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Documentário mostra como carne de desmatamento chega até nós

"Sob a Pata do Boi" foi premiado na França e está em exibição esta semana em São Paulo na Mostra Ecofalante de Cinema Ambiental

Cinema|Diego Junqueira, do R7

Filme mostra transformação da Amazônia em pasto
Filme mostra transformação da Amazônia em pasto Filme mostra transformação da Amazônia em pasto

"Integrar para não entregar". O lema do regime militar para a Amazônia vigora há 50 anos na região, com a ocupação do território pela destruição da mata para dar lugar a milhares de fazendas. Quem mais se beneficia dessa política até hoje é uma cadeia de negócios que começa na criação do boi sobre a floresta derrubada e termina na mesa de milhões de consumidores brasileiros e estrangeiros.

O documentário Sob a Pata do Boi, em exibição esta semana na Mostra Ecofalante de Cinema Ambiental, em São Paulo, mostra como a Amazônia está se tornando um enorme pasto, por um processo de desmatamento incentivado pelo governo brasileiro e beneficiado por longos períodos de fiscalização nula.

Atualmente, 400 mil fazendas na Amazônia abastecem 38 mil mercados espalhados pelo país. O elo da cadeia são 110 frigoríficos que ajudam a colocar o Brasil como o maior produtor de proteína animal do mundo.

Passados 50 anos, a pecuária é vista hoje como a maior ameaça à preservação da floresta. Estimativas baseadas em estudos do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) e da FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura) indicam que, em 1970, a floresta ainda tinha 4,1 milhões de km² preservados, ou 99% de sua mata nativa. No ano passado, eram 3,3 milhões de km² de floresta preservada, ou cerca de 80% da cobertura original.

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"Muitas das vezes ninguém quer derrubar por derrubar. Mas às vezes também você tem que derrubar. Como é que você vai produzir boi se você não derruba%3F"

(Carlo Iavé, prefeito de Redenção (MDB-PA), em depoimento ao documentário)

A destruição de 784 mil km² — equivalente às áreas dos Estados de Minas Gerais e Paraná — cresceu na mesma proporção do rebanho de bovinos. Hoje são 85 milhões de cabeças na região, 40% de todo o país.

O filme traz depoimentos de grandes e pequenos criadores de gado além de donos de frigoríficos, que revelam o poder de influência dos empresários sobre políticos locais e de projeção nacional — em especial os parlamentares da poderosa bancada ruralista do Congresso, que sempre tiveram os empresários do setor e os grandes frigoríficos entre seus maiores doadores de campanha.

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Frigoríficos estão na mira do MPF e do Ibama
Frigoríficos estão na mira do MPF e do Ibama Frigoríficos estão na mira do MPF e do Ibama

A floresta não é a única ameaçada por essa cadeia de negócios. A pecuária na região também está associada a crimes como o trabalho escravo e a produção ilegal dentro de terras indígenas e Unidades de Conservação.

Em 2009, quando 80% do desmatamento na Amazônia foi causado pela pecuária, o Ministério Público Federal iniciou um trabalho para fechar um acordo com os 110 frigoríficos e impedir a compra de animais criados em áreas de desmatamento recente. O objetivo dos órgãos públicos hoje é fazer com que o rebanho pare de avançar sobre a mata e se concentre nas áreas que já estão ocupadas.

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No entanto, passados nove anos, o documentário revela os atalhos encontrados pelos produtores para continuar vendendo gado criado em território embargado.

"A gente sabe que tem uma quantidade bastante significativa de carne com desmatamento%2C com trabalho escravo%2C chegando lá na ponta%2C na gôndola do supermercado%2C no varejo"

(Marcio Nappo, diretor de sustentabilidade da JBS, em entrevista ao doc)

Resultado de dois anos de investigação na Amazônia, a equipe do documentário acompanhou as ações do Ibama durante a operação Carne Fria, no ano passado, quando foram interditados 15 frigoríficos por suspeita de compra de carne ilegal.

Em entrevista para o filme, o ministro do Meio Ambiente, José Sarney Filho, faz um retrato do sistema de autoproteção política e econômica da pecuária amazônica. Um dia antes de os frigoríficos serem lacrados, Sarney Filho admite que a operação do Ibama estava em curso para “fechar, multar e responsabilizar”.

Três dias depois, no entanto, Sarney grava um vídeo em celular em tom de desculpas para acalmar os ânimos dos produtores rurais aliados.

“Amigos, minhas amigas, produtores do sul do Pará. Quero dizer a vocês, como ministro do Meio Ambiente, eu não fui avisado pelo Ibama dessa operação. Não era o momento oportuno, não era o momento adequado”.

Produzido pelo site de jornalismo ambiental O Eco e pelo Imazon (Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia), Sob a Pata do Boi tem direção de Marcio Isensee e Sá, roteiro de Juliana Tinoco e produção de Bernardo Câmara.

O filme já passou por França, Holanda, Inglaterra e Eslováquia e ainda será exibido na Hungria, durante o “International Nature Film Festival Gödöllő”.

Em sua estreia internacional em abril, na oitava edição do Festival Fredd, em Toulouse (França), o documentário recebeu o Prix One Hour, prêmio do Ministério de Cultura da França.

O filme estreou no Brasil durante a Mostra Ecofalante de Cinema Ambiental. Para quem estiver em São Paulo, haverá ainda mais uma exibição no sábado (9), às 11h30, no Centro Cultural Banco do Brasil.

No Rio de Janeiro, o documentário será exibido nesta quinta-feira (7), às 19h, no Museu do Meio Ambiente, como parte da programação da Virada Sustentável.

Assista ao trailer:

Veja abaixo o posicionamento da JBS enviado ao R7:

"A JBS esclarece que nenhum dos seus produtos ou marcas que chegam aos supermercados e ao varejo têm relação com desmatamento ou trabalho escravo, como sugere a notícia “Documentário mostra como carne de desmatamento chega até nós”, publicada na última quinta-feira (07/jun).

A matéria traz depoimento do executivo da companhia fora de contexto, assim, mesmo sem intenção, acaba induzindo o leitor a acreditar nesse fato ao afirmar que ele “admitiu” a informação durante as filmagens do documentário “Sob a pata do boi”. O diretor, que concedeu uma entrevista espontaneamente para o filme, se referia claramente a exemplos de práticas prejudiciais à toda a cadeia produtiva e que chegam ao consumidor final.

A JBS reforça que desde 2009 cumpre uma política de compra responsável de matéria-prima de acordo com critérios socioambientais que abrangem a atuação em áreas livres de desmatamento de florestas nativas, ou que não estejam ligadas à invasão de terras indígenas ou de preservação, e o uso de mão de obra regular, que não seja caracterizada como análoga ao trabalho escravo".

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