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Ator que interpreta Cazuza em musical diz que se ele estivesse vivo, estaria "protestando contra a Copa"  

Emílio Dantas dá vida ao cantor e compositor no palco em Pro Dia Nascer Feliz 

Música|Juliana Zorzato, Do R7

Emílio Dantas (à esquerda na foto ) interpreta Cazuza no musical Pro Dia Nascer Feliz
Emílio Dantas (à esquerda na foto ) interpreta Cazuza no musical Pro Dia Nascer Feliz

Se estivesse vivo, Cazuza teria hoje 56 anos. Nascido em abril de 1958, o cantor teve uma carreira musical curta, de apenas 9 anos, mas que lhe rendeu milhares de fãs. Rebelde e com estilo de vida libertário, contou para o Brasil inteiro que era soropositivo. Desde então, passou a escrever sobre assuntos mais sérios e a tentar ser mais "útil" para a sua geração.

Nesta segunda-feira, 24 anos após a sua morte, há quem diga que o cantor continuaria jovem. "Estaria provavelmente nas ruas, protestando contra a Copa". Quem diz isso é Emílio Dantas, ator que interpreta Cazuza no musical Pro Dia Nascer Feliz que estreia em São Paulo no próximo dia 18.

Emílio falou ao R7 sobre um Cazuza nada diferente dos jovens de hoje. "Todo mundo tem um pouco de Cazuza, porque ele era um cara normal, um gênio no que fazia. Mas um filhinho de papai e com atitudes rebeldes".

No dia 7 de julho de 1990, dia em que Cazuza morreu, aos 32 anos, Emílio ainda não sabia disso. Ele só viria a se aprofundar na obra do cantor anos depois, para subir ao palco. Foi com o musical que descobriu que Cazuza sabia usar palavras simples para falar sobre o amor ou realidade, principalmente quando descobriu a doença.


No final, com um amadurecimento forçado, Emílio enxerga a figura de Cazuza muito mais humanizada, "mostrando a sua cara". Igualzinha na canção Brasil, a preferida do ator. 

R7 — Tem como imaginar como Cazuza seria hoje, com 56?


Emílio Dantas — Eu acredito que ele seria um cara de vanguarda, ele estaria nas ruas, provavelmente contra a Copa, pensando com uma cabeça ainda jovem.

Como você tem sido recebido pelo público, pelos fãs do Cazuza?


Quando a gente estreou no Rio, era como se tivesse "jogando em casa", porque ele era do Rio. Muitas pessoas que foram assistir tinham um contato um pouco maior com ele e o consideravam uma figura emblemática. Foi uma coisa bem calorosa e teve a presença de gente que conheceu o Cazuza, que falou sobre a vida, de como ele era na noite do Rio. Rodando o Brasil, teve plateia de todos os tipos, que cantava junto, teve plateia silenciosa, concentrada, mas o público sempre, invariavelmente, embarca ou pela história da vida do Cazuza ou pela grandiosidade da obra dele.

O que você recebeu de instrução do diretor João Fonseca? Você se considera o Cazuza no palco? 

Quando eu fui fazer um teste, eu pesei pela a vibe do Cazuza, eu jamais tive a pretensão de ser ou de entrar nessa "paranoia" de ser o que eu estava representando ali. Quando você fala de um filme, é mais realístico. NO meu caso e o dos atores do musical, não tem essa "de ser" as pessoas. O nosso universo é muito mais musical. É lúdico.

Como foi a sua preparação?

Eu li os livros, conversei com as pessoas próximas, com a mãe dele, a Lucinha, Leo Jaime, o Serginho que namorou o Cazuza, o Guto Goffi (baterista do Barão Vermelho).

Você tinha uma banda? Qual era o estilo? Era fã do Cazuza, do Barão Vermelho?

A banda era de rock, mas quando eu comecei a descobrir o rock brasileiro, eu ouvia mais o rural, Raul Seixas. Não ouvia Cazuza. O momento rock anos 80 eu meio que dei uma pulada. Do rock pop, só agora que eu realmente fui me aprofundar na obra do Cazuza. Mas todo mundo conhece e sabe cantar pelo menos um trecho de uma música dele. Eu era um deles, sabia cantar algumas músicas, os sucessos. Agora, a obra em si, não conhecia.

E não conhecer foi bom para sua atuação no musical hoje?

Eu acho que foi bom porque quando eu tive a oportunidade de ouvir quando ele estourou, eu não tinha uma capacidade intelectual para pegar tudo que ele queria passar. Agora, mais maduro, eu consigo entender um pouco mais a própria história do Cazuza. Ele foi muito corajoso ao escrever "mostra a sua cara".

O fato dele ter assumido, lutado e ter morrido em consequência da Aids, ajudou a construir a imagem dele? A história de vida influenciou a imagem dele hoje?

Eu não acho que as pessoas lembram dele por meio da doença, mas é inevitável dizer que a doença cooperou, sim, e foi uma das responsáveis por ele ser lembrado, porque foi no momento da doença que ele teve a "sacação" na cabeça de que tinha que falar de coisa séria, sobre a ideologia, sobre o Brasil. A gente fala até na peca, quando ele descobre a doença ele não quer falar só de amores românticos, quer falar sobre a geração dele. Quando viu que a vida poderia ser encurtada, passou a querer ser mais útil. Foi um amadurecimento forçado, mas que trouxe as melhores épocas dele.

Você foi muito elogiado pela Lucinha Araújo. Como foi ser avaliado pela mãe do Cazuza?

Você interpretar alguém, essa pessoa não estar ali para se defender e a mãe ser a única pessoa que pode responder por ele, dá um certo pânico. Mas a Lucinha é uma pessoa incrível. Fica lá com a gente o tempo todo, é compreensiva, não tenta esconder o lado rebelde do Cazuza, as coisas que ela não concordava em relação à vida dele. Mas, mesmo assim, ela fez questão de mostrar a verdade. É uma honra tê-la nos avaliando e participando.

Depois da primeira avaliação dela, mudou algo na hora de subir no palco? 

Depois da avaliação dela veio a segurança de saber que a gente está, pelo menos, no caminho certo para criar o Cazuza. Quando ela está na plateia, e ela esteve muito presente no Rio, quando a gente via qualquer reação da Lucinha num dia mais animado, por exemplo, a gente se empolgava e puxava esse sentimento para a gente também. Não tem como separar uma história da outra. Apesar da gente estar ali fazendo um musical sobre o Cazuza, é a vida dela também e tudo o que ela representa.

O Ney Matogrosso viu o musical? Muda o fato dele estar na plateia?

Ele foi no primeiro ensaio aberto que a gente fez no teatro que foi, se não me engano, depois da estreia. Muda, mas depois do crivo da Lucinha a gente se concentrou sabendo que estávamos na trilha certa do que era a história. Depois do aval da mãe, com o Ney ficamos mais empolgados em tirar detalhes da vida do Cazuza com a presença dele e não em ser avaliado.

Você ja se emocionou no palco?

Quando eu entro, quero contar a história, não consigo assistir. Mas quando eu li o texto a primeira vez e ainda tinha uma certa distância do personagem, aí sim, me emocionei.

Você conhece o Daniel de Oliveira (que interpretou Cazuza no filme Cazuza - O Tempo Não Para)?

Em uma apresentação do Canecão, Daniel apareceu lá, mas era tanto movimento que falamos muito rápido. Foi passageiro, nada que tenha tido muito peso, mas precisa ter esse encontro.

Quando o pai do Cazuza morreu vocês estavam em cartaz. Como foi?

A morte foi sentida por todo mundo. Tinha até espetáculo no dia, teve parte do elenco que acompanhou a família, mas eu preferi deixar o momento para eles. Marcelo Várzea (que interpreta João Araújo, pai de Cazuza, no musical) foi. O que eu posso fazer é contar a história da melhor forma possível e dedicar isso a ele.

Tem alguma coisa do Cazuza que você gostaria de ter?

Eu acho que eu tenho. Acho que todo mundo tem alguma coisa que o Cazuza tinha. Ele era um cara normal, era um gênio dentro do que ele fazia, tinha uma capacidade muito grande de escrever sentimentos da forma mais simples possível, não tem uma letra que tenha uma palavra difícil. Ele era filhinho de papai, filho do dono da gravadora. Nada do que ele viveu foi diferente do que a gente vivia. Hoje tem coisas muito mais chocantes do que ele fazia, então, eu não vejo nada no Cazuza que seja tão incompreensível para mim.

São Paulo é a cidade do rock. Qual a sua expectativa para a estreia? 

Eu acho que vai ser muito bacana. Porque temos um cenário muito bacana, Brasília e São Paulo são os pontos principais do rock n' roll. Pelo pouco que a gente viu em Santos e em Paulínia, vai ser demais.

O que você estava fazendo quando ele morreu, naquele 7 de julho de 1990?

Eu não faço a menor ideia! Devia estar escutando Raul.

Qual a sua música favorita do Cazuza?

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