Erasmo é um daqueles artistas fundamentais para qualquer país e que se não tivesse existido teria necessariamente que ser inventado. Não dá para falar em Brasil e em música brasileira sem falar em Erasmo e Roberto, os nossos Lennon e McCartney, os nossos reis do rock, do pop, do iê-iê-iê.
Muito diverso, com influências múltiplas, seguindo caminhos tortuosos, Erasmo foi de tudo um pouco. Era rock, era MPB, era bossa nova, era romântico, era metal. Autodidata e com pensamento extremamente popular, Erasmo já começou sua carreira diretamente no rock, já que era superfã de Little Richard, Elvis Presley, Jerry Lee Lewis, Bill Halley, Chuck Berry e tantos outros pioneiros do rock'n'roll.
Muito modesto, começou devagarinho na música cantando rocks em inglês, depois versões para o português deste mesmo tipo de canção e, finalmente, passou a fazer composições próprias. Desde os anos 60, ou seja, quando ainda era um jovem de 20 e poucos anos, estabeleceu uma parceria duradoura com o seu amigo Roberto Carlos.
A dupla foi um encontro perfeito, por isso não é nenhum exagero dizer que os dois são os nossos Lennon e McCartney. Aliás, a parceria, de certa maneira, colocou uma certa sombra sobre Erasmo, que sempre ficou um pouco ofuscado pelo brilho do amigo. Dá para entender, afinal Roberto virou o “namoradinho do Brasil”, o grande escolhido pela indústria musical para ser a maior figura da MPB.
Mas não dá para se enganar: uns 60% do que Roberto é se devem a Erasmo. Sem a parceria, sem as letras e músicas que o Tremendão ajudou a criar, o Rei da música brasileira não teria chegado aonde chegou. Dá para entender certinho a importância do Erasmo ao ouvir seus discos. Ele tem uma produção fantástica, e seus discos do começo dos anos 70 são impecáveis. Pegue, por exemplo, Carlos, Erasmo, de 1971, e repare nas letras e arranjos. São inigualáveis, de uma simplicidade e sabedoria ímpares, de uma genialidade incrível. É ouvir as letras e melodias para saber direitinho de onde vieram clássicos como Detalhes, Cavalgada, Quero que Vá Tudo para o Inferno, Se Você Pensa, Sua Estupidez etc. etc.
Claro que Roberto também tem seus méritos e não é o caso de diminuí-lo, mas é o caso de exaltar Erasmo. Coisa que muita gente, às vezes, esquece de fazer.
GÊNIO ENTRE GÊNIOS
Erasmo foi um cara tão fantástico, com uma carreira que poucos artistas podem dizer que tiveram uma igual. No Brasil, só dá para comparar a trajetória de Erasmo com a de artistas como o próprio Roberto, Caetano, Gil, Gal Costa e Milton Nascimento. Lá fora, então, só dá para colocá-lo ao lado de gente como Beatles, Rolling Stones e Elvis Presley. Assim como toda esta turma, Erasmo lançou dezenas de discos, atuou em filmes, apareceu em novelas, em fotonovelas, ganhou especiais de TV, integrou a Jovem Guarda, tocou no Rock in Rio, entrou em decadência, voltou ao topo e nunca parou. É uma daquelas carreiras mitológicas que muito pouca gente consegue fazer.
Por falar em decadência, em 1985, a juventude brasileira teve a manha de vaiar Erasmo durante sua apresentação no Rock in Rio. O cantor foi tratado como peça de museu por quem estava na plateia, mas não se abalou e levou o show até o final com a maior dignidade do mundo.
Ele seguiu em frente, foi redescoberto, ganhou homenagens e seguiu lançando álbuns íntegros, inspirados e fundamentais. Erasmo tem discos recentes que merecem ser ouvidos tanto quanto os antigos. É uma obra que merece ser redescoberta, até porque ela vai continuar por aí para todo o sempre, porque um gigante como Erasmo não desaparece nunca.