Homem da Meia-Noite reúne multidão nas ladeiras históricas de Olinda
Desfile foi marcado por muita história, curiosidade, paixão e misticismo
Carnaval 2015|Da Agência Brasil

Como acontece há 83 anos, as ladeiras históricas de Olinda foram tomadas pela presença daquele que é o mais representativo dos blocos de Carnaval da cidade. Exatamente à zero hora deste domingo (15), o Homem da Meia-Noite iniciou seu desfile com muita história, curiosidade, paixão e misticismo. A expectativa dos organizadores era de arrastar 400 mil foliões.
Inexplicável, aliás, foi o tema com que o bloco saiu às ruas neste ano, denominado Místico, Mágico e Fantástico, explicou o presidente do bloco, Luiz Adolpho de Silva.
— Foi um tema que surgiu no seio da família. Um dia, chegando em casa, meu filho disse que tinha um grande tema para o Homem da Meia-Noite – 'místico, mágico e fantástico'. A aprovação foi imediata. Não poderia ser diferente, porque é tudo o que o Homem da Meia-Noite representa.
A figura do Homem da Meia-Noite surgiu no Dia de Iemanjá, em 2 de fevereiro de 1932, com base no calunga — personagem místico do candomblé, cercado de simbolismos. A sede do bloco fica em frente à Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, onde se encontram grupos ligados a religiões de matriz africana.
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O traje e o lugar onde fica o boneco também são segredos, assim como o fato de sempre sair à meia-noite.
— É a hora mais mística para o brasileiro, é quando aparecem a mula sem cabeça e o lobisomem.
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A magia do boneco sempre atrai uma multidão. Caso do operador de furadeira Alexandre Vieira, e seu sobrinho, o estudante Victor Ribeiro. Morador de Olinda, Vieira acompanha o Homem da Meia-Noite há 40 anos.
— Todos os anos eu estou neste evento maravilhoso, com toda esta multidão atrás do calunga. Depois do Galo [da Madrugada], o Carnaval é no Homem da Meia-Noite. São as duas maiores tradições do Carnaval.
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A tradição é seguida pelo sobrinho, que acompanha o desfile desde que tinha cinco anos de idade. “Gosto de ver o movimento de gente, as pessoas fantasiadas, vestidas de Homem da Meia-Noite. Nunca tive sono, pra mim é uma tradição”, revelou Victor, de 13 anos. Assim como centenas de foliões, os dois também estavam com a fantasia do calunga, nas cores verde e branco, e com uma cartola preta.
O desfile saiu da sede à meia-noite de sábado (14) em ponto, passou pela Rua do Bonsucesso, pelo Largo Amparo até os Quatro Cantos. Neste ano, o percurso foi alterado para comportar melhor a multidão que acompanhou o cortejo de 3,5 km. Em vez de subir a Ladeira da Ribeira — estreita —, o bloco mudou o rumo por ruas mais largas.
O novo trajeto passa pela rua Prudente de Morais para já sair na rua do Bonfim. De lá, retorna ao Largo Amparo e segue para o bairro Guadalupe. Lá, o bloco entregou a chave da cidade à Troça Carnavalesca Mista Cariri Olindense. O ato simbólico é uma tradição da festa, e marca o início oficial do Carnaval de Olinda.
Mesmo com a alteração no percurso, a multidão era grande e alguns princípios de tumulto ocorreram em frente à sede. A Polícia Militar precisou intervir para que os foliões encantados com a magia do calunga pudessem seguir.
Neste ano, o desfile do Homem da Meia-Noite homenageou Pedro Garrido, responsável desde 1989 por carregar o boneco, com 3,5 m de altura. O Maestro Forró também é homenageado pela agremiação, e retribuiu a gentileza regendo a orquestra ao longo do desfile.
— É uma emoção muito grande. O Homem da Meia-Noite tem uma história muito bonita. São mais de 80 anos prestando serviço ao Carnaval de Olinda e do Brasil. Pra mim, ele tem a ver com espontaneidade e com a alegria do Carnaval.