Rubem Fonseca é certamente nosso maior escritor da segunda metade do século 20. Romances como O Caso Morel (1973), Agosto (1990) e A Grande Arte (1983) seriam o bastante para consagrá-lo – e as superlativas tiragens desses livros, suficientes para demarcar seu expressivo sucesso de público.
Não bastasse uma fiel legião de fãs, teve a obra reconhecida com entusiasmo pela crítica. Prova disso é o interesse febril que ainda desperta em acadêmicos de Letras e prêmios, como o cobiçado Camões (2003) e o Machado de Assis, da Academia Brasileira de Letras (2015), fora seis Jabutis.
Foram cerca de 30 livros publicados, em 77 anos de uma carreira marcada pela discrição e aversão a entrevistas e eventos públicos – o que em muito ajudou a construir uma aura ao mesmo tempo cult e pop, algo único entre seus pares. Sua influência é notável nos escritores que o sucederam – como admitiu, entre outros, Chico Buarque, quando de suas também festejadas incursões na literatura.
A marca mais perene de Fonseca, no entanto, está nos contos – secos e desconcertantes –, com destaque para os escritos no período da ditadura militar, a começar pelo antológico Feliz Ano Novo (1975), seguido de O Cobrador (1979) e os inaugurais Os Prisioneiros (1963), A Coleira do Cão (1965) e Lucia Macartney (1967).
O estilo do autor é inconfundível – e até agora inimitável, apesar das inúmeras tentativas de seguidores: frio, cortante, brutal, realista, despudorado, humano – e extremamente implacável em retratar um país que se negava a enxergar a própria violência.
Se há um desbravador deste Brasil de hoje, injusto, dividido e cruel, ele nos deixou nesta quarta-feira, 15 de abril, aos 94 anos: Rubem Fonseca.