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Ignorância gera mais confiança do que conhecimento

Como um assaltante de banco incrivelmente estúpido deu origem a estudos sobre superestima das próprias habilidades

Patricia Lages|Patricia LagesOpens in new window

Autoestima Efeito Dunning-Kuger: incompetentes se acham acima da média

Após praticar alguns roubos sem jamais ter sido pego pela polícia, o americano McArthur Wheeler sentiu-se confiante o suficiente para elevar seus crimes a outro patamar: ele assaltaria não apenas um, mas dois grandes bancos, em Pittsburgh, Pensilvânia, Estados Unidos.

Mas a confiança do criminoso não estava apoiada apenas na impunidade, e sim na teoria absurda de que suco de limão o tornaria invisível para as câmeras de segurança. Por ter sido utilizado no passado como uma espécie de tinta invisível em cartas confidenciais, Wheeler decidiu passar limão no rosto e fotografar a si mesmo com uma câmera Polaroid. Apesar da queimadura na pele e da irritação nos olhos durante o experimento, o bandido se achou um gênio, pois sua imagem realmente não foi registrada pela câmera, seja por algum defeito no filme, pelo excesso de proximidade do flash ou por azar mesmo.

E como a ignorância gera confiança com mais frequência do que o conhecimento, Wheller conseguiu facilmente convencer seu comparsa, Clifton Earl Johnson, a participar dos assaltos sem nem mesmo usar máscaras ou qualquer disfarce. Em 6 de janeiro de 1995, ambos entraram de cara lavada (com suco de limão!) em dois bancos na área de Greater Pittsburgh e acabaram presos poucos dias depois.

Por mais inusitado que o caso seja, o que mais chamou a atenção foi a surpresa de Wheeler ao saber que a polícia o identificou pelas imagens das câmeras de segurança. “Mas eu passei limão em mim mesmo! Eu passei limão em mim mesmo!”, repetia incrédulo.

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A ignorância pode ser invisível para quem a possui

A história fez com que dois psicólogos, David Dunning e Justin Kruger, se dispusessem a estudar o que leva pessoas a superestimarem suas habilidades de tal forma a não perceberem a própria ignorância. Os resultados dos diversos testes práticos desenvolvidos pelos estudiosos apontaram que os indivíduos que demonstraram maior confiança em seus conhecimentos foram os que tiveram os piores desempenhos. Os especialistas também constataram que as pessoas que obtiveram melhores resultados apresentavam menos autoconfiança.

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A conclusão dos estudos deu origem ao Efeito Dunning-Kruger, que pode ser definido como um viés cognitivo em que pessoas incompetentes tendem a supervalorizar suas poucas habilidades, enquanto as altamente competentes subestimam suas capacidades.

Ainda que a história dos assaltantes e que as pesquisas sobre esse tipo de comportamento sejam novidades para você, a vivência de situações similares, principalmente nas redes sociais, com certeza não é.

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Quantas vezes você já se deparou com críticas ou comentários altamente simplistas sobre temas complexos, feitos por pessoas totalmente leigas, mas que acreditam ter pleno conhecimento do que estão falando? Vacinação, astronomia, leis, ciência, política externa e tantos assuntos profundos são reduzidos a meros bate-bocas de superficialidade chocante entre pessoas que creem piamente em teses estúpidas, mas que as fazem sentirem-se verdadeiros experts da noite para o dia.

Há casos, inclusive, em que essa autoconfiança aliada à cegueira sobre as próprias limitações intelectuais atinge proporções tão grandes que amizades, vínculos familiares e até casamentos são desfeitos.

“Talvez na mais cruel ironia, o que as pessoas tendem a ignorar é a extensão da sua própria ignorância: onde começa, onde termina e todo o espaço que ocupa no meio”, afirmou David Dunning.

Nossa ignorância pode até ser invisível aos nossos próprios olhos, mas sempre estará estampada no comportamento de cada um de nós, por mais difícil que seja de engolir.

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