Zé Brown desvenda a alma da cultura regional em novo álbum
DivulgaçãoNos últimos quatro anos, o músico pernambucano Zé Brown se dedicou a conclusão do álbum "Poesias do Povo", uma síntese da longa pesquisa que faz sobre os ritmos e o folclore brasileiro. O trabalho também registra o seu profundo envolvimento com a cultura hip-hop. Em 1988, ele ajudou a criar o grupo Faces do Subúrbio, primeira grande referência do rap feito fora o eixo SP-Rio. Ao lado de nomes como Câmbio Negro e Gog, o Faces do Subúrbio foi fundamental para a expansão da cultura hip-hop a partir dos anos 1990.
O grupo, pioneiro no uso de guitarras, bateria e baixo no rap misturando hardcore com embolada, encerrou as atividades em 2006, após três álbuns.
Na carreira solo, Zé Brown se dedicou ainda mais à música regional e foi beber da fonte de grandes mestres da embolada, mas sempre mantendo a hamonização com o rap. Além da embolada, o músico também embarcou no côco, no samba, no maracatu e no forró.
— Antes de falacer, o grande mestre Zé Neguinho me nomeou seu discípulo. É uma grande honra para mim. Ele me levou ensinou as diversas modalidades de côco. Fizemos juntos uma turne com a banda Digital Groove, de música eletrônica.
Zé Brown tocou também com o mestre Galo Preto, em Pernambuco e no Rio de Janeiro. "O contato com esses mestre me fortaleceu bastante e renovou a vontade de lutar pela cultura popular e estudar música. A partir daí comecei a fazer shows e parcerias com bandas e cantores de vários estilos: Lula Queiroga, Josildo Sá, Mônica Feijó, Marcelo Santana, Geraldo Maia, Lenine, Zeca Baleiro, Marcelo D2, Devotos do Ódio, Silvério Pessoa, Márcio Oliveira, Marco Axé, Up Town Band, Sistema X, Extremistas MCs, Grupo Terra, Skowa, João Parayba, entre outros", disse.
Em 2011, o músico registrou a primeira parte da sua pesquisa sobre cultura regional e rap no álbum independente "Rap Repente Rap", com direção do Skowa e do Janja Gomes.
A diversidade cultural é a marca de Pernambuco e também da música de Zé Brown. O estado tem diversidade até no nome, que é composto por dez letras e nenhuma delas se repete. A previsão é que o álbum "Poesia do Povo" chegue às ruas no início de outubro, com produção fonográfica e executiva do próprio Zé Brown.
Nem tanto Carlinhos, nem tanto Mano, a obra do Zé Brown faz a ponte entre o calderão brasilianista do percusionista baiano com as letras pesadas e politizadas do rapper paulistano. Zé, Carlinhos e Mano são três browns que contribuiem para a evolução da música popular. Confira a entrevista exclusiva com o músico pernambucano.
O álbum Poesias do Povo já está na fase de finalização
ReproduçãoR7: Qual é a proposta do álbum? Sobre o que você quis falar neste trabalho?
Zé Brown: Considero esse álbum mais um resultado de pesquisa musical e cultural que fiz com ritmos e manifestações culturais. Cada região me inspirou para compor. Esse album tem um pouco de Pernambuco, de Paraíba, da Bahia, do Rio de Janeiro, do Maranhão, do Amazonas e São Paulo. Musicalmente falando, esse album vem poético nas letras e nas melodias. Tem também um conteúdo de protesto, mensagem de paz e incentivo a continuar a luta.
R7: Quais as participações especiais? Quem são os músicos que te acompanharam no álbum?
Zé Brown: Tenho vários parceiros nesse album que entenderam a proposta e a ousadia. Estão comigo o baixista Gabriel Cantazaro (do Aláfia) o próprio Janja Gomes, e o DJ Marcelinho, que são músicos fixos. As participações especiais são: Marcelo D2, Mc Jack, Fernandinho Beat Box, Cajú e Castanha, João Parayba (do grupo Mocotó), Alessandra Leão, Rafaela Nepamuceno, Joul Matéria Rima e Marciel Melo. O DJ Hum tá produzindo uma música também, o DJ Marcelinho está auxiliando nos beats. E tem o DJ Beto, que é de Recife. A direção musical é minha e do é Janja Gomes. A patota é boa.
R7: O álbum foi gravado todo em São Paulo ou você também gravou no Recife?
Zé Brown: Têm beats do DJ Beto que foram produzidos lá em Recife (PE), mas toda finalização está sendo feita no estúdio Medusa aqui em São Paulo.
R7: Quais as características mais fortes do hip-hop pernambucano?
Zé Brown: O sotaque tem uma característica muito forte, mas não é diferente em se tratando dos quatro elementos (DJ, Break, MC e o grafite).
R7: Faces do Subúrbio foi um dos nomes mais fortes de uma geração pioneira do rap brasileiro. Qual o legado deixado pelo grupo?
Zé Brown: Com certeza a resistência de, no inicio dos anos 90, aparecer para o brasil com a proposta de tocar com banda, sendo do nordeste sem nunca ter se intimidado com o preconceito e o barrismo. Tenho muito orgulho da minha faculdade Faces do Subúrbio. O legado que deixa é a essência da cultura nordestina e a influência da musica universal.
R7: Além do destaque na cena nacional, o Faces do Subúrbio também foi importante para provar que existia rap fora do eixo SP-Rio. Eram vocês o GOG e o Câmbio Negro. Hoje a cena é mais ampla. Você ouve a nova geração? Quem te chamou a atenção?
Zé Brown: Eu escuto tudo. O que mais me chamou atenção foi Nicolas MC (Matéria Rima), Rapadura, Long MC, Aliados CP, Gustavo Pontual, Chapa MC, Sem Peneira pra Suco Sujo, Funkeiro, Opanijé, Simples Reportagem, SH, Loucos Nordestinos, Arrete (grupo feminino de Recife), Emicida, Rashid, tem vários nomes mais esses me chamaram atenção.
R7: Você nasceu e cresceu no bairro Casa Amarela, que tinha uma fama de comunidade muito violenta e com pouca infraestrutura do Estado. Estive no Recife em 2015 e ouvi dizer que ainda existem áreas bem violentas. Falaram muito do Campo Grande. Qual a sua avaliação? O que poderia ser feito para ajudar a integrar a cidade e reduzir a violência?
Zé Brown: Pois é meu véi, realmente Casa Amarela tinha essa fama de ser violenta e o Alto José do Pinho também era um dos mais violentos. Porém, a cultura local mudou essa realidade. Não que não exista o trafico, homicidios, brigas e problemas com bebidas , isso tudo ainda existe, mas se for parar e olhar os números da violência é possível dizer que diminuiu bastante. Isso é resultado de uma política cutural. Eu acredito que se tivesse mais investimento em educação, formação e cultura a violência não estaria tão alta em alguns bairros. Já ministrei oficinas em Água Fria, Santo Amaro, Arruda, pelas intituições Pé no Chão e Instituto Vida. No Alto José do Pinho, eu tenho um projeto que se chama "Zé Brown Apresenta Talentos". Lá eu vejo que se investir em arte e educação as coisas mudam. Aqui em São Paulo eu participo do projeto Matéria Rima, em Diadema, que atua nas escolas. O resultado é muito satisfatório estamos testemunhando muitas mudanças positivas.