Idosa une o trabalho e a arte ao dar um novo significado para joias e pedras preciosas
Para manter a mente ativa e o contato com pessoas, a aposentada se tornou ourives, uma das profissões mais antigas do mundo
Virtz|Alex Gonçalves, do R7*
Aos 71 anos, uma ex-gerente de joalheria decidiu transformar o trabalho de 25 anos em arte, ao ressignificar joias, como ourives. A aposentada, que pediu para não ser identificada, conta que sempre foi apaixonada por pedras preciosas, principalmente as brasileiras. "São mais de duas décadas que trabalho neste ramo. Quando me aposentei não queria parar de trabalhar, pois precisava manter a mente ativa, o trabalho manual e o contato com pessoas", explica.
Com o tempo, a aposentada percebeu que não se tratava apenas de peças valiosas, mas que existia um valor sentimental por de trás delas. "Muitas vezes recebo peças que detém de um enorme sentimento afetivo, como no caso de uma filha que guarda uma joia da mãe, já falecida. Saber que de alguma forma posso fazer esse resgate afetivo por um trabalho artesanal e personalizado me deixa muito feliz e grata", diz.
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O ourives é o profissional que faz as peças desenhadas pelo designer de joias. Diferente do joalheiro, que desenvolve, conserta e comercializa as peças. A ourivesaria é a arte de trabalhar com metais preciosos, na fabricação de joias e enfeites. O processo de trabalho se dá com a fundição dos metais (ouro e prata), que no estado líquido se cria um formato até a sua solidificação e transformação de um 'novo produto'.
Determinada, a senhora decidiu ampliar o seu trabalho, criou a Spice Joias & Design e se lançou no mundo digital, com a ajuda de uma sobrinha. "Juntas realizamos a curadoria de joias em ouro 18 quilates e pedras naturais", complementa a aposentada.
Segundo os dados do IBGM (Instituto Brasileiro de Gemas e Metais Preciosos), em 2021 o mercado brasileiro de joias teve uma alta de 20% no faturamento. Já os estados de São Paulo, Rio Grande do Sul e Minas Gerais foram os que mais exportaram joias no ano passado, segundo a plataforma ComexVis, do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços.
Um olhar para o futuro
Carla Machado, 45 anos, é advogada e Andrezza Rodrigues, 27 anos, ex-estudante de odontologia. O que elas têm em comum? Querem se tornar ourives.
"Minha mãe vendia joias, mas em 2020 ela faleceu. Com isso precisei terceirizar alguns dos serviços feitos por ela. Com a pandemia de Covid-19 tive um despertar e fui em busca de qualificação até encontrar uma escola que me ensinasse o trabalho do ourives", explica Carla. Ela que descobriu a paixão pela área de restauração no curso. "Percebi que tem muita demanda no mercado de pessoas que querem trazer um novo significado em joias, mas ainda existem poucos profissionais habilitados", conta.
Segundo Andrezza, são muitas as possibilidades de restaurar uma joia. "O brinco pode se tornar um pingente ou um anel, por exemplo", complementa. A jovem iniciou os estudos ainda durante a pandemia. "Estava muito insatisfeita com a graduação e queria tentar algo novo, diferente. E fui buscando pela internet até que encontrei sobre a ourivesaria e me identifiquei", recorda.
Livi Pires, diretora e fundadora da EBJ (Escola Brasileira de Joalheria), localizada em Ipanema, bairro da zona sul do Rio de Janeiro, explica que o ourives é uma das profissões mais antigas da história da humanidade. "É um ramo muito importante para a sociedade como um negócio da área econômica", diz.
Para Livi, ainda é preciso tirar os preconceitos que envolvem a profissão, muitas vezes vista como algo que não exige formação específica. "Aqui no Brasil a profissão se passa no contexto familiar de pai para filho, conforme as gerações. Diferente de outros países que possuem uma formação clássica com escolas específicas neste ramo, como na França e Portugal", explica.
No mês passado a instituição participou da Semana de Joias de Milão, na Itália. Onze estudantes foram escolhidos e viajaram para o país europeu para expor as peças confeccionadas por eles na feira.
*Estagiário do R7 sob supervisão de Karla Dunder