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Stan Lee criou os heróis Marvel ou roubou ideias? Biografia investiga a trajetória da lenda das HQs

Carreira e vida do criador de inúmeros super-heróis são cheias de polêmicas e fatos inusitados

Odair Braz Jr|Do R7 e Odair Braz Jr


Stan Lee em sua versão quadrinhos
Stan Lee em sua versão quadrinhos Divulgação

Quem é que não conhece Stan Lee? Certamente um dos maiores nomes dos quadrinhos em todos os tempos, até quem nunca leu um gibi na vida sabe que ele foi, durante décadas, a cara da Marvel Comics. Foi também o criador do Homem-Aranha, Quarteto Fantástico, Homem de Ferro, Demolidor, Hulk, Thor, entre tantos outros.

Quer dizer, será que foi ele quem fez tudo isso mesmo?

Bom, em linhas gerais, para o grande público, é meio que isso aí. O velho Stan, que morreu em 12 de novembro de 2018, aos 95 anos de idade, é a grande mente por trás dos principais personagens da Marvel. Muita gente, inclusive, acha até hoje que Lee foi o fundador e dono da editora, o que não é verdade.

E a HQ Prazer, Stan – A Briografia em Quadrinhos do Lendário Stan Lee (tradução de Érico Assis), do quadrinista Tom Scioli, que a Conrad Editora acaba de lançar no Brasil, procura jogar luz sobre quem foi aquele norte-americano nascido em Nova York, em 1922, sobre sua trajetória única, sobre seu trabalho e personalidade.

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Já saíram outras biografias a respeito de Stan Lee — teve até uma autobriografia e uma outra, brasileira — e de sua vida e carreira. Em geral, todas buscaram mostrar a importância do biografado e revelar detalhes dos seus anos trabalhando no mundo das HQs. Em Prazer, Stan isso também acontece, mas de um jeito um pouco diferente.

O livro coloca em destaque em suas páginas uma discussão que parece não ter fim, que é o fato de Lee ser mesmo o grande criador do que conhecemos hoje como Universo Marvel ou se ele se valeu da genialidade de outros artistas — como Jack Kirby e Steve Ditko — e meio que roubou parte dos créditos para si.

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É uma discussão superválida e este enrosco todo já gerou muita briga no passado, inclusive com ações judiciais e troca de farpas públicas.

REVOLUÇÃO

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Prazer, Stan traz todos os fatos importantes da vida de seu biografado. Então, vemos o garotinho inquieto que adorava ler e que começou a trabalhar ainda muito cedo, já que era de uma família judia pobre. Entrou e saiu de vários empregos e, aos 17 anos, foi parar na Timely — que anos mais tarde viria a ser a Marvel —, editora do primo de sua mãe que publicava várias revistas, entre elas quadrinhos. No início, era um faz-tudo e, aos poucos, começou a escrever um roteirozinho aqui, outro ali. Algum tempo depois, nos anos 50, já atuava na produção de HQs e, numa dança de cadeiras, seu primo Martin Goodman o colocou como editor interino.

Lee passou a ditar um ritmo diferente de produção, foi criando revistas, alguns personagens (ainda nada de super-heróis) e estabelecendo seu estilo de trabalho. O autor da biografia mostra que, em determinados momentos, o jovem editor tinha lampejos de genialidade ao mesmo tempo em que era meio carrasco com seus comandados. Vemos que os desenhistas, Jack Kirby incluso, sofriam alguns abusos em suas mãos. A HQ chega a colocar Stan como um vilãozinho mesmo em algumas passagens.

Capa da biografia de Stan Lee
Capa da biografia de Stan Lee Divulgação

Mais do que isso, o autor procura mostrar que os vários super-heróis que foram surgindo no início dos anos 1960 — Quarteto Fantástico, Homem de Ferro, Hulk, Thor, Homem-Aranha, Vingadores — eram uma criação conjunta. Há casos em que Lee dá o pontapé inicial, mas tem sua ideia melhorada através de discussões com os desenhistas, em especial Kirby e Ditko.

Temos também a oportunidade de ver o surgimento do “método Marvel” de criação de histórias. Basicamente é o seguinte: Stan criava uma sinopse da história, dava uma ideia geral e os artistas desenhavam todas as páginas, sem texto nenhum. Criavam as situações a partir do que achavam que tinha de ser feito. Depois de prontas, Lee colocava os diálogos e a história propriamente dita.

Este estilo de criar histórias, mostra o autor, deixa muitas dúvidas sobre quem é que realmente criou aquelas HQs. Não teria o desenhista pego uma ideia embrionária e criado um roteiro em cima do que Lee havia feito inicialmente? Não teria o artista desenvolvido a história, com Stan apenas colocando uns diálogos? O desenhista desenvolveu algo sensacional que extrapolou o que Lee havia pensado? São muitas perguntas.

E é por isso tudo que se discutiu — e ainda se discute — se Stan Lee é mesmo o grande responsável pelos principais heróis e histórias da Marvel. É um tema que foi alvo de disputa até os últimos dias de Lee. Tudo porque por muito tempo Stan não fazia mesmo muita questão de dividir os créditos. Além disso, ele virou a cara da editora para o mundo. Aparecia na TV, rádio, dava entrevistas e fazia palestras. Ele, na prática, era a Marvel Comics em carne e osso e, por isso, o público o via como o dono da Marvel, o grande criador etc.

O livro não quer demonizar Lee, mas sim colocar em perspectiva suas criações e seu, principalmente, o crédito que lhe cabe. Scioli deixa tudo em aberto, para que você forme sua opinião. A partir de sua leitura, é possível compreender a importância de Stan, além de ver tudo o que ele fez de mais relevante e também o que deu absolutamente errado.

Aliás, a questão dos créditos foi pacificada há alguns anos, com a Marvel, tanto nos quadrinhos quanto no cinema, sempre deixando claro que determinado personagem é criação de "Stan Lee e Steve Ditko" ou "Stan Lee e Jack Kirby". Assim, se havia alguma dúvida, oficialmente já não há mais.

Prazer, Stan nos mostra que o homem foi sim um gênio, um sujeito acima da média, um marqueteiro nato, um cara espertíssimo e cheio de ótimas ideias, mas que também teve suas falhas, seus desvios de rota e até fez umas falcatruas pelo meio do caminho.

Mas, apesar de às vezes mostrar Lee como meio que vilão, fica absolutamente claro que a indústria dos quadrinhos, sem ele, seria completamente diferente do que é hoje. É inegável que Stan foi um revolucionário em sua área de atuação e que tem inúmeros méritos.

Não se pode ter nenhuma dúvida sobre isso.

Os textos aqui publicados não refletem necessariamente a opinião do Grupo Record.

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