado em uma letra dos caras. Tenho um curta-metragem escrito, inspirado em um clássico deles. O projeto está em fase de captação de recursos. Quando for o momento certo, eu conto em qual música ele é baseado.
R7: Em The Get Down a pobreza e a falta de contrapartida do Estado são marcantes no desenrolar da história. De certa forma, o Bronx da séria se parece muito com as periferias do Brasil. Qual a efeito disso na formação e no desenvolvimento da cultura hip-hop?
Pedro Gomes: Para quem nunca teve nada, poder sorrir já é grande coisa. Em uma sociedade tão desequilibrada como a nossa, os jovens buscavam uma maneira de divertimento — e encontraram o hip-hop (barato, dançante e não precisa saber tocar nenhum instrumento). O hip-hop prega união, responsabilidade e respeito às origens, todos esses "itens" são extremamente necessários para quem sequer conhece o pai. Ou seja, de certa maneira, o movimento hip-hop contribuiu para a formação e ampliação de horizontes de diversos jovens brasil afora.