Vou polemizar. Esse texto é um relato pessoal.
Pior que futebol na TV é futebol velho na TV. Entendo que o momento é de isolamento social, de precaução total, mas quando vi o 'Vale e Pena Ver o Jogo de Novo' tomando conta da programação da TV aberta e dos canais pagos especializados, meu desespero de confinamento domiciliar aumentou.
Me julguem. Mas uma das minhas sórdidas alegrias na quarentena era não ver minhas quartas-feiras e domingos invadidos pelo 'clássico', o 'jogão' da vez. Foram lindos domingos de sol sem gritos nem palavrões na vizinhança, muito menos no meu sofá.
Sim, moro ao lado de um estádio de futebol. E sim, vivo com um ser fanático pelo esporte. Desses que assiste final da terceira divisão, o que complica minha situação. Imagine ficar confinada com o Palmeiras perdendo? Sim, ele é Palmeirense, portanto não tem mundial (piadinha mantra).
Mas o sossego do isolamento terminou. Logo começaram a pipocar jogos 'lendários' de campeonatos no Brasil e mundiais.
O meu domingo passado teve como grande momento a final do Campeonato Paulista de 1993, com direito a criatura que atende por meu marido (e algum louco na vizinhança) comemorando (de novo) 'gols' mais velhos que a minha avó. Qual é a graça de assistir um jogo que você já sabe como vai acabar?
E ele não está sozinho.
A reexibição da vitória do Brasil em cima da Alemanha, que garantiu o penta, em 2002, empolgou a audiência da Globo, que anunciou uma nova reprise no próximo domingo (19).
Ou seja, no próximo domingo terá novamente o que chamam de 'jogo histórico'.
Fala sério! Querem história? Algo que as pessoas não esquecem? Algo que nos fez tremer, chorar, perder o fôlego? Uma partida que nos marcou para todo o sempre no mundo dos gramados?
Exibam então o 'Mineiraço', Brasil X Alemanha. Falo do lendário 7X1, disputado em 8 de julho de 2014, válida como a primeira semifinal da Copa do Mundo daquele mesmo ano. Copa essa realizada no Brasil.
Pois é. A maior derrota sofrida pela Seleção Brasileira teve arquibanca verde e amarela e a audiência de um país inteiro chorando de tristeza, de revolta e indignação.
Esse jogo sim é inesquecível. Pior que a derrota de 1950. Existe uma seleção antes e uma depois do 7x 1.
Virou referência, trauma, tese de doutorado. Todos se lembram onde estavam no dia do 7x1... Com quem estavam... Dói só de lembrar. Isso sim é entrar para História!
Sabia que esse foi um dos jogos menos reprisado na TV brasileira? É quase inédito! Deviam reprisar e fazer simultaneamente uma live com os jogadores da seleção na época, assistindo. Link especial da casa do Felipão revendo tudinho de novo. Narração do Galvão, é claro.
Aqui em casa podia rolar uma sessão premier da final da Libertadores de 2000, nos penâltis, com o Boca Juniors jantando porco a pururuca.
Close no palmeirense Argel chorando como criança e no Maradona aposentado, comemorando do outro lado. Ou então o quase 'Mundial' de 1999, em que o Manchester e um erro de arbitragem acabaram com festa verde a branca.
Pronto, já destilei toda minha verve antifutebolística de telespectadora e esposa de boleiro.
Que venham agora as reprises das reprises dos gols de Romário em 1994 ou então os melhores momentos de Tostão, Jairzinho, Gerson, Rivellino, Pelé...
Aqui em casa, o repeteco da Libertadores de 1999 já serve, com direito a menção honrosa ao querido São Marcos.