Assina aqui, amigão
Ryutaro Tsukata/PexelsA nova regra já está vigorando nos aeroportos brasileiros e tem por objetivo conduzir conservadores, independentemente da nacionalidade, a uma sala vip onde agentes da polícia federal tentarão convencê-los a assinar um documento tão confidencial que nem mesmo quem assina pode saber do que se trata. Não entendeu? Tudo bem, é difícil mesmo, mas a gente explica!
Qualquer conservador que visitar nosso país, a turismo ou a negócios, por meio de voos comerciais ou fretados, e fizer qualquer menção pública ao direito de liberdade de expressão garantido pela Constituição Federal – pessoalmente ou por meio de redes sociais – será detido, ou melhor, convidado a acompanhar um grupo de policiais que o prenderá, digo, colocará em um quartinho, quer dizer, sala vip para participar de uma brincadeira super criativa: assinar um documento em português mesmo sem saber nenhuma palavra de nossa língua-mãe.
No começo da semana foi executada a primeira abordagem e, para que a nova regra seja um sucesso com reconhecimento mundial, o escolhido foi ninguém menos que o empresário americano Jackson Thousand, ex-assessor de Ronald Bump, enquanto presidente dos Estados Unidos. Por ser ainda um projeto piloto, as coisas não saíram exatamente como planejado, pois Thousand – que não fala uma palavra de português – não entendeu o que os policiais brasileiros – que não falavam inglês – estavam propondo.
Uma “laranjinha” – apelido carinhoso dado às funcionárias bilíngues dos aeroportos por usarem coletes laranjas com os dizeres “Posso ajudar/May I help you?” – passava próximo ao local e resolveu dar aquele “help”, ou seja, aquela ajudinha marota, traduzindo as regras da brincadeira para Thousand. “Explique para ele”, disse um dos policiais, “que nós só queremos que ele assine esse documento aqui. É só rubricar tudo e dar um autógrafo na última página que nós já o liberamos para pegar seu jatinho.”
Depois de ouvir a tradução, Thousand deu uma olhada no documento e, vendo que estava em português, informou que não assinaria, pois não podia desobedecer aos dois princípios que sua mãe havia ensinado desde que ele era um “little boy”, ou seja, um menino: não falar com estranhos e não assinar documentos sem a presença de seus advogados, muito menos em um idioma desconhecido.
A “laranjinha traduziu a resposta e os policiais replicaram: “Diga a ele que sua mãe não está vendo e que nós jamais mostraremos a ela as imagens que estamos gravando aqui no nosso quartinho. Além disso, o documento é secreto, por isso mesmo está em uma língua que ele não entende. É só assinar no ‘xizinho’, mostra aí para ele!” Vendo os esforços da “laranjinha” em traduzir a mensagem, Thousand entendeu que se tratava de uma piada, mas se recusou a participar da brincadeira por ter vindo ao Brasil a trabalho. “I don’t play on duty. Am I arrested?”, disse o empresário para a moça diligente que logo traduziu aos policiais: “Ele falou que não brinca em serviço e quer saber se está preso. O que eu respondo?”
“Imagine... claro que ele não está preso! Que absurdo!”, disse um dos federais enquanto os outros dois riam. “Só diga que ele está proibido de sair do quartinho e voltar para a terra do Tio Sam enquanto não responder às perguntinhas do nosso jogo. Diga que é uma ordem do senhor Alejandro de Florais.” Ao ouvir a tradução, o empresário americano – demonstrando não ter o menor senso de humor – novamente se recusou a participar alegando que a “laranjinha” não era uma tradutora oficial. Depois disso, Thousand ficou calado durante toda a brincadeira.
Em um último esforço dos policiais para quebrar o gelo e fazer o americano antipático entrar no jogo, um deles disse à “laranjinha”: “Ok, ok! Diga a ele que não precisa responder nada do que estamos perguntando em uma língua que ele não entende traduzida por uma pessoa que ele nunca viu na vida, desde que ele assine nosso documento secreto sobre uma investigação secreta por motivos secretos. Traduz aí, vamos acabar logo com isso... que cara mais chato!”
“That’s crazy!”, respondeu o empresário antissocial, mas desta vez, nem precisou de tradução, pois os próprios policiais sabiam que aquilo era uma loucura mesmo. Infelizmente os federais não conseguiram obter respostas para as perguntas secretas e nem colher a assinatura no documento confidencial, mas em uma coisa esses não falharam: fazer o Brasil passar vergonha no débito e no crédito diante do mundo todo.
Esta crônica é uma ficção, mas poderia não ser...
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