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Análise: Não te entendo. Logo, te ofendo

Em tempos de “lacração” e “mitagem”, a verdade pouco interessa. O que importa é sair bem na foto, ridicularizando quem pensa diferente

Patricia Lages|Patrícia Lages

A mídia sempre soube que a maioria das pessoas compra o peixe pronto — mesmo que não seja recomendável para o consumo — por pura preguiça de pescar. As pessoas acreditam em qualquer argumento que pareça correto por pura preguiça de raciocinar e chegar às próprias conclusões.

Porém, hoje em dia, a impressão que se tem é que essa preguiça alcançou níveis nunca antes vistos, pois, agora, nem é preciso escrever um artigo mentiroso e cheio de palavras difíceis para causar boa impressão. Basta fazer um título sensacionalista — ainda que sem pé nem cabeça — para que as pessoas não só acreditem de primeira, mas também compartilhem e defendam ideias inconsistentes com unhas e dentes.

Com isso, o que se vê amplamente nas discussões é o uso do “argumentum ad hominem” (argumento contra a pessoa), que nada mais é do que uma falácia, uma mentira transmitida como verdade, que tenta negar a ideia atacando o autor. Em outras palavras, como as pessoas não possuem argumentos relevantes para debater ideias, a estratégia utilizada é tentar desqualificar quem pensa diferente, desviando a atenção do debate. Ou seja, se eu não te entendo, eu te ofendo e fim de papo.

Para “lacrar” ou “mitar”, muitos têm se utilizado de mentiras travestidas de verdades e, com isso, angariado um público que, voluntariamente, ajuda a disseminar essas mentiras. O que tem movido esses voluntários é o desejo de pegar uma carona na “lacração” ou na “mitagem” para parecerem que estão por dentro de todos os assuntos e sempre escolhem o lado “certo” em toda e qualquer discussão.

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Mas aqui vai um alerta: você nunca saberá, de fato, se está do lado certo se não começar a pensar por si mesmo. Se você não desenvolver a sua própria cultura, defendendo aquilo em que realmente acredita, sem se importar se suas ideias são populares ou politicamente corretas, você será apenas mais um comprador de peixe podre.

Se você não tem argumentos, não desqualifique quem tem. Se não tem o que dizer, não diga nada, afinal de contas, ninguém é obrigado a ter opinião sobre tudo. Se não tem informações consistentes, não se rebaixe à posição de pombo-correio, que entrega a mensagem direitinho, mas não sabe ler.

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Desenvolva senso crítico, não tenha preguiça de pensar e, antes de mais nada, seja fiel aos seus valores e ideias, ainda que vão contra a ditadura do politicamente correto. Aproveite enquanto ainda vivemos em um país democrático.

Patricia Lages

É jornalista internacional, tendo atuado na Argentina, Inglaterra e Israel. É autora de cinco best-sellers de finanças e empreendedorismo, palestrante e conferencista do evento “Success, the only choice” na Universidade Harvard. Apresenta quadros de economia na TV Gazeta e RecordTV e é facilitadora da RME para o programa mundial WomenWill – Cresça com o Google.

Os textos aqui publicados não refletem necessariamente a opinião do Grupo Record.

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