'Animais Fantásticos: Os Crimes de Grindelwald' é evolução de original
Abrindo mais o leque de tramas e diversificando personagens ao mesmo tempo em que os aprofunda, filme acerta e cria clima para continuações
Cinema|Caio Sandin, do R7

Quando o primeiro filme de Animais Fantásticos e Onde Habitam foi anunciado, muitos questionaram qual seria a temática deste derivado do mundo de Harry Potter e se haveria, realmente, uma história para contar. Passada essa desconfiança inicial, por conta do bom filme estrelado por Eddie Redmayne nas ruas de Nova York dos anos 1920, Os Crimes de Grindelwald chega com a função de ampliar e melhorar todo o escopo apresentado na obra de 2016, além de aprofundar a trama e os personagens envolvidos.

O longa anterior tinha deixado poucas pontas soltas para serem exploradas, mas, logo no início, esta sequência trata de desprender algumas mais e cria seu próprio corpo. Com a volta de Newt para a Europa, novas burocracias ministeriais atingem o herói e suas ações passam a ser vigiadas e mais complexas de serem realizadas. Enquanto isso a influência de Grindenwald não para de crescer frente a um ministério rigoroso e punitivo contra os magos.
Sob este pano de fundo se desenrolam as ações deste segundo capitulo, que pode não ser o mais brilhante filme do “Mundo Bruxo”, mas com certeza chega muito perto. Tendo de apresentar e estabelecer menos as coisas do que o inicial, a preocupação passa a ser apenas no desenrolar dos fatos e no desenvolvimento dos personagens, que crescem de maneira extraordinária. Cada um dos protagonistas tem sua personalidade aprofundada e as cenas fazem o trabalho de demonstrar cada um de seus traços e em que evoluíram ou regrediram. O roteiro consegue mesclar muito bem todos os núcleos e é perspicaz em usar artifícios do primeiro filme de maneira ainda mais inteligente, como os próprios animais mágicos que leva ao título.

O polêmico Johnny Depp — envolvido em escândalos de violência doméstica e agressões contra mulheres e defendido pela autora J.K Rowling, embora muito criticado pelo público — aparece menos do que o esperado no longa, sendo quase uma sombra que está sempre atormentando os heróis. Mesmo em seus momentos em cena, Depp controla muito seus tradicionais trejeitos e não compromete a projeção com sua atuação, que se tornou no mínimo questionável nos últimos tempos.

Já as novas adições chegam para complementar e enriquecer a história, e, apesar de não chegarem a roubar a cena (ainda), servem muito bem para o desenvolvimento não só do arco apresentado neste filme, mas para a grande trama que envolve todos os longas e tem muito a ser explorado ainda nas sequências que estão por vir .

David Yates domina por completo o ‘gênero’ que já comanda desde Harry Potter e o Enigma do Príncipe (6º na série original). Sua visão para o mundo criado por J.K. Rowling se aprimora ainda mais em Os Crimes de Grindenwald e consegue mesclar tudo o que o cinema pode oferecer de melhor. Closes, planos abertos, câmera lenta e até uma suave câmera tremida aparecem para abrilhantar o grande espetáculo que vai às telas. Tão grande que por vezes até foge desta, brincando com a razão de aspecto do filme.
O longa, assim como toda a série, é um deleite para os olhos. O design de produção é genial inventivo, fazendo com que o mergulho no século passado seja, ao mesmo tempo, suave e profundo. Fazendo com que a imersão seja completa. Cada animal, roupa, cenário ou ação e objeto mágico é retratado com uma minúcia espetacular e, em certo ponto, doentia de tão brilhante.

Já o saudosismo fica por conta, além de certas aparições, da trilha sonora, que mescla a original de John Williams, com o tema criado para a nova série e se encaixa muito bem para esta incursão, por vezes, mais sombria na antologia.
Se não tem cenas e sequências tão impactantes quanto alguns “segundos filmes” e até mesmo as magias de outros filmes da franquia, Os Crimes de Grindenwald é uma bela evolução do original, melhorando em todos os aspectos, deixando o maior gancho da história do Mundo Mágico e trazendo algo verdadeiramente mágico para o público.

Ficha técnica:
Ano: 2018
Classificação: 12 anos
Duração: 2h14 min
Direção: David Yates
Roteiro: J.K. Rowling
Elenco: Eddie Redmayne, Katherine Waterston, Dan Fogler, Alison Sudol, Ezra Miller, Zoë Kravitz, Jude Law e Johnny Depp
Fotografia: Philippe Rouseelot
Produtores: David Heyman, J.K. Rowling, Steve Kloves e Lionel Wigram
Música: James Newton Howard