Não há crise, pandemia, catástrofe natural ou realinhamento das órbitas do planeta que faça com que os altos privilégios da nobreza brasileira sejam abalados. Isso porque, no Brasil, o pessoal “lá de cima” tem uma definição diferente sobre o que é ser servidor público.
Enquanto para os pobres mortais a palavra servidor significa “que ou aquele que serve; que cumpre com rigor e zelo o que tem a fazer”, para a alta realeza do funcionalismo público brasileiro significa, em poucas palavras, “servir-se do povo”. As leis que regem o mundo paralelo da nobreza afirmam categoricamente que seus privilégios são direitos garantidos e que o direito do povo é garantir seus privilégios.
Sendo assim, enquanto o mundo aperta os cintos por conta de uma pandemia que abalou até mesmo as economias mais sólidas da Terra, nossa nobreza garantiu aumento não só de seus super salários (que em alguns casos passaram para a categoria hiper salários), mas também de seus privilégios (que já eram altos, mas passaram para a categoria magnânimos).
E como o Brasil não é apara amadores, neste ano, enquanto fervilha na internet a hashtag #VivaoSUS, mais uma mamata, ou melhor, mais uma “correção de injustiças” que vitimava nossa realeza foi feita. Agora, os privilegiados do Judiciário, nossos juízes, desembargadores e outros servidores, incluindo aposentados, pensionistas e dependentes dessas nobres castas, terão auxílio-saúde que pode chegar aos R$ 3,5 mil. Ao saber disso, o Ministério Público editou uma medida idêntica para os seus, afinal de contas, seria justo ficarem para trás?
Mas não se preocupe! Todos nós podemos continuar elevando a hashtag #VivaoSUS aos trending topics postando continuamente em nossas redes sociais, afinal de contas, estamos na terra da hipocrisia onde as pessoas dizem amar tudo o que é público, mas na hora que precisam de tudo e qualquer coisa correm para a iniciativa privada.
Portanto, caros leitores deste blog que sempre deixou claro que o melhor é não ler: acordem mais cedo, trabalhem duro e não façam corpo mole, pois cabe a vocês arcar com todas essas despesas para que a nossa realeza não passe pelos apertos que vocês já conhecem tão bem. Vocês já estão mais do que acostumados, mas eles não. Eles nunca.
Esta crônica seria mesmo uma ficção?