Muita gente não gosta das músicas da Anitta, não gosta de suas danças, do que ela fala, do que veste nem de tudo o que faz para aparecer. Mas não dá para negar: ela é uma das artistas mais interessantes do país na atualidade. Sempre vale a pena prestar atenção no que Anitta faz/fala.
Por exemplo, numa live nesta quarta (25) ela falou sobre a questão das músicas que viralizam no TikTok e o que isso tem a ver com o investimento das gravadoras nos artistas. Logo ela que um tempinho atrás foi alvo de polêmica porque uma dancinha sua — da música Envolver — viralizou na plataforma, o que ajudou a canção a chegar ao primeiro lugar mundial no Spotify.
Anitta entrou no assunto muito comentado ultimamente de que as gravadoras só investem num artista ou numa música se um vídeo viraliza no TikTok. Ela disse: “A gente tem que esperar os resultados, infelizmente é assim. As gravadoras se ligam muito no TikTok, no que viraliza na internet. E, se não tem sucesso logo de cara, eles dão tchau e foda**. É que nem Envolver, eu só gravei por pura insistência minha, e só foi viralizar depois. Então é difícil você convencer as pessoas a continuarem o trabalho divulgando mesmo que não seja um sucesso instantâneo”.
Envolver, caso você não lembre, teve um clipe lançado vários meses antes de a canção viralizar. O vídeo foi para a internet e não aconteceu muita coisa, não virou um megassucesso. Só mais tarde, quando a dancinha pegou para valer no TikTok, é que Envolver decolou e virou aquele hit todo. Anitta, inclusive, recebeu um monte de críticas de que a canção só virou sucesso por causa da coreografia e não por uma suposta qualidade musical. O que, claro, é uma imensa bobagem hoje em dia.
Com a popularização do TikTok a gente entende perfeitamente por que praticamente todos os artistas mais bombados se esforçam para criar dancinhas fáceis que possam ser repetidas até dizer chega. Isso vale para artistas dos mais diversos segmentos, e vai da Anitta até os sertanejos. Pode reparar que quase todos têm uma coreografia, um passinho, um movimento que pode ser copiado pelos fãs e reproduzido nas redes sociais.
Muita gente reclama de que o TikTok acabou com a música e que os artistas hoje em dia têm de se preocupar em lançar algo que caia no gosto dos usuários da plataforma. Isso não é necessariamente uma inverdade, mas Anitta não concorda que o aplicativo tenha destruído o mercado fonográfico. “Acho que abriu espaço para artistas independentes terem a oportunidade de crescer. Cabe aos artistas se adaptarem às novidades e às mudanças do mercado. O que não significa que acho inteligente por parte das companhias condicionarem seus planos de investimento apenas a isso. Acho que os tiktokers devem, sim, ser respeitados como profissionais. Não é nada fácil ser bem-sucedido nesse segmento, como os desavisados falam. Eles são comunicadores que entenderam a nova linguagem desse novo entretenimento e dominam muito bem.”
Anitta mostrou ainda que nem ela, com todo seu sucesso e influência, tem muito apoio da gravadora. Ela contou que muitas vezes tem de tirar dinheiro do próprio bolso para fazer um clipe caprichado. Segundo a cantora, a gravadora só dá dinheiro para investir num vídeo depois que a música já viralizou. “Foi o que aconteceu com Gata. Eles queriam fazer algo, estava indo superbem, mas depois decaiu [na plataforma]. Só investem depois que dá resultado na internet.”
Toda essa discussão em que Anitta entrou veio à tona esses dias porque a cantora americana Halsey disse recentemente que sua gravadora só investiria no clipe de uma música sua caso conseguissem criar um viral no TikTok. Veja: “Basicamente eu tenho uma música que amo que eu quero lançar o mais rápido possível. Mas minha gravadora não deixa. Eu estou nessa indústria há oito anos e eu vendi mais de 165 milhões de músicas. E minha gravadora está dizendo que eu não posso lançar a não ser que eles finjam um momento viral no TikTok. Tudo é marketing. E eles estão fazendo isso com basicamente todos os artistas atualmente. Eu só quero lançar música nova, cara. E eu merecia mais, para ser honesta. Estou cansada”.
O fato é que é meio assim mesmo que a indústria da música funciona atualmente. As gravadoras estão fazendo o que sempre fizeram, que é forçar ao máximo o artista para que faça sucesso, para que uma música chegue ao maior número possível de pessoas. No passado havia o jabá, dinheiro que era pago às rádios e TVs para veicular um determinado artista que tinha uma ou mais músicas que poderiam “viralizar” nesses veículos, daí que vinham canções com refrões fáceis ou alguma tiradinha que grudasse na cabeça das pessoas. Hoje, esse tipo de esquema passou para o TikTok, que meio que indica às gravadoras a canção e/ou um(a) artista que merece receber um investimento.
A indústria fonográfica vem mudando bastante nos últimos anos. Fala-se muito que as pessoas já há tempos não ouvem mais um álbum completo, que consomem as canções de forma separada, daí que muitos artistas já não lançam mais discos com dez ou doze músicas. Preferem soltar singles. O YouTube com suas visualizações também passou a ser determinante para o sucesso de um(a) artista, e o TikTok é um novo fator para o êxito de uma música. Goste-se ou não, é assim que a indústria funciona hoje e, como Anitta disse, o(a) artista tem de saber navegar nesse oceano. E ela sabe.