Congelamento de preços é uma roubada
EBCQuem nasceu depois de 1986 – e não leu nenhum livro sobre a história recente do nosso país – não sabe que em 28 de fevereiro daquele ano, o então presidente Zezé Serguei anunciou um plano que, segundo ele, acabaria com a inflação de forma indolor e sem o menor sacrifício.
De novo: para quem não sabe nada da história do Brasil, nem mesmo dos últimos 35 anos, é preciso lembrar que, em 1985, a inflação foi de 224,65%. Mais assustador que o número era ver os funcionários dos supermercados com suas maquininhas em mãos remarcando os preços dos produtos duas ou três vezes ao dia. O lado bom dessa época é que ir ao mercado significava ter de correr entre as prateleiras para jogar as compras no carrinho o mais rápido possível, antes que um funcionário conseguisse remarcar. Isso fazia com que ninguém precisasse ir à academia e é preciso dizer que todos eram muito mais saudáveis.
E aí, como nossos políticos são sempre sensacionais no quesito resolver problemas complexos com soluções simplórias, eis que Zezé Serguei teve a brilhante ideia de fazer toda aquela inflação dos infernos sumir com num passe de mágica. Ele nem mesmo teve de usar uma varinha de condão, foi preciso apenas criar uma tabela.
Para desenvolver a tal “Tabela de Zezé”, um bando de homens engravatados – que nunca colocaram os pés com seus sapatos cromo alemão em um supermercado – definiram os preços de tudo e o dono de supermercado malvadão que ousasse vender mais caro seria multado, interditado e espancado pelas donas de casa que foram nomeadas “fiscais do Serguei”.
A questão é que nem Zezé e nem o pessoal do cromo alemão conheciam algo sobre história, portanto, não sabiam que ao estabelecer preço nos produtos dos outros, eles estavam inviabilizando o negócio dos outros e que esses outros parariam de produzir gerando escassez para todos. Mas como eles mesmos não produziam nada e nunca foram bons alunos de História, não tinham como saber disso, não é mesmo? Mas vamos explicar para quem ainda não entendeu:
Quando um produto precisa ser vendido a R$ 10, mas alguém diz que ele não pode passar de R$ 5, acontecem duas coisas: a primeira é que o povo fica imediatamente feliz achando que finalmente a justiça foi feita e todos poderão comprar tudo muito mais barato e, segundo, o povo fica triste assim que chega nas prateleiras e não encontra nada para comprar.
“’Ainnnn’... mas por que os empresários malvadões não podem vender por R$5?”, perguntou o pequeno gafanhoto que chegou agora na conversa. Porque se são gastos R$ 5 para produzir algo não compensa vender por R$ 5, logo, qualquer “malvadão” que tem dois neurônios vai parar de produzir por que...? Isso mesmo, porque não compensa! E ainda que o preço fosse R$ 6 ou R$ 7, se o alto risco de investir em toda produção não trouxer o lucro esperado, esse pessoal que investe, se arrisca, produz e trabalha duro para pagar os sapatos cromo alemão dos bacanas vai simplesmente desligar as máquinas. E aí, minha gente, o resultado é ter uma tabela linda para por sobre a mesa na hora das refeições, pois comida que é bom, não vai ter. Aliás, novamente é preciso dizer que o povo emagreceu bastante naquela época: correndo no mercado e comendo muito menos. A inflação não baixou, mas os números na balança ficaram uma beleza!
Quando os manifestantes pró-tabelamento souberam dessa realidade – que acontece desde a Babilônia e a Grécia Antiga e nunca deu certo – largaram suas bandeiras nas ruas (porque eles precisam sujar tudo para que os varredores não percam seus empregos) e foram para casa fingir demência. Já imaginou ficarem sem seus M&M’s, seus hambúrgueres das redes americanas de fast-food e sem seus iPhones? Nem pensar, companheiro!
Será que essa crônica é mesmo uma ficção?
Os textos aqui publicados não refletem necessariamente a opinião do Grupo Record.