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É de Comer

Quando uma maçã não pode mais ser maçã

Associação de frutas secular da Suíça usa maçã como logomarca e bigtech decide entrar com pedido judicial para garantir a propriedade intelectual da imagem da fruta. 

É de comer|Camé Moraes @ehdecomer para o R7


Logo da Les Fruits Suisses é alvo de disputa judicial
Logo da Les Fruits Suisses é alvo de disputa judicial

Um ditado do século 19 afirma: "An apple a day keeps the doctor away". Traduzindo livremente quer dizer que se comermos uma maçã por dia, teremos menos problemas de saúde, procuraremos menos o médico.

Mas em pleno século 21, a maçã, apesar de saborosa, nutritiva e muito saudável virou sinônimo de dor de cabeça pra muita gente. Isso porque a Apple, bigtech que fabrica entre outras coisas os iphones, ipads e laptops tão famosos, resolveu promover uma verdadeira caçada a empresas e associações que usam a imagem de uma maçã no próprio logo. Mesmo se a associação em questão for a “inocente” "União das Frutas da Suíça". A entidade que representa agricultores, vejam só, tem 111 anos - portanto surgiu antes da empresa bilionária fundada na década de 70 por Steve Jobs e Steve Wozniak. Não tem nada a ver com o mercado tech.

O logo da Apple

Mais do que uma fruta, a maçã é também um símbolo. Daí surgiu a famosa logomarca da Apple. "O logotipo da maçã mordida", foi criado por Rob Janoff, um designer gráfico, em 1977. Ele teria sido instruído por Steve Jobs a criar um logotipo simples, que pudesse ser facilmente reconhecido e interpretado à distância.


O design foi inspirado em parte pela história de Isaac Newton e pela descoberta da gravidade com a queda de uma maçã.

A escolha da maçã como símbolo da empresa também pode ter outras interpretações, como a associação com o conhecimento/descoberta que vem da Bíblia, em referência a Adão e Eva.


Monopólio

Pois bem, e o que o pessoal da União das frutas da Suíça tem a ver com isso? Eles usam uma simpática e gorducha maçã vermelha como logomarca. O problema é que a Apple considera isso uma violação de direitos - afinal, parece que na cabeça dos executivos da bigtech, ninguém mais - além deles - pode usar uma maçã como elemento de marca. Nem mesmo os pomares do país europeu.


Plantação de maçã na Suíça
Plantação de maçã na Suíça

Segundo a União das frutas, a maçã é a fruta favorita dos Suíços. Cada habitante por lá consome mais de 16 quilos por ano. Atualização: a entidade Suíça respondeu algumas das perguntas eviadas por esse blog, via email. Informou que a ação judicial foi movida pela Apple não é contra uma empresa ou entidade específica - e sim contra o direito geral de usar a maçã como marca (sendo assim, a União é diretamente afetada). Disse ainda que o Instituto de Propriedade Intelectual da Suíça negou no ano passado que a exclusividade do uso da imagem da maçã seja de uma só empresa, como queria a bigtech. Em abril desse ano, a Apple recorreu a um tribunal local e agora a decisão final deve sair em alguns meses: "Nós esperamos que o tribunal confirmará que o direito de usar a maçã como logo/imagem é um direito comum de todos", declarou Jimmu Mariéthoz, diretor da União, a este blog (Atualizado:13h15).

No Brasil, ela é a terceira fruta mais consumida. Por aqui, temos cerca de 33 mil hectares de pomares de maçã, uma produção anual próxima a 1,35 milhões de toneladas, com geração de R$ 6 bilhões em riquezas para o País e mais de 150 mil empregos diretos e indiretos.

Segundo a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), o Brasil está entre os 12 maiores produtores de maçã do mundo. Aqui, a associação dos produtores de maçã, ABPM, obviamente também usa a fruta na marca. Entrei em contato para saber se houve algum tipo de acionamento judicial. A ABPM informou que não houve nada do tipo no Brasil ainda e que a marca está registrada há muitos anos. O diretor executivo, Moisés Lopes de Albuquerque afirmou que " Nossa posição é de estranheza com tal atitude da empresa de tecnologia. Primeiro, porque não somos concorrentes. Muito pelo contrário, somos consumidores dos produtos da empresa, e suponho que boa parte dos colaboradores da mesma consumam maçãs frescas e derivados. Mas, o suprassumo da estranheza em meu ponto de vista seria o fato de que aqueles que cultivam e fornecem à sociedade o nobre alimento alimento maçã serem impedidos de utilizarem a estilização da fruta em seus logos por uma empresa que não a fornece." (Atualizado:13h15)

Mas cá entre nós, caro leitor... Assim como o Moisés e o Jimmy, penso que o direito de usar a imagem de uma maçã em um logo não deveria ser questionado, ainda mais quando se trata de uma associação agrícola. É como se questionássemos o direito de uma maçã ser uma maçã.

Segundo a revista Wired, onde a notícia do processo foi publicada pela primeira vez, a Organização Mundial de Propriedade Intelectual tem registros de que a Apple fez solicitações semelhantes a dezenas de autoridades de propriedade intelectual em todo o mundo, com graus variados de sucesso.

Se a moda chegar aqui no Brasil...

Procurada, a assessoria de imprensa da Apple disse a esse blog que não vai comentar o caso.

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Os textos aqui publicados não refletem necessariamente a opinião do Grupo Record.

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