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Análise: Estar acima da média é fazer o básico bem feito

De que adianta querer falar inglês tendo um português ruim, de que serve gastar com marketing e ter um péssimo atendimento?

Patricia Lages|Patricia Lages

A carroça e os bois: ditado popular mostra que é preciso cumprir a ordem natural das coisas
A carroça e os bois: ditado popular mostra que é preciso cumprir a ordem natural das coisas A carroça e os bois: ditado popular mostra que é preciso cumprir a ordem natural das coisas

Como já dizia o velho ditado: não se deve colocar o carro na frente dos bois. Embora o uso de veículos de tração animal seja coisa do passado, não inverter a ordem das coisas continua sendo um ensinamento sábio em qualquer época. Afinal, se por um lado pouca gente ainda usa carro de bois, por outro, não são poucos os que insistem em querer colocar as coisas em sentido contrário ao natural.

Foi assim que chegamos à ideia de que é preciso falar inglês “para abrir portas” no mundo corporativo, enquanto não se dá o menor valor ao aprendizado da Língua Portuguesa. Segundo os resultados do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa) de 2018, 50% dos estudantes brasileiros com 15 anos de idade não possuem nível básico em leitura. Diante desse fato, a habilidade da escrita obviamente não é melhor.

Uma das muitas mensagens que recebo pode ser resumida nesta: “Pode mim dá uma ajuda naonde que eu trabalho estar pedindo ingles ou espanhol você pode mim indica um curso pela internete que não seje caro Grata.” Ignoremos o fato de não haver pontuação alguma e que um terço do texto esteja errado, e nos apeguemos à questão principal: como alguém com tal nível de idioma nativo pode acreditar que seu sucesso profissional está em uma segunda língua?

Outro exemplo de que me recordo muito bem aconteceu logo após o 11 de Setembro, quando o governo do México investiu pesado em publicidade, mas por determinações legais, tornou-se necessário que brasileiros obtivessem visto para entrar no país (o que hoje em dia não é mais necessário). Enquanto anúncios circulavam com frequência na televisão, no rádio e na mídia impressa chamando as pessoas a conhecerem as belezas mexicanas, o atendimento no único local disponível no Brasil era péssimo.

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O horário se limitava a duas horas por dia – das 9h às 11h – e era feito por três funcionários mexicanos que não falavam uma palavra sequer de português. As filas imensas começavam antes das 4h da manhã, com pessoas sentadas ou deitadas nas calçadas de um dos bairros mais nobres de São Paulo, quase sempre com cobertores e garrafas térmicas.

Nas três vezes que precisei do visto (que tinha validade de apenas 90 dias), conversei com pessoas de Porto Alegre, Mato Grosso e até de Manaus, que tinham vindo a São Paulo exclusivamente para solicitar a autorização, arcando com todas as despesas que isso implica. Eram médicos que participariam de conferências, casais sonhando com a lua-de-mel em Cancun e famílias que, com medo do terrorismo, trocaram as férias na Disney pelo México. Diante do péssimo tratamento, muitos desistiam da viagem ali mesmo e saíam com uma imagem horrível de um país onde nem sequer haviam colocado os pés.

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O que vemos hoje é a promoção massiva do “over delivery”, que consiste em entregar mais do que o cliente espera. Isso é ótimo, porém, não funciona para quem ainda não consegue entregar o básico bem feito. Não adianta nada uma clínica ter os aparelhos mais tecnológicos que existem se não for limpa, não tiver funcionários qualificados e não passar credibilidade. De que serve ler muito se não houver a habilidade de interpretação de texto? Arrisca-se a perder dinheiro aquele que quer investir na bolsa sem ter uma reserva de emergência em renda fixa.

Quando o básico não é bem feito, o resultado de todos os esforços extras fica comprometido. Se todos focassem primeiro em fazer suas obrigações com excelência já seríamos um país acima da média.

Os textos aqui publicados não refletem necessariamente a opinião do Grupo Record.

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