Falta de perdão pode ser causa de doenças físicas
Estudo revela que quem tem mais dificuldade de perdoar apresenta histórico de problemas cardiovasculares
Depois de ouvir muitos pacientes queixando-se de sentir “dor no coração” ao lembrarem de assuntos que os magoaram, a psicóloga Susana Avezum, com 40 anos de experiência na área, resolveu ir a fundo em uma pesquisa que associava a capacidade de perdoar às doenças cardiovasculares.
De 2016 a 2018, Avezum analisou os perfis de 130 pacientes – metade sem problemas cardíacos e metade que sofreu infarto do miocárdio – e percebeu que sua intuição estava correta. O resultado do estudo foi apresentado no 40º Congresso da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo, em 2019, e revelou que os pacientes com mais dificuldade de perdoar apresentavam histórico de problemas cardiovasculares.
A pesquisa também apontou que 31% dos pacientes infartados relatavam uma perda significativa de fé, enquanto entre os saudáveis, o índice foi de apenas 9%. “Lembranças ruins provocam estresse e isso prejudica nosso corpo. Ruminar os acontecimentos antigos faz com que eles se tornem presentes e, todas as vezes que você relembra, sente tudo de novo. O efeito prolongado disso vai bombardeando o organismo com substâncias que podem prejudicar a saúde ao longo do tempo”, conclui a psicóloga.
Érica Belon, pós-graduada em Neurociência e Comportamento concorda com a conclusão, pois para a mente humana não existe passado e futuro, tudo é processado como hoje. “Se você contar uma história [triste] que aconteceu há dez anos, você chora e se emociona, porque para o cérebro está acontecendo agora”, declara.
Tomando veneno esperando que o outro morra
Em relação à mágoa, a neurocientista explica: “Você brigou com uma pessoa vinte anos atrás, ao encontrá-la, automaticamente o seu cérebro vai buscar informações se há alguma história com aquela pessoa. Ao ‘abrir a gaveta’ e ver que aquela pessoa lhe traiu, a sua mente resgata esse sentimento e o transforma em emoção. Se o sentimento é de tristeza, a emoção será o choro, se é raiva, a emoção é bater, gritar. Tudo isso é processado fisiologicamente usando alguns hormônios, cortisol, adrenalina e noradrenalina, que viram uma ‘bomba’ dentro do seu corpo.”
Belon também destaca que, ao não perdoar quem lhe ofendeu, a pessoa magoada fica revivendo repetidamente esse ciclo, alimentando o que classifica como “célula de veneno” ou “caldinho de câncer”.
Geralmente, a dificuldade de perdoar vem do pensamento de que esquecer a ofensa significa permitir que o outro saia ileso do mal que causou. Porém, a consequência – tanto física quanto psicológica – é totalmente oposta, pois seria equivalente a tomar uma dose de veneno todos os dias esperando que o outro morra.
Os efeitos da mágoa a longo prazo
Para Pedro Graziosi, médico cardiologista, a relação de mágoas e sentimentos negativos como nosso estado mental e físico é, muitas vezes, direta. “Existem reações que independem de nossa vontade a situações de estresse agudo, como um assalto ou uma discussão, em que a pressão arterial se eleva, a frequência cardíaca aumenta e podem ocorrer palidez e sudorese”, explica.
No artigo “Perdoar é preciso”, publicado no portal do Hospital Oswaldo Cruz, Graziosi reforça que, embora o perfil psicológico possa ser um fator de risco para doenças cardiovasculares, elas também podem estar conectadas a algum transtorno emocional. “Observo no consultório que muitas das queixas que geram suspeitas de doenças cardiológicas são de cunho puramente psicológico – ou são exacerbadas pelo perfil emocional do paciente”, completa.
Perdoar é uma decisão racional
Para o cardiologista americano David Fischman, as pessoas que decidem odiar em vez de perdoar, o fazem por sentir que estão no controle da situação e que isso é uma demonstração de força. Mas ao contrário disso, o perdão exige muito mais força, pois trata-se de enfrentar sua dor mais profunda.
Assim como odiar é uma decisão baseada no que o outro fez, perdoar também é uma decisão, porém, baseada em uma escolha inteligente de quem não quer arrastar o peso de um sofrimento passado por todo seu futuro.
Em uma matéria para o site de psicologia A Mente é Maravilhosa, a filóloga espanhola Raquel Lemos Rodríguez destaca que “quando perdoamos, o fazemos em função do que o outro fez, isto é, não é uma justificativa das suas atitudes. O fato de perdoar a outra pessoa tem muito mais a ver com a sua resposta do que com o que o outro fez”. Ou seja, perdoar é estar no controle da situação e não o contrário. “Quando você perdoa, apesar de não esquecer, sente uma paz interior que o liberta e o faz sentir-se bem. Não há espaço para o rancor, nem para o ódio. Tudo está em equilíbrio”, afirma Rodríguez e completa: “A vida se torna muito mais fácil quando você aceita as desculpas que nunca chegaram.”
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