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José Mojica não sabia que era o maior herói do cinema brasileiro

Diretor de clássicos do cinema nacional morreu nesta quarta (19), em São Paulo e deixou uma obra vasta e importantíssima

Odair Braz Jr|Do R7

Mojica como Zé do Caixão e suas unhas enormes
Mojica como Zé do Caixão e suas unhas enormes Mojica como Zé do Caixão e suas unhas enormes

Terror, humor, suspense, morte e loucura são elementos que sempre permearam a obra de José Mojica, o criador do Zé do Caixão. Ele é um caso único no cinema brasileiro, um cara que saiu fazendo seus filmes no puro instinto, sem frequentar escola de cinema, sem fazer cursos e nem nada do tipo. Era só instinto e pé na tábua.

Mojica conseguia fazer seus longas — “fitas”, como dizia — com pouquíssima grana e tinha as maneiras mais loucas para conseguir financiá-los. Fazia vaquinhas entre os atores, rifas, dava cursos e o que mais pudesse. A mesma engenhosidade era utilizada para a produção dos filmes em si, onde o diretor — que também atuava como Zé do Caixão — ultrapassava todos os limites para conseguir suas cenas inacreditáveis. Havia muitos atores e atrizes que simplesmente não aguentavam levar adiante as ideias do cineasta, tamanha era a loucura e o nível de ousadia.

A genialidade de Zé Mojica era ligada diretamente ao seu lado mambembe, improvisador e até a um certo estilo picareta do bem. Essa combinação toda nos deu filmes clássicos para o cinema nacional como Esta Noite Encarnarei no Teu Cadáver, O Estranho Mundo de Zé do Caixão, Finis Hominis, A Encarnação do Demônio, entre muitos e muitos outros em sua enorme filmografia que inclui comédias, pornôs e suspense.

Em 1999 fiz uma reportagem com Mojica para a revista SET. Por volta dessa época ele passou a ser aclamado internacionalmente, reconhecido por sua obra, então a pauta fazia total sentido. Assim, passei uma tarde inteira com ele e rodamos pelo centro de São Paulo, onde ele tinha seu escritório, estúdio e escola de atores. Era uma coisa bem louca entender seu método de trabalho, sua ligação com as pessoas que o cercavam e conhecer os lugares onde filmava. Era um eterno improviso ao lado de gente que daria uma perna ou um braço para entrar em algumas de suas produções. Muitas vezes, essas pessoas eram completamente desprovidas da capacidade de atuar, mas Zé não se importava com isso e nem nunca se importou.

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Totalmente bem humorado e divertido, nesta minha reportagem Mojica revelava tudo o que sabia fazer, mostrava suas câmeras, seus objetos cenográficos, trazia seus atores para demonstrar as técnicas que ele lhes havia ensinado e por aí foi.

Zé não tinha exatamente a noção de sua importância. Pelo menos não demonstrou isso em nenhum momento durante a minha conversa com ele. Era um sujeito que procurava fazer seu trabalho e sonhava em continuar a produzir suas “fitas”, coisa que estava cada vez mais difícil, já que arrumar dinheiro não era mais uma tarefa aparentemente simples, como acontecia nos anos 60 e 70. Na verdade, levantar dinheiro nunca foi simples para ele, mas era, digamos, mais fácil.

Mas o fato é que ele, e seu Zé do Caixão, conseguiram ficar cravados no imaginário popular. Estão para sempre instalados na cultura brasileira e na história do nosso cinema. Ele que não se engane sobre isso. Virar lenda é para poucos.

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