Na cidade de Goiânia, na região centro-oeste do país, o professor Santiago Lemos, 33 anos, decidiu usar um método diferente para ensinar os alunos cegos. Com uma impressora 3D, ele mostra uma nova forma de ver a arte e o local em que vive por meio do tato.
“Comprei a impressora 3D com o objetivo de utilizá-la como atividade de lazer” conta o professor. Em 2016, após imprimir em 3D uma cópia de Abapuru, famosa obra da pintora brasileira Tarsila do Amaral, e apresentar para um amigo cego, percebeu do que a tecnologia seria capaz. Assim, decidiu levar o projeto para a sala de aula.
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No ano de 2019, o Centro de Apoio Pedagógico para cegos de Goiânia (CAP/Cebrav), que desenvolve atividades educativas com alunos cegos, apoiou o projeto e abriu as primeiras turmas usando a ideia de Santiago.
“A Secretaria de Estado da Educação abriu a possibilidade de aplicar este projeto de impressão 3D, não pensei duas vezes e iniciei minhas pesquisas”, lembra Santiago.
A iniciativa ainda está em fase de testes e apenas quatro turmas e alguns alunos tiveram suas primeiras experiências com objetos feitos em impressora 3D. A meta para este ano é ampliar e tornar o ambiente escolar mais acessível.
“A tecnologia de impressão 3D possibilita concretizar qualquer tipo de objeto, depende do dono e da imaginação dele. Dentro da sala de aula, é uma ferramenta incrível para o ensino, ainda mais na arte, onde até para quem possui visão é de difícil o acesso. Espero que este projeto possa mostrar para os outros professores que é possível desenvolver aulas diferentes com este recurso”, afirma o professor.
O professor afirma que a importância da ideia está na falta de materiais inclusivos, principalmente pelo alto preço.
Alguns alunos de Santiago perderam a visão há mais de 10 anos e aprovaram a aulas que estimulam o toque. As mãos ajudam a reconhecer objetos, obras e locais que pareciam ter ficado no passado.
Santiago lembra que uma das reações que mais marcou o projeto foi quando os alunos receberam o busto do próprio professor feito em 3D. "Às vezes, os alunos convivem com os professores por anos e não sabem como são fisicamente. Este contato é importante, pois a maioria não tem intimidade para passar a mão no rosto do outro."
Hoje o projeto abrange quatro matérias distintas: desenvolvimento de elementos culturais goianos (estátuas e utensílios); produção de um mapa com relevo do trajeto do colégio até o centro, utilizando Google Maps; melhoria de materiais que possam auxiliar na escrita em braile, sistema de escrita tátil utilizado por pessoas cegas ou com baixa visão; modelagem de um novo modelo de punção e reglete, instrumentos usados na escrita braile; escaneamento facial de professores e alunos, para que eles possam se conhecer melhor.
“O projeto vem colhendo vários frutos, espero que os alunos tragam sugestões de materiais para este no de 2020", diz o professor.