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'Pobres Criaturas' é muito mais do que um Frankenstein feminino

Filme, indicado a 11 Oscars, chamou atenção pelo seu visual deslumbrante e atuações fantásticas

Cine R7|Julia Pujar*


Emma Stone em cena de 'Pobres Criaturas'
Emma Stone em cena de 'Pobres Criaturas' Divulgação

Pobres Criaturas chegou aos cinemas brasileiro em 1° de fevereiro, quase um mês após sua estreia nos Estados Unidos. Com as 11 indicações ao Oscar, todos os olhares se voltaram para a intrigante produção, levantando a pergunta: o que de tão interessante tem esse filme?

A história acompanha Bella Baxter (Emma Stone), uma jovem trazida de volta à vida pelo cientista Dr. Godwin Baxter (Willem Dafoe). Com o corpo de mulher, mas a mente de uma criança, Bella foge com o advogado Duncan Wedderburn (Mark Ruffalo) para conhecer o mundo — e a si mesma.

Desde os primeiros trailers, duas coisas no filme dirigido por Yorgos Lanthimos chamaram a atenção: a semelhança com Frankenstein e a sua escancarada abordagem sexual.

Em relação à história do monstro, a analogia está entre ambos protagonistas serem experimentos de cientistas que queriam “brincar de Deus”. Porém, partir desse ponto definir o filme como sendo um “Frankenstein feminino” é ficar apenas em sua superfície.

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O brilhante roteiro de Pobres Criaturas, adaptado por Tony McNamara a partir do livro de mesmo nome, tem muitas camadas. Os acontecimentos tendem ao absurdo e geram um humor que, na maioria das vezes, poderia ser descrito como um “riso com culpa”. Porém, o longa encontra o seu charme no drama, que comove e provoca reflexão.

À medida que Bella cresce, o filme torna-se mais grandioso. Chega a ser angustiante acompanhar a inocência e total falta de tato da personagem em determinadas situações, mas é igualmente recompensador assisti-la ganhando consciência e, mais importante ainda, sabendo usá-la.

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De maneira inteligente, o roteiro não revela suas intenções, deixando aberto ao público interpretar: se quiser enxergar apenas como uma sátira cômica, há material, se quiser adentrar nas questões morais, irá embarcar em uma profunda jornada. Mas, se optar por ficar apenas no segundo ponto de destaque — a conotação sexual — estará cometendo um grande erro.

A abordagem sexual do filme é a melhor maneira de medir a evolução de Bella. Ela, que diz a todo o momento ser uma exploradora, usa as relações sexuais como seu objeto de estudo. É por meio delas que a personagem passa de uma visão fantabulesca para realista do mundo, e a partir do momento que entende sua finalidade e o controle — ou falta de — que tem sobre elas, Bella consegue encontrar o seu lugar naquela sociedade tão confusa, ou melhor, descobre como manipulá-la.

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Apesar dos méritos do roteiro, quem é a maior merecedora dos créditos da experiência inebriante de Pobres Criaturas é Emma Stone. É inacreditável como a atriz consegue transacionar pelas fases de Bella, passando de uma incrível interpretação infantilizada e inocente a uma madura de uma forma tão natural que é impossível acreditar que as cenas tenham sido gravadas fora de ordem (como é normal no cinema).

Mark Ruffalo e Willem Dafoe também merecem destaque. O Duncan Wedderburn de Ruffalo é desprezível, ao mesmo tempo que cativante, e carrega boa parte da sátira do filme. Em geral, é mais uma brilhante interpretação do excelente ator, que consegue se igualar a Emma Stone sem roubar seu protagonismo.

Já o Dr. God de Dafoe é mais silencioso e intrigante. O personagem talvez seja o mais complexo da trama, e é graças a sutileza e intensidade que o ator passa que faz com que o pouco destaque que recebe seja o suficiente para transpassar sua história e sentimentos e cativar o público.

Todos os elementos já muito bem construídos são embalados por um cenário completamente desnorteante, usado de maneira excepcional para ditar o tom fantástico do filme, em conjunto com seu figurino longe do convencional e maquiagem impecáveis.

Por fim, respondendo à pergunta inicial, tudo que Pobres Criaturas se propõe a fazer o torna um filme interessante e único. O excelente longa merece toda a atenção recebida e um olhar mais aprofundado do que apenas um “Frankenstein feminino”.

*Sob supervisão de Lello Lopes

Os textos aqui publicados não refletem necessariamente a opinião do Grupo Record.

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