No mundo dos negócios lucra mais quem tem as melhores ideias e não exatamente quem oferece os melhores produtos. E nesse quesito temos que tirar o chapéu (e muito dinheiro do bolso) para a indústria da beleza que, desde 2019, já preparava o lançamento do produto mais lucrativo de todos os tempos.
Sabendo que seria implementada em todo o planeta uma cruzada pela beleza, a indústria que mais lucra no mundo teve uma ideia incrível: criar a pílula da beleza e obrigar todas as pessoas a tomarem. Cá para nós, ninguém é obrigado a aturar feiura, não é? Vai que isso pega!
Pensando em como pôr o plano em ação, os laboratórios ficaram surpresos ao serem abordados pelo país vermelho, que ofereceu uma parceria irrecusável: ele disseminaria a feiura para, então, vender a belezura. Só faltava fechar o acordo com mais dois parceiros: a mídia – que 24 horas por dia reduziria todos os problemas do universo à feiura – e a ciência – que apresentaria a pílula da beleza como única solução para um planeta condenado. É claro que ninguém daria garantia de nada, mas com uma campanha bem-feita isso não seria necessário.
Com medo da feiura, o mundo inteiro acreditou que bastaria tomar duas doses da pílula e estaria imune à hediondez. Filas e mais filas foram feitas ao redor do globo para garantir a primeira dose de encanto imediato. Depois de receber a primeira pílula, as pessoas já davam seus depoimentos em frente às câmeras: “Já me sinto a mais linda das mulheres”, disse uma senhora de 80 anos, prioridade no recebimento do imunizante.
Depois da segunda dose, a indústria — que já estava mais poderosa do que jamais imaginou ser — queria mais dinheiro, mais poder e mais controle. Porém, para não dar muita bandeira, diria que estava trabalhando em prol de mais beleza no mundo. Logo, tiveram outra ideia: vamos implementar a terceira dose, avisando que uma quarta pode ser necessária e, melhor ainda, que tenhamos um reforço a cada 90 dias, afinal, beleza é tudo.
É claro que a feiura não foi e jamais será banida por completo, até porque sempre haverá pessoas se achando no direito de serem feias. Mas estamos mais perto do que nunca de vivermos em um mundo onde as pessoas pensarão que são lindas, mesmo não sendo, e sentir-se-ão privilegiadas em receber beleza de graça quando, na verdade, pagaram — e continuarão pagando — muito caro para não tê-la.
Esta crônica é uma ficção, mas poderia não ser...