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Não é muito fácil fazer cinebiografias, e os diretores, geralmente, têm de tomar decisões complicadas. O que deixar de fora? O que mostrar? E, principalmente, como fazer tudo isso? O diretor Baz Luhrmann passou por esse processo em seu filme sobre Elvis Presley, que estreia nesta sexta-feira (14) no Brasil. Nesse longa, que leva o nome do cantor, junto aos episódios históricos são mostradas situações criadas pelos roteiristas, além de algumas “licenças poéticas” tomadas por Luhrmann. Veja a seguir o que é verdade e o que é inventado/adaptado pelo diretor
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Sotaque do Coronel – A história de Elvis Presley é contada pela ótica do Coronel Parker, seu empresário, que é retratado no filme como uma espécie de vilão. O personagem é interpretado por Tom Hanks, um dos melhores atores da atualidade, que aparece na tela sob muita maquiagem. Ao ver o longa, você notará que Parker fala com sotaque, o que deixa claro que ele não era americano. Andreas Cornelius van Kuijk, seu nome verdadeiro, era holandês, e, quando conheceu Elvis, já vivia nos Estados Unidos havia vários anos. Apesar de sua origem europeia, Parker não tinha nenhum tipo de sotaque. Na realidade, seu jeito de falar lembrava muito o de alguém nascido no sul dos EUA
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Elvis e B.B. King (foto) – No filme, vemos Elvis (Austin Butler) muito próximo de cantores e músicos negros do sul dos EUA. O jovem músico tem, no filme, uma proximidade muito forte com B.B. King (Kelvin Harrison Jr.), um dos mais famosos cantores de blues de todos os tempos. Essa grande amizade dos dois – que no filme passam até noitadas juntos em bares – nunca aconteceu. Os dois até se conheciam – King era da mesma gravadora que Presley (a Sun Records) –, mas nunca foram grandes amigos. Dá para afirmar que eles eram apenas conhecidos
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Elvis em show de Little Richard – Presley, antes de ser conhecido, certamente foi a muitos shows em Memphis, na famosa Beale Street, cheia de bares de blues e jazz. Nesse lugar, o cantor viu muitos shows, mas não há registros de que ele tenha assistido a uma apresentação de Little Richard (Alton Mason), um dos primeiros roqueiros dos EUA. O filme mostra Elvis não só assistindo a um show de Richard como tendo a ideia de regravar Tutti Frutti após ouvi-la no palco
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Elvis demite Coronel Parker durante um show – Ao longo de sua parceria de 22 anos, Presley e Parker tiveram algumas discussões, e chegou mesmo um momento em que o cantor disse que estava demitindo o empresário. A crise, no entanto, foi rapidamente contornada, e tudo voltou ao normal entre os dois. No cinema, vemos Elvis demitir o Coronel durante um show em Las Vegas. De cima do palco, o músico esbraveja e xinga Parker na frente do público. Isso nunca aconteceu
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Elvis e a música negra – Nos últimos anos, Elvis vem sendo acusado de apropriação da cultura negra e de roubar músicas de artistas negros. O filme aborda essa questão e acerta ao mostrar que não existe essa coisa de apropriação da cultura negra por parte do cantor. Apesar de ser branco, Elvis nasceu e viveu sua infância e adolescência em comunidades negras no sul dos Estados Unidos. Assim, ele cresceu ouvindo música negra e sendo influenciado pela cultura da região. Ele de fato conhecia e gostava de blues e jazz. Então, o filme acerta em mostrar o envolvimento de Presley com a cultura negra, apesar de omitir que ele também teve forte influência da música country
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Elvis no Exército americano – Presley, de fato, serviu o Exército americano no fim dos anos 50. O que foi algo meio estranho, porque ele já era um cantor famoso e poderia facilmente ter se livrado do serviço militar. No filme, vemos o Coronel Parker manobrando para que Elvis vá para o Exército, como uma medida para evitar que ele vá preso por conta de suas apresentações, consideradas inapropriadas pela parcela conservadora das autoridades. Presley foi militar durante dois anos, com um empurrãozinho de seu empresário, porque Parker queria mudar um pouco a imagem do artista. Muita gente acreditava que o rock'n'roll não duraria muito tempo, então o Coronel queria uma imagem mais “limpa” de seu contratado, torná-lo alguém mais próximo de outro tipo de cantor, como Frank Sinatra, por exemplo. A ida de Elvis para o Exército foi, na verdade, um grande plano de marketing criado pelo empresário para transformá-lo num símbolo americano
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Coronel não era contra a sensualidade de Elvis nos shows – O jeito de dançar de Elvis, nos anos 50, era bastante polêmico e alvo de críticas. Enquanto adolescentes adoravam, a parcela mais velha e conservadora da sociedade reclamava e pedia que ele parasse. O Coronel Parker, em sua versão cinematográfica, fica muito preocupado com essa questão e pede que o cantor baixe o tom. Isso não aconteceu na verdade. Parker não se importava nem um pouco com as performances exageradas de Elvis, pelo contrário, já que esse estilo ajudava a lotar os shows. Parker usou Elvis para pagar dívidas em cassinos – o Coronel Parker era viciado em apostas e gastava grandes quantidades de dinheiro nos cassinos de Las Vegas. Por isso, ele chegou a acumular dívidas grandes. Para acertar seus débitos, em algumas oportunidades, Parker usou a bilheteria dos shows de Elvis para ficar em dia com os hotéis onde os cassinos funcionavam. Ou seja, em certos momentos, Presley tocou de graça em Las Vegas – e ele provavelmente nunca soube disso
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Shows fora dos Estados Unidos – O filme mostra o Coronel sempre impedindo que Elvis faça shows fora do território americano. E ele realmente nunca se apresentou em outro país, com exceção de dois shows no Canadá, ainda nos anos 50. Parker sempre bloqueou possíveis apresentações na Europa, por exemplo, e citou alguns motivos para isso: segurança, estrutura não apropriada etc. O motivo disso é que o empresário era um imigrante e não tinha passaporte, o que o impossibilitava de deixar os EUA. Parker não confiava em ninguém para acompanhar Presley, e por isso sempre criava empecilhos para esse tipo de atividade de seu contratado
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Fim do relacionamento com Priscilla – O filme passa a ideia de que Priscilla Presley deixou Elvis por conta do uso excessivo de medicamentos (barbitúricos, entre eles), coisa que ela não estaria mais suportando ver. Certamente houve um pouco disso, mas a coisa não parou por aí. Presley mudou sua relação com sua mulher após o nascimento de Lisa, e Priscilla não gostou. Além disso, Elvis sempre ficava com outras mulheres quando estava em turnê. Com Elvis sempre distante e frio, Priscilla traiu o cantor com outro homem. Isso tudo levou o casal a um divórcio amigável, em 1973. Os dois permaneceram muito próximos nos anos seguintes