Em novo filme, Leandro Hassum ri de si mesmo e questiona críticas
Comédia "Morrer de Rir" traz reflexão sobre como artistas podem tomar novos rumos nas carreiras: "Artista não envelhece"
Cinema|Helder Maldonado, do R7

Leandro Hassum é humorista. Rafael Portugal, do Porta dos Fundos, Caito Mainier, do Choque de Cultura, e Carol Portes, do Tá no Ar, também são. Ou pelo menos ficaram marcados nesse segmento.
Mas isso é apenas uma das coisas que eles pretendem fazer na carreira, até para não ficarem presos na estigmatização de artistas que não conseguem se reinventar.
Essa, inclusive, é a discussão que está no roteiro do filme Chorar de Rir, cujo elenco é composto pelos quatro (além de Natalia Lage, Otavio Muller, Fulvio Stefanini e Monique Alfradique).
Com estreia nesta quinta-feira (21), o longa dirigido por Toniko Mello coloca na tela o debate sobre se comediante pode ir adiante e atuar em dramas, filmes de ação ou terror. "Apesar do filme tratar do universo da comédia, ele aborda uma dúvida que pertence à vida de todo mundo. Todos chegam àquele momento em que se questionam se não está na hora de se reinventar. Na verdade, ninguém precisa recomeçar do zero. Pode agregar ao seu trabalho. Todos nós que nos divertimos na carreira que temos passamos por esse drama", explica Hassum.

No papel do humorista Nilo Perequê, ele realiza na tela algo que já ensaia na vida real: também atuar fora do humor. Apresentador de um programa líder de audiência, Nilo abandona tudo para protagonizar Hamlet no teatro. A decisão desagrada todos ao redor de Nilo, menos Jotapê Santana (Rafael Portugal), seu principal rival e admirador, que acaba assumindo o programa de Perequê na TV. "O meu personagem, que enxerga a oportunidade de poder pegar o lugar do Nilo, mistura inveja com admiração. E isso existe em qualquer profissão. Muitas vezes a pessoa admira, mas só canaliza inveja, como o Jotapê", revela Rafael Portugal.
Com o desenrolar da trama, a comédia não esquece de dar tapas com luvas de pelica nos críticos e na imprensa de fofocas, que traz Caito no papel de um personagem que mistura Nelson Rubens com o Rogerinho do Ingá, que ele interpreta no Choque de Cultura. "Você pode trazer as coisas da sua vida para o cinema, para o personagem. O Índio, que é um apresentador de programas de fofoca, tem algo muito parecido com o que eu faço com o Rogerinho do Choque de Cultura. Eu lembro que quando estávamos ensaiando ainda, o Toniko falou que gostava do que eu fazia no Choque. Mudei um pouco o texto, porque o personagem era ainda mais tosco, mas um lembra o outro, de fato", analisa Caito Mainier.

"Muitas vezes as pessoas desmerecem esse jornalismo popular, mas nem sempre as pessoas querem se informar sobre coisas relevantes. Recentemente teve o caso de Noronha no meio da discussão sobre Reforma da Previdência e criticaram quem queria saber só da fofoca. Mas isso gera o questionamento sobre se as pessoas sabem se comunicar. Porque não é fácil explicar a Reforma da Previdência, seja ela qual for", analisa Caito.
Piadas sobre o emagrecimento de Hassum e o peso de Otavio Muller reproduzem críticas e piadas que os próprios atores escutam na vida real. Monique Alfradique (Barbara) também não escapa do texto irônico e é apontada como uma atriz que está acostumada a ser a mocinha das novelas.
E, assim, os "tipos" que fizeram o elenco famoso são debatidos e ironizados à exaustão durante 1h30 de filme, que não chega fazer ninguém chorar de rir, mas influencia o questionamento sobre o papel do artista e como ele pode se reinventar. "O trabalho de ator e o humor tem tantas cores e jeitos de fazer, que ninguém vai tomar o meu lugar, o do Pedro Cardoso, o do Chico Anysio. Quando falam que eu estou no passado, significa, na verdade, que virei referência. É tão bonito hoje em dia quando encontro uma galera que está despontando e percebo que eles também viraram minhas referências. Tatá, Rafael e Porchat já viraram referências. E isso é o mesmo que aconteceu quando o Chico Anysio me elogiou. Artista não envelhece, cria escola quando encontra seu caminho", acredita Hassum.