Como é colecionar quadrinhos fora do Brasil
Brasileiros pagam mais caro e esperam muito mais tempo para receber as hqs. Fora do país existem mais opções e periodicidade
Apuração HQ|Do R7
Quem coleciona quadrinhos, em todo Brasil, acaba refém de editoras que nem sempre organizam suas publicações. Falta comunicação com os leitores que ficam sabendo dos lançamentos por redes sociais, principalmente por outros usuários que já receberam o material em suas cidades. Se você procura uma hq mensal precisa passar diariamente na banca para saber se chegou ou não. Essa realidade é distante para quem coleciona em outros países.
Nos Estados Unidos, as publicações são semanais e você pode ter toda a certeza que vão chegar toda quarta-feira nas lojas especializadas. Thiago Ferreira comanda o canal Comix Zone, no Youtube, e mora no Canadá, o país faz parte da rede de distribuição continental, e os quadrinhos chegam simultaneamente com os Estados Unidos. Thiago explica que no Canadá as publicações são muito organizadas. "Existe um catálogo chamado Previews que detalha todos os lançamentos que estarão nas lojas nos próximos três meses, com data, tudo certinho. Você chega na quarta-feira e sabe que tal gibi estará lá, existem datas pré-estabelecidas. E no Brasil, o gibi é muito irregular, pode chegar hoje ou daqui a duas semanas. No norte e nordeste do Brasil é ainda pior", afirma Thiago.
Outra diferença gritante é a disponibilidade dos quadrinhos, que dificilmente somem das prateleiras. "No Brasil, o gibi é lançado e um mês depois ele é considerado raro, a tiragem no Brasil não é muito alta. Aqui o material está sempre sendo reimpresso, acabou a tiragem eles mandam de novo para as lojas. Então, você nunca vai encontrar material esgotado, principalmente os grandes clássicos", finaliza Thiago.
Gabriel Wajnberg também é colecionador e vive em outra província do Canadá, "Moro numa cidade bem pequena, são apenas 100 mil habitantes, numa província chamada New Brunswick, não é uma das províncias com mais dinheiro no Canadá. Por aqui não existe banca de jornal. As comics são vendidas exclusivamente em comics shops", explica Gabriel. Ela ainda conta a surpresa que foi chegar em outro país aonde existe uma variedade enorme de publicações, "No Brasil eu esperava muito para pegar os quadrinhos. Aqui você tem muito títulos, 20 da DC, 20 da Marvel e ainda têm as outras editoras como Image e Darkhorse".
Na Europa não é diferente, a França é líder do mercado e perde apenas para o Japão no número de publicações. Danilo Javarotto mora no Reino Unido, além de conseguir facilmente as publicações locais eles têm fácil acesso a quadrinhos de outros países "Você consegue importar dos Estados Unidos, Espanha, França, por um preço bem mais baixo. O frete aqui é muito barato para importar. Às vezes eu compro algo dos Estados Unidos e pago frete de uma ou duas libras", explica Danilo. Para quem não tem dinheiro para as hqs de luxo existem outras opções, Segundo Danilo. "O que tem muito aqui é que tem o encadernado e também uma versão mais barata também. Você atinge um público com mais dinheiro e um público com menos dinheiro".
Uma tendência que já acontece no Brasil e em outros lugares do mundo é o sumiço das bancas de rua, quem procura quadrinhos precisa recorrer as lojas especializadas ou lojas online. Caio Zoboli acabou de se mudar para a Espanha, na Europa, e não encontra bancas na região. "Aqui o foco dos quadrinhos é em comic shop, e existem diversas, numa cidade com apenas 3 milhões de habitantes tem mais de 10 comics só no centro da cidade, mas nas bancas quase não vendem nada". No Reino Unido não é diferente "Não existem bancas de jornal como no Brasil. O que tem aqui são livrarias e comic shop que vendem quadrinhos. As pessoas compram online ou nessas lojas especializadas", explica Danilo.
Mas no Canadá, por exemplo, você pode fazer um serviço de assinatura ou mesmo uma parceria com os donos de comic shop "Aqui eu faço a inscrição e falo o que quero receber. Passo uma lista, quero receber Batman, Homem Aranha, X-men e aí você ganha 15 por cento de desconto. E toda semana está lá separado para mim", conta Gabriel Wajnberg.
Por aqui, a variação de preços também é rotina. De um ano para o outro, quadrinhos da mesma coleção tiveram aumentos de até 40%. Recentemente a Editora Panini do Brasil emitiu uma nota explicando o aumento dos preços. O comunicado dizia que os preços praticados por ela são mais baratos comparados com os quadrinhos fora do país. Mas isso só mesmo se você fizer uma conversão simples, o que está errado. Acompanhe essa arte que explica quanto tempo um brasileiro com salário médio de R$ 2.112,00 precisa trabalhar para comprar um quadrinho. Fiz a comparação com um americano que trabalha como assistente administrativo e que recebe um salário médio por lá. Não usei o salário mínimo nessa comparação, pois pessoas com uma renda menor não fazem parte do público que coleciona quadrinhos de capa dura.
Na opinião de quem mora fora do Brasil dificilmente o mercado brasileiro vai mudar de rumo e conseguir acompanhar o ritmo do mercado no exterior.
"Nunca vai acontecer de o mercado brasileiro acompanhar o mercado norte-americano, seja em variedade, rapidez e qualidade", finaliza Thiago Ferreira.
"Se eu voltasse para o Brasil o que eu mais sentiria falta é o acesso a tudo que temos aqui", diz Danilo Javarotto.
Os textos aqui publicados não refletem necessariamente a opinião do Grupo Record.