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"Eu estava dormindo e acordei com um estouro muito grande dentro do quarto", foi desta forma que Maria da Penha descreveu o primeiro ataque que sofreu do ex-marido colombiano, Marco Antônio
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Ele tentou matá-la por duas vezes, a manteve em cárcere privado e agrediu as filhas pequenas. Todos estes detalhes foram contados em entrevista concedida ao Gugu nesta quarta-feira (12)
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A cearense Maria da Penha conheceu Marco Antônio na faculdade.
— Nós nos conhecemos na cidade universitária da USP. Ele chegou da Colômbia e se uniu a um grupo que eu participava. Nos tornamos amigos, começamos a namorar e casamos!
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Até ter a segunda filha e conseguir a cidadania brasileira, o colombiano não demonstrou a face agressiva.
— Ele era uma pessoa muito prestativa, solidária. Mas, desde o momento em que fui vitimada por ele — no nascimento da segunda filha — ele já mudou! Então, acho que ele se casou por interesse, para obter a cidadania brasileira
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Maria da Penha chegou a conversar e pediu separação, mas foi ignorada.
— Minhas filhas eram maltratadas fisicamente, psicologicamente. Muitas vezes, sem necessidade.
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Certa vez, para que uma das crianças não chupasse o dedo, Marco Antônio amarrou uma meia em cada mão e colocou os braços da filha para trás. Ele também chegou a impedir as filhas de beber água após o meio-dia para que elas não fizessem xixi na cama à noite
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As coisas começaram a piorar quando Maria da Penha descobriu que o marido já havia sido casado na Colômbia e tinha um filho, algo que ele sempre omitiu. Depois, ela ainda viu que ele tinha uma amante no Brasil.
— Não existia na época nenhuma política de proteção à mulher. A primeira delegacia da mulher foi criada em 1985 e eu quase fui morta em 1983... Eu não cheguei a sofrer agressão física no começo, mas psicológica.
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O primeiro ataque físico aconteceu em 29 de maio de 1983 quando Maria da Penha estava dormindo e ouviu um estrondo dentro do quarto. Marco Antônio havia atirado com o intuito de matá-la.
— Eu ouvia as pessoas me ajudando, mas não estava sangrando nada. Quando me viraram, que viram minhas costas!
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Para encobrir o feito, o ex-marido inventou uma história de que bandidos haviam entrado na casa e se auto agrediu para fingir que também foi vítima. A bala disparada mudou para sempre a vida de Maria da Penha, que passou a viver numa cadeira de rodas
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Foi aí que ela começou a enxergar ainda mais a verdadeira personalidade de Marco. Ele não a ajudou durante a recuperação e começou a impedir que outras pessoas — inclusive as próprias filhas — convivessem com ela, caracterizando crime de cárcere privado
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— Foi terminantemente proibido eu receber qualquer pessoa. Depois que eu tomei conhecimento do que tinha acontecido: a desconfiança dos vizinhos, as crianças não se aproximarem de mim....
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Duas semanas depois, Maria sofreu um segundo atentado do ex-marido: ele tentou eletrocutá-la
— Ele se ofereceu pra me levar ao banho e quando eu coloquei a mão na água, me deu um choque.
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Com a ajuda das empregadas da casa, Maria da Penha foi salva e assim que o ex-marido viajou para um compromisso, ela saiu de casa junto com as filhas e foi para a casa da mãe.
— Aguardei mais uns dias até sair um documento jurídico de separação dos corpos. Quando ele viajou, eu saí de casa com as crianças. Fui pra casa do meu pai com as três meninas!
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Quando retornou e soube do ocorrido, Marco Antônio foi até a casa em que ela estava.
— Ele foi bater na porta do meu pai. Minha mãe tinha colocado grade de proteção interna e quando ele chutou, eu falei: "Se você der outro chute, eu vou ligar pra polícia"
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O colombiano foi embora, mas somente um ano após o crime chegou a depor. Ele achou que, pela demora, o caso seria arquivado. A luta de Maria da Penha por justiça durou 19 anos
— Por duas vezes ele foi a julgamento, saiu condenado e ficou em liberdade. Quando foi preso, ficou apenas dois anos.
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Hoje, Maria da Penha se tornou um símbolo da luta das mulheres contra a violência doméstica e graças à sua história foi criada a lei que leva seu nome e promete proteção às vítimas e tratamento mais rigoroso para os criminosos.
— Qualquer vítima que seja uma mulher, machucada por uma pessoa da família do sexo masculino, será atendida pela lei
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