Logo R7.com
Logo do PlayPlus
Publicidade

Roberto regrava 'Outra Vez' e quase acaba com um de seus clássicos

Esta nova versão simplesmente não tinha a menor necessidade de existir; não se mexe em clássico

Odair Braz Jr|Do R7

Alguém deveria falar para Roberto não mexer em seus clássicos
Alguém deveria falar para Roberto não mexer em seus clássicos Alguém deveria falar para Roberto não mexer em seus clássicos

Foi embora há muito tempo a época em que Roberto Carlos lançava um disco com músicas inéditas sempre no fim de cada ano, como um presente de Natal para seus fãs. Esse esquema funcionou bem até o fim dos anos 90 e, de lá para cá, o cantor alterna álbuns inéditos com discos tapa-buraco. E agora em 2021 também não teremos um LP com canções novinhas, em vez disso, o nosso amigo soltou há alguns dias uma nova versão de Outra Vez, um de seus maiores clássicos. E, temos a obrigação de dizer, a coisa não fluiu nada bem.

Na boa, tem gente que deveria ser proibida de mexer em suas obras. O Roberto é uma delas. Fazer uma regravação de Outra Vez, escrita por Isolda e lançada pelo cantor em 1977, é algo como Da Vinci repintar a Monalisa ou os Beatles soltarem uma versão nova de The Long andWinding Road. Simplesmente não se faz uma coisa dessas. Clássico é clássico e vice-versa. Mas Roberto foi lá e fez. Infelizmente.

Leia mais: Aos 80 anos, Roberto Carlos é a trilha sonora do Brasil

Outra Vez modelo 2021 já nasce derrotada, porque não dá para competir com a original. Não que seja assim uma hecatombe nuclear de ruindade, mas é bem fraca. O arranjo saiu, digamos, açucarado demais. Tem muito violino, um piano sem graça, safado, e mesmo a voz do cantor perde quando comparada à de 1977. Alguns poderão dizer que é porque ele está mais velho, mas não é esse o caso. A voz simplesmente não consegue empolgar, está meio apagada.

Publicidade

Em Outra Vez de 1977, há uma predominância do violão no arranjo, o que dá um jeitão mais especial e simpático à canção. E a voz de Roberto está mais vívida, emocionante e carismática até. É até chato comparar uma canção à outra, lado a lado.

Bom, mas, até aí, você pode achar que tudo isso é implicância desta pessoa que aqui escreve. Por isso, fui procurar mais opiniões sobre Outra Vez 2021. Falei com o crítico musical Regis Tadeu, que tem programa de rádio, é jurado na TV, tem canal no Youtube e entende muito de rock, MPB etc. e tal. O que Regis disse: “Versão terrível e desnecessária! Roberto está com a voz cansada e a canção aparentemente foi gravada ao vivo no estúdio. Fora que o arranjo breguíssimo tirou toda a força da canção original”. E o crítico ainda arrematou: “Fiquei com a sensação de que a gravação foi feita por uma 'versão drag queen veterana da Simone' num karaokê no Renaissance Hotel". Não dá para discordar muito.

Publicidade

Também falei com Gonçalo Junior, escritor e diretor da editora Noir e um grande estudioso de diversos assuntos, MPB entre eles. Gonçalo não sentou a paulada do mesmo jeito que Regis, mas também considera que a regravação não foi das coisas mais felizes feitas por Roberto. Veja: “A emoção que Roberto consegue passar em suas interpretações está presente nesta regravação, sem dúvida. Mas perde em dois aspectos em relação à original. Primeiro, por um arranjo um tanto apressado, limitado, empobrecido e restrito a sintetizadores, apesar da presença de violinos ao fundo. O outro é a voz um tanto cansada, com pausas em excesso e certa dificuldade de respirar entre um verso e outro”.

Gonçalo continua sua análise falando sobre Outra Vez dos anos 70: “A primeira versão tem uma marca inconfundível do período em que ele fez seus grandes discos, entre 1967 e 1975. É um Roberto não só profundamente emocional como de imensa tristeza para interpretar canções que viraram clássicos, como Detalhes, Como Vai Você, A Namorada, Debaixo dos Caracóis dos Seus Cabelos, Se Eu Partir e De Tanto Amor. Por isso, tornaram-se tão representativas da melancolia que sufocava o país no momento mais crítico da repressão, apesar da euforia do milagre brasileiro. A primeira Outra Vez consegue, na minha opinião, tocar mais fundo no sentimento de quem ouve, faz um grande amor do passado parecer mais vivo e intenso”. Também não há como discordar.

Publicidade

E é por essas e outras (com trocadilho) que não havia a menor necessidade de Roberto regravar esse clássico. Esta versão 2021 será usada em breve na novela das 9 da Globo, mas não precisava ser regravada para isso. Por que não usar a original? Que dessem um trato na de 77, uma remasterizada digital ou coisa do tipo. Teria muito mais valor colocar um clássico absoluto para tocar novamente.

E uma última pergunta: como é que faz para “desouvir” Outra Vez 2021? Alguém sabe?

Aproveite e ouça a versão 2021:

E, agora, a original:

Últimas

Utilizamos cookies e tecnologia para aprimorar sua experiência de navegação de acordo com oAviso de Privacidade.