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Grupo A286 chega a quase duas décadas de batalha no rap nacional sem abandonar as convicções

Primeira formação é de 1997. Grupo vai tocar amanhã no festival Gangsta Paradise no ABC

Música|Juca Guimarães

O grupo de rap A286 vai completar 20 anos de uma carreira independente e bem sucedida, apesar de alguns percalços nessas duas décadas de batalha. Hoje eles têm um grande número de fãs e não fazem a menor questão de assinar com uma grande gravadora, se isso significar abrir mão dos princípios.

Formado no extremo sul da capital, no Grajaú, o A286 já lançou três álbuns e criou a sua própria marca de roupas, a Rap Legítimo.

Neste sábado, o grupo é uma das atrações principais do festival Gangsta Paradise, em São Bernardo do Campo, região do ABC, e na próxima semana lança o videoclipe da música "Mundo Mágico dos Anônimos", um dos clássicos do grupo que está no álbum "Prefira a Justiça Antes do Perdão". Confira a entrevista com o rapper Reinaldo A286.

R7: O grupo sempre teve a mesma formação? quem entrou e quem saiu?

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Reinaldo A286: O grupo atualmente é formado por dois integrantes, eu (Reinaldo) e Ivan. Como a maioria dos grupos, o A286 já teve diversas formações, porém o primeiro CD, chamado "Além do crime e da razão", só veio a ser lançado no mercado no ano de 2008, época em que o grupo era composto por Reinaldo, Ivan, Moyses, Paulo e Dj Carlos Bereta. Em 2009, lançamos o segundo álbum com o título “Exercito dos Excluídos” já com uma formação não muito diferente do primeiro álbum, Reinaldo, Moyses e Ivan. Em 2014 o Moyses se desligou do grupo e também seguiu sua carreira solo. Em 2015 lançamos o último disco “Prefira Justiça antes do Perdão” com a atual formação o Ivan e eu.

R7: Qual o primeiro contato de vocês com a cultura hip-hop?

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Reinaldo A286: Conheci a cultura Hip Hop através dos meus primos mais velho, que moravam no mesmo quintal que eu, na época eu tinha aproximadamente uns 7 ou 8 anos de idade, porém o contato mais forte mesmo veio aos 11 anos de idade, que é quando você começa a entender a realidade da vida e das ruas, o contato com as drogas, com as armas, com o crime, enfim, e aquilo tudo era bastante relatado nas músicas do Racionais MC's, Consciência Humana e Facção Central, daí que veio a identificação com o rap nacional e as primeiras tentativas de composições.

R7: Por que o nome é A286?

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Reinaldo A286: Desde de sempre nosso rap nacional foi visto de forma preconceituosa, rotulado por aqueles que o desconhecem como "música de bandido", "música que faz apologia ao crime" etc. Portanto A286 se refere ao artigo 286 do código penal, que significa incitar o crime publicamente. Manter o nome sinônimo do qual sempre fomos injustamente rotulados e difamados, foi uma afronta, uma ironia, por se tratar da seguinte questão: nunca escutamos alguém dizer que ouviu um rap, pegou uma revólver e foi roubar, pelo contrário, sempre ouvimos a seguinte afirmação "o rap salvou minha vida", então o nome se trata de uma ironia. Talvez nosso crime seja estudar, trabalhar e viver sem empunhar um revólver e acabar preso ou morto pela polícia como é a sina de muitos jovens esquecidos nas periferias.

R7: Qual a expectativa do grupo para a participação no festival Gangsta Paradise?

Reinaldo A286: Muito grande e muito satisfatória pois se trata do maior festival de rap nacional do Brasil, e ainda mais por saber do próprio realizador do evento, o Dj Bola 8 do grupo Realidade Cruel, que mesmo com o evento já fechado e com grandes nomes do cenário, o público estava pedindo muito o A286, e foi quando conversamos e acertamos a nossa participação. Isso é muito satisfatório e gratificante, porque você vê que seu trabalho por mais humilde que seja e com extrema carência de recursos, quando é feito com o coração, ele traz resultados. Esse último disco mesmo, "Prefira Justiça antes do Perdão" foi todo produzido por mim, dentro de casa, e ver a parada atravessando fronteiras, chegando a outros países, o teor das mensagem nas redes sociais, a quantidade de tatuagens referentes ao grupo que já somam mais de cem espalhadas por todo o Brasil, é muito gratificante. Não tem dinheiro que pague essa satisfação. Posso dizer com precisão que estamos no nosso melhor momento.

R7: Qual a história da música "O Mundo Mágico dos Anônimos" que virou videoclipe?

Reinaldo A286: Quando escrevi essa letra, relatei convívios da minha infância até os dias atuais. Contei muitas passagens vividas por mim e pessoas próximas, mas principalmente um amigo muito chegado chamado Dayvison, que formou comigo o primeiro grupo de rap. Com o passar do tempo e até devido o envolvimento dele com o crime, ele veio a sair do grupo, e foi na composição dessa letra que eu coloquei tudo que eu gostaria de falar pra ele e para toda pessoa que se encontra na vida do crime. Versos como "Seu abraço é tudo que ela (mãe) quer: sem Lacoste, Oakley na cara e Mizuno dos novos no pé"; "Se o sol te deu outro dia, faz diferente, antes que só restem flores para dar de presente", no intuito de resgatar todas essas pessoas que assim como ele, se encontram perdidas nessa vida, porém dois dias após o término da letra, o irmão dele me ligou com a notícia de que ele havia sido assassinado com dois tiros, em uma tentativa de furto, na madrugada do dia 9 de julho de 2015. A música ainda estava sem refrão, e foi no enterro dele, vendo toda aquela cena em volta do caixão que escrevi o refrão "No recanto das viúvas ouço o clamor dos órfãos, enquanto as rosas perfumam a cova dos nossos mortos. Enquanto lágrimas apagam o que restou de você, faz entender que a saudade é pior que esquecer.". Foi daí que surgiu a ideia de transformar nossa história em um videoclipe.

R7: Como foi trabalhar com o Vras na direção do videoclipe? Como foi a elaboração do roteiro?

Reinaldo A286: O Vras é um cara sem palavras, extremamente prestativo, cooperativo e experiente. Ele fez toda a direção com muita competência, foi o primeiro de muitos outros trabalhos que realizaremos juntos. O roteiro foi feito por mim, baseado na história da minha vida e de um amigo. Além do Reinaldo e do Vras, não posso esquecer de todos que apoiaram, participaram e atuaram nas cenas, não vou citar nomes porque são muitos, todos deram o melhor de si e tudo saiu conforme eu havia imaginado na hora de fazer o roteiro. Sou muito grato, pois sem a cooperação de todos não teria sido possível.

R7: O A286 faz uma carreira sólida na cena independente. É uma opção do grupo não assinar com uma gravadora para não perder a decisão no processo criativo?

Reinaldo A286: Na verdade não se trata de uma opção mas sim de uma necessidade. O mercado de trabalho é extremamente competitivo e qualitativo em todos os sentidos. Sempre acreditamos e particularmente gostamos do nosso trabalho, ficar aguardando uma aprovação de um terceiro para pôr o trabalho pra andar, nunca esteve nos planos. A ideia é sair do convencional e é uma minoria de pessoas que ao meu ver adotam essa visão. Nossas músicas não falam de baladas e festas, nossas inspirações não são rappers americanos ostentando suas mulheres e seus ouros, portanto não acreditamos que gravadoras se interessariam pelo conteúdo exposto nas letras, mas o público que vive o que vivemos, sim. Porém não está descartada o vínculo com uma gravadora com tanto que o intuito seja unir ideias, acrescentar e trabalhar bastante, caso contrário é melhor deixar como está, vamos trabalhando da nossa forma como sempre foi.

 R7: Como foi que o A286 entrou no mercado de roupas? Qual a intenção do grupo em ter uma marca?

Reinaldo A286: O mercado de roupas veio através de uma necessidade também, de início trabalhamos com algumas lojas na confecção das roupas para o primeiro e o segundo disco, porém no terceiro decidi montar uma marca (Rap Legítimo) e fazer da minha forma e dentro do meu tempo. Foi tudo um tiro no escuro e até hoje estamos trabalhando nisso, graças ao empenho e principalmente ao público fiel, que adquire nossos produtos, mesmo não sendo uma marca famosa e feito de forma completamente independente.

R7: Atualmente, quantas pessoas o A286 emprega direta ou indiretamente em todos os negócios da banda?

Reinaldo A286: Além dos integrantes do grupo, atualmente temos uma equipe de 6 pessoas. A Joelma Lopes responsável pela agenda e vendas dos artigos, a Vitória que administra o site e cuida das páginas oficiais nas redes sociais, o Allef, o Naldo e o Luciano que fazem a produção de palco nos shows. E tem o Dj Thesco.

R7: Como está a vendagem do álbum "Prefira a Justiça Antes do Perdão" que está completando um ano? Quais as estratégias de divulgação e promoção de vocês?

Reinaldo A286: Surpreendente, satisfatória e gratificante. Nessa era digital, prevíamos uma escassez na vendagem do CD físico, porém a saída foi muito boa, inclusive nos faz pensar a respeito de uma nova prensagem dos dois discos anteriores que se encontram esgotados nas lojas e são muito pedidos por lojistas, além de fãs e colecionadores que gostam de ter o disco físico, portanto é preciso continuar dando uma certa atenção nesse quesito. Quanto às estratégias de divulgação e promoções, são através das redes sociais, páginas digitais, site e rádios ligados ao movimento, porém a maior preocupação sempre foi com o processo de produção, pois acreditamos que o maior poder de divulgação é o popular "boca a boca" e que só funciona com produtos de real qualidade, por isso a preocupação vem mais no processo de produção e a repercussão se torna uma consequência.

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