Movimento pelo Brasil ajuda a dar visibilidade à população de rua
O BR Invisível narra histórias reais, de pessoas que vivem em situação de rua. O projeto tem a intenção de fazer a causa ser vista pela sociedade
Virtz|Ana Clara Arantes, do R7

Contar histórias é a ação principal do SP Invisível. O projeto surgiu em 2014, com o intuito de mostrar para a sociedade as pessoas em situação de rua e suas histórias. Assim, através da conscientização, essas pessoas podem ser vistas e ajudadas.
As histórias começaram a ser contadas pelo Facebook e hoje podem ser lidas em todas as redes sociais.
Além de registrar os relatos, André Soler, fundador do projeto, percebeu que era necessário mais. Por isso, o movimento também realiza ações, como a SP Sem Frio, que ocorreu recentemente. Durante o inverno, são distribuídos kits compostos por moletom, cobertor, produtos de higiene e, durante a pandemia, máscara e álcool em gel.
O movimento cresceu e se expandiu pelo Brasil. Atualmente, está em mais de 15 cidades brasileiras, dando origem ao BR Invisível, e dando voz e corpo àqueles que, muitas vezes, deixamos de olhar.
Este ano os movimentos de várias cidades que compõem o BR Invisível realizaram sua primeira ação em conjunto, o BR Sem Frio. Foram entregues 2 mil kits em oito cidades brasileiras: Atibaia, Campinas, Guarulhos, Rio Preto e São Paulo, em SP, Brasília, Rio de Janeiro e Salvador.
Invisíveis pelo Brasil
Em Brasília, o movimento surgiu pelo incômodo que Maria Baqui sentia. Ao perceber que as pessoas têm o costume de fechar os olhos para aquilo que vai além da sua realidade, em julho de 2018, ela e seu noivo, Pedro Campos, deram início ao BSB Invisível.

“A maior carência é a de afeto; ser visto”, relata Maria. Segundo ela, antes de qualquer necessidade material, as pessoas em situação de rua sentem a necessidade de inclusão.
Nas ações da capital federal, os voluntários entregam cestas básicas, roupas e até móveis. Em Brasília existem muitos barracos e a doação de móveis ajuda a compor essas casas. “Assim, conseguimos resgatar e preservar os diretos básicos dessas pessoas”, observa Maria.
No Rio de Janeiro, a desigualdade é muito evidente, relata Letícia Messias. “É importante mostrar essa desigualdade tão clara. A partir disso, a gente vê uma movimentação de pessoas compartilhando as histórias e ajudando", conta.
Para ela, o Rio Invisível é a esperança de um novo olhar e a chance de derrubar preconceitos.
Visibilidade como forma de ajuda
Foi narrando tantas vidas que muitas delas puderam sair das ruas. “Graças à visibilidade, a sociedade se moveu”, diz Pedro Quintino. Ele está à frente do projeto na cidade de Rio Preto (SP) e conta que, graças às histórias compartilhadas, e com o apoio daqueles que se comoviam, o projeto ajudou pessoas que estavam em situação a retornarem a suas casas.
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O mesmo acontece em Salvador. Mariana Sá contou ao R7 que, com as histórias, ela acredita que a sociedade passou a olhar mais para a população de rua, e com isso, aumentou o número de ajuda. “As pessoas foram mudando. Passaram a olhar a população de rua com outros olhos, e perceber que elas têm desejos, têm talentos”, opina.
O fundador do movimento em São Paulo, André Soler, explica a importância de ouvir as histórias da população de rua e da visibilidade: “A solução dos problemas sociais dos moradores de rua tem que vir a partir das pessoas que sentem essa dor. E, na maioria das vezes, isso acontece a partir do ponto de vista de alguém que não está passando por isso", afirma.
População de rua cresce a cada ano
De acordo com dados recentes do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), são quase 222 mil pessoas em situação de rua no Brasil. Desde 2012, a população nas ruas aumentou 140% e tende a crescer devido à crise ocasionada pela pandemia da covid-19.
Pesquisas recentes do instituto alertam que a propagação do novo coronavírus aumenta a vulnerabilidade de quem vive na rua e exige atuação mais intensa do poder público.

