Todo mundo fazia questão de ser amigo do Miranda
Odair Braz Jr|Do R7
Não conheço ninguém que não gostasse do Miranda, produtor musical e jornalista que morreu subitamente na noite desta quinta (22), em São Paulo, aos 56 anos, completados neste dia 21 de março. Você deve conhecê-lo, já que foi um dos jurados da primeira versão brasileira do American Idol, no SBT. Gente finíssima, engraçado, inteligente, bonachão, irreverente. Miranda era tudo isso e muito mais. E por tudo isso todo mundo queria ser seu amigo, conversar com ele, trocar umas ideias e ouvir aquele "e aí, velhinho?", uma de suas marcas registradas.
Quando eu era moleque, lia avidamente as revistas Bizz e Set e o Miranda escrevia em ambas, ainda em sua fase jornalista. Os textos eram quase sempre divertidos e muito bons de ler. Ele escrevia de um jeito bem despojado, como se fosse uma conversa mesmo com o leitor. E dava opiniões diferentes de outros jornalistas, com uma pegada mais simples e sem enrolação. Ele gostava de tudo o que era trash, "podreira" (como sempre dizia) e aquilo, muitas vezes, me surpreendia. Porque eu também gostava desse universo, mas não conhecia muitas outras pessoas que curtissem essas coisas. Mas tinha lá o Miranda para isso. Folhando aquelas revistas, sempre ficava de olho para ver quando tinha um texto dele para ler.
Bem, depois virei jornalista e meu primeiro emprego foi como estagiário na revista General, criada por André Forastieri e Rogério de Campos, que trabalhavam na Bizz. Miranda, já meio que se despedindo do jornalismo para virar produtor musical, escrevia na General. Um belo dia ele apareceu na redação. Usava o cabelo comprido até o meio das costas. Ali, quando o conheci, ele estava já trabalhando na Banguela Records, gravadora de alguns integrantes do Titãs e que lançou bandas como Raimundos, Mundo Livre, Little Quail, entre outras. Miranda chegou com aquele jeitão despojado/engraçado cumprimentando todo mundo e jogando conversa fora, inclusive comigo, um estagiário qualquer. E falava de tudo: música, quadrinhos, cinema, reclamava de maneira bem humorada da General, dizia que a revista Herói "era uma picaretagem que não era picaretagem" e por aí afora.
Encontrei Miranda várias vezes ao longo dos anos — fazia um ótimo churrasco, gaúcho que era — e ele continuava sempre do mesmo jeito. Ficou mais famoso, participou de programas de TV, produziu bandas e artistas interessantes, mas permanecia do mesmo jeito: curtidor de prodreiras, filmes trash, quadrinhos, action figures, música e falando de tudo isso via redes sociais.
Me lembro de um texto do Miranda para a General em que ele criou o conceito do "cyberdingo", onde ele falava sobre a internet (isso em 1994 ou 1995). Ele dizia que as pessoas iriam deixar seus rastros pela web, e que daria para ver o que gostavam, por onde andavam, suas preferências e coisas assim. E foi um tiro certeiro. Hoje dá para ver exatamente tudo isso sobre quem você quiser, só vasculhando a internet. E, se você olhar as redes sociais do Miranda, vai ver suas pegadas e notar como ele era sensacional.
Um abração, velhinho.
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