Entrevista do Arcanjo: “Ainda temos boa música”, diz Roberta Martinelli, apresentadora do Cultura Livre
Programa dedicado a músicos que geralmente não têm espaço na TV celebra quatro anos
Entretenimento|Miguel Arcanjo Prado, editor de Cultura do R7
Em suas primeiras décadas, a TV brasileira sempre esteve atrelada à música de qualidade produzida no País. Tanto que foi berço do nascimento do que hoje chamamos de MPB, a Música Popular Brasileira.
Contudo, nos tempos atuais, a sigla está cada vez mais sumida da TV aberta, invadida por gêneros musicais de maior apelo comercial.
Pois o programa Cultura Livre, apresentado por Roberta Martinelli na TV Cultura, é exceção neste cenário. A atração, que celebra quatro anos em sua centésima edição, neste sábado (7), às 18h, virou celeiro de revelação de novos nomes da cena alternativa.
No momento em que celebra os quatro anos de conquista de tão importante espaço, Roberta conversou com o R7 nesta Entrevista do Arcanjo. Falou sobre o espaço da música na TV, de como faz o programa e do que pretende com ele.
Leia com toda a calma do mundo:
Miguel Arcanjo Prado — Qual o maior desafio de fazer o Cultura Livre?
Roberta Martinelli — Acho que o maior desafio em fazer o Cultura Livre é que muitas pessoas pensam TV ou a música com formatos e estilos antigos. É muito comum ouvir hoje a frase "não se faz mais música como antigamente" ou "antigamente tínhamos Caetano e Gil na TV", e tirar este preconceito é a missão mais dura.
Ainda se faz boa música?
Sim, ainda temos boa música. Não se faz mais música como antigamente, em formas de produção e divulgação, mas se faz diferente e muita música boa. Na televisão, nós temos artistas que fazem a música de hoje e daqui uns anos a frase será a mesma, mas substituindo Gil e Caetano por nomes atuais. Além disso, a televisão não é mais a protagonista e única mandante das mídias, e a internet coloca a TV em um novo lugar. Não adianta fazer TV ignorando o contexto em que hoje ela está inserida.
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Qual a edição nestes quatro anos que mais te marcou?
Foram muitas e escolher uma é uma missão quase impossível. Mas se for para destacar um momento de euforia plena foi o Especial de Fim de Ano 2012-2013, que foi o programa da virada da TV com a banda O Terno e 17 convidados superespeciais. Foi um momento onde todo trabalho fez sentido.
A TV brasileira já foi um espaço mais cativo para a música popular brasileira. Hoje, a MPB pouco aparece na televisão. Qual o papel de seu programa neste contexto?
O Cultura Livre mostra a música brasileira de hoje e é ao vivo no rádio e internet, e gravado para a TV. Os ouvintes internautas podem acompanhar e interferir na gravação, mandando elogios e perguntas. O Cultura Livre leva para a televisão aberta muitas bandas, muita música boa e de qualidade. Bandas que estão há um tempo na estrada, bandas que estão começando, mas que, independentemente de tempo, estão fazendo a música que acontece hoje nos espaços culturais.
Como é a repercussão do programa com os telespectadores e artistas?
O programa nestes quatro anos conquistou o carinho de espectadores e artistas. Por ser transmitido ao vivo via internet e com participação pelo chat, o ouvinte se aproxima do programa e torna-se ativo em uma relação em que até então era passivo. Com os artistas tem também uma relação próxima e tornou-se um espaço de bate-papo informal e tranquilo sobre musica. Mais do que televisão, é gente, sabe?
É verdade. Agora vamos nos divertir. Qual a situação mais engraçada que você já passou no Cultura Livre?
Já foram tantas... Já teve músico chegando sem instrumento e com um bolo de aniversário da banda. Já teve ouvinte ensinando o outro a fazer macarrão e durante a entrevista ele posta uma foto com o macarrão feito [risos].
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Como o programa nasceu?
O programa nasceu comigo e mais alguns queridos companheiros que infelizmente ficaram pouco tempo por lá e veio muito da necessidade de ter um espaço na Rádio Cultura Brasil para a nova música brasileira. Fizemos alguns pilotos e apresentamos para os chefes da rádio. Na época eu era estagiária da Rádio Cultura FM.
O que vocês estão planejando para a edição de aniversário?
O programa completa quatro anos e esta semana gravamos também o programa número 100. Para esta edição especial convidamos a banda Bixiga 70, que vai lançar em primeira mão o segundo disco deles. Maior presentão! Vamos decorar todo o estúdio para o programa e comemorar!
Qual é o principal objetivo do Cultura Livre nestes quatro anos de história?
O principal objetivo é continuar levando esta música brasileira cada vez mais rica, forte e potente para a casa das pessoas e atingir um número infinito de gente. Esta última parte é o sonho! [risos].