Creed 2 é emocionante, tenso e real como todo bom esporte
Mantendo elenco do primeiro filme, mas focando no lado pessoal dos personagens, nem mesmo vilão é superficial e tem seus próprios conflitos
Cinema|Caio Sandin, do R7
O esporte é uma das coisas que mais mexe com as emoções das pessoas. Mesmo sabendo que não tem qualquer influência nos resultados, torcedores vestem cuecas da sorte, sentam no lugar preferido e até culpam gritos antecipados de comemoração pelo desperdício de uma chance clara.
Muitos filmes tentam captar esta atmosfera e transferir a paixão vista nos campos para as telas. Mas poucas incursões são tão bem-sucedidas quanto a série Rocky - um lutador, e, posteriormente, Creed. A torcida pelo mocinho, o ódio ao rival e a tensão pela luta, que pode ir para qualquer um dos lados faz a audiência suar e ficar à beira da cadeira.
Creed 2 prova que é, sim, desta linhagem e, mesmo com a mudança na direção, chega à altura do primeiro e surpreendente longa com Michael B. Jordan.
Não muito mais maduro do que o jovem briguento apresentado no filme de 2015, Adonis Creed aparece já estabelecido como um dos grandes nomes do boxe, quando surge o desafio para lutar com Viktor Drago, filho de Ivan Drago, o homem que matou Apollo Creed, pai do protagonista, em um ringue. A partir daí o filme constrói os seus dois polos.
Viktor surge a princípio como um monstro, capaz de derrubar qualquer um que entre em seu caminho, uma verdadeira máquina de lutar. Mas o filme se importa muito mais em humanizá-lo do que em transformá-lo em um vilão simplório para ser derrotado pelo protagonista. Suas motivações são profundas e tocantes, fazendo com que a audiência sinta empatia por ele e seus objetivos, criando um certo dilema na hora do combate.
Muito mais focado na relação de Creed com sua família em formação e as inseguranças desse personagem que dá nome ao filme, o diretor Steven Caple Jr. consegue trazer mais humanidade ao quase mitológico lutador mostrando a dualidade entre a vida de boxeador e a de pai — e como cada faceta motiva e auxilia a outra a ser melhor.
Caple Jr. acerta nos tons em cada cena filmada, seja na sensibilidade com a qual lida com a deficiência auditiva de Bianca, no conflito que encontra nas relações de Adonis com sua mãe e seu mentor, Rocky, ou na visceralidade com a qual apresenta as lutas e as sequências de treinamentos. Neste último ponto, o diretor parece se inspirar no modo como Ryan Coogler conduziu o primeiro longa, mas colocando seu próprio tempero, acaba gerando cenas lindas e com sua assinatura singular.
Tudo isso é muito auxiliado pela trilha sonora, que aposta no clássico e nostálgico tema de Rocky, mesclado à agilidade da batida forte e envolvente do hip-hop e à suave voz da co-protagonista, Tessa Thompson. Assim, tanto nos ápices dos combates e preparações que os precedem, quanto nos momentos intimistas dos personagens se conhecendo e melhorando como pessoas, a narrativa cria uma identidade única que eleva o filme e o aproxima de todos os públicos.
Sylvester Stallone também está de volta ao corner de Creed para ajudá-lo dentro e fora do ringue. Mas, apesar de ter algumas das cenas mais incríveis e importantes do longa, vê seu espaço sendo tomado pela agora companheira de Adonis, Bianca, que, assim como o lutador, também evoluiu em sua carreira como musicista.
Todo o rol de protagonistas conta com atuações inspiradas, inclusive do estreante boxeador romeno Florian Monteanu, o que traz maior veracidade para os dramas do longa e maior impacto a cada decisão tomada e cada soco ou esquiva bem-sucedida no clímax.
Apesar de ter alguns pontos formulaicos — e ter uma estrutura parecida com os outros filmes da série — o roteiro sabe utilizar estes fatores muito bem para construir mais uma história de esporte fantástica, com personagens profundos e dilemas reais e relacionáveis, criando maior envolvimento com o público. A torcida... digo, audiência, vibra com cada golpe desferido, teme a cada pancada recebida, grita para que o protagonista reaja e se apaixona por esse filme, que sabe reger e brincar com as emoções do público como qualquer grande espetáculo esportivo deve fazer.
Ficha Técnica:
Ano: 2018
Classificação: 12 anos
Duração: 2h10 min
Direção: Steven Caple Jr.
Roteiro: Sylvester Stallone, Juel Taylor, Cheo Hodari Coker, Sascha Penn
Elenco: Michael B. Jordan, Sylvester Stallone, Tessa Thompson, Dolph Lundgren, Florian Munteanu e Phylicia Rashad
Fotografia: Kramer Morgenthau
Produtores: William Chartoff, Ryan Coogler, Bernardo Duran Jr., Michael B. Jordan, Guy Riedel e Sylvester Stallone
Música: Ludwig Göransson