Vocalista do Symphony X, Russell Allien, levou o público do Tom Brasil a outro universo
Talyta Vespa/R7Foi na noite do primeiro sábado de maio que paulistas tiveram a chance de fazer uma viagem um tanto quanto incomum. O destino? O submundo. A trilha sonora que embalou o passeio ficou por conta da banda americana de metal progressivo Symphony X, que fez o chão da casa de espetáculos Tom Brasil tremer com cada vibração do timbre peculiar de Russell Allen — considerado por críticos o melhor vocalista em atuação.
A turnê que leva o nome do novo álbum da banda, Underworld, lançado em julho de 2015, traz um espetáculo desprovido de grandes efeitos especiais. A viagem proposta pela essência do disco começa com o hit de abertura Overture, onde o guitarrista e principal compositor da banda, Michael Romeo, faz a guitarra gritar em delírio.
O single introduz a primeira música liberada pela gravadora Nuclear Blast, em maio do ano passado, Nevermore. A partir dela, Russell empresta suas cordas vocais de potencial inenarrável para conduzir todos os passageiros a um passeio de 1h20 à outra dimensão. Apesar de cada música do álbum ter uma essência própria, todas giram em torno de um enredo: a viagem de um personagem ao chamado “submundo” — uma referência à obra A Divina Comédia, de Dante Alighieri, onde o personagem passa a maior parte da narrativa em um lugar para onde “vão as almas após a morte”.
Segundo Romeo, o homem viaja até esse universo paralelo em busca de seu verdadeiro amor — uma mulher, que, na verdade, está morta. Sobre o estilo do álbum, o guitarrista ainda afirmou, na época em que o Underworld foi lançado, que todas as músicas levavam uma mistura de rock pesado com sentimentos de todas as instâncias. “Isso trouxe equilíbrio”.
Ao apresentar a música Without You — que começa com guitarra e baixo leves —, Russell dedicou o single a todos os homens que não medem esforços para recuperar um amor. A música embalou os abraços e os beijos de casais apaixonados — e também foi um pretexto para que novos casais se formassem.
O vocalista, que evidenciou o quanto gosta de se apresentar em São Paulo, arrancou suspiros das poucas mulheres que compunham a plateia do Tom Brasil — e até arriscou um pouco de português — no único momento em que pareceu tímido: “Obrigado”.
Banda promete que o metal não vai morrer
Talyta Vespa/R7Symphony X se apresenta no Tom Brasil
A última música do álbum, Sea of Lies, contou com a participação especial do músico brasileiro Thiago Bianchi, vocalista da última fase da banda Shaman e da atual Noturnall — banda cujo primeiro DVD conta com a participação de Russell Allen, que é o padrinho da banda. Em uma relação de respeito e admiração vinda de ambos os lados, Russell e Thiago mostravam satisfação àquele momento. Eles interagiram com a plateia, e o brasileiro não hesitou em falar português sempre que necessário. Foi a primeira vez que o Symphony X contou com uma participação especial em shows.
Foi com esse espetáculo à parte que a Symphony X se despedia de São Paulo. No entanto, após a saída da banda, os fãs continuaram firmes e fortes pedindo um “bis”. E não é que foram ouvidos? Russell voltou aos palcos e desafiou os fãs:
— Vocês querem que continuemos tocando? Vocês tem certeza absoluta disso?
A resposta foi uma ovação estridente do público. Antes de finalizar o show, Russell desabafou aos paulistas:
— Sabe, ando ouvindo que o heavy metal está morto. Eu não acredito nisso. Assim como vocês, nós, músicos, também somos fãs. Crescemos ouvindo Motorhead. Somos apenas uma pequena fatia de uma família musical chamada heavy metal. Somos um pequeno pedaço do paraíso. E a essência do rock nunca pode morrer, por pessoas como vocês.
Os fãs, ainda mais emocionados do que já estavam, gritaram em apoio ao discurso do vocalista. E a noite terminou com a música Legend — que Russell dedicou a Lemmy Kilmister, ex-vocalista do Motorhead, e a Ronnie James Dio, ex-vocalista do Black Sabbath — cuja letra diz que a lenda nunca morre. Esse espetáculo foi a prova viva de que o heavy metal, certamente, não está morto.