Lembrança constante de Boseman dá força ao maduro 'Pantera Negra: Wakanda Para Sempre'
Filme tem homenagem ao ator que morreu em 2020, aos 43 anos, após lutar contra um câncer de cólon
Cinema|Lello Lopes, do R7
A ausência do rei T'Challa (Chadwick Boseman) se impõe literalmente da primeira à última cena (e a cena pós-crédito) em Pantera Negra: Wakanda Para Sempre, que estreia nesta quinta-feira (10) nos cinemas brasileiros. É ela que dá força para um dos filmes mais sóbrios de todo o universo cinematográfico que a Marvel tem costurado desde 2008.
Com a morte precoce de Boseman em 2020, aos 43 anos, o produtor Kevin Feige e o diretor Ryan Coogler ficaram com uma bomba enorme nas mãos: o que fazer com o personagem que rendeu mais de US$ 1,3 bilhão no primeiro filme, de 2018, e virou símbolo e fonte de inspiração para uma geração imensa de meninos e meninas negras?
Boseman personificou de tal forma os ideais do Pantera, e partiu de uma maneira tão repentina depois de ter escondido do público e de praticamente toda Hollywood a batalha de anos contra um câncer, que colocar um outro ator para interpretar o personagem ficou fora de cogitação.
A solução foi levar essa ausência para a tela. Pantera Negra: Wakanda Para Sempre é um filme sobre luto e legado, sobre acertar contas com o passado e trilhar um caminho próprio para o futuro, sobre como manter a tradição e aproveitar o que de melhor a tecnologia tem a oferecer. O filme também serve como tributo às vidas de Boseman e T'Challa, aqui indissociáveis.
Na trama, as mulheres da vida de T'Challa encaram a perda de maneiras bem diferentes. Sem o filho, Ramonda (Angela Bassett) é alçada à condição de rainha no momento em que Wakanda está mais fragilizada: exposta ao interesse do mundo pelo vibranium, o seu material mais valioso, e sem ninguém com o manto do Pantera para protegê-la. Já a princesa Shuri (Letitia Wright) carrega a culpa de não ter conseguido salvar o irmão, mesmo dispondo da inteligência acima da média e da maior tecnologia do planeta.
Para piorar, o reino é envolvido em uma trama política após a adolescente geniazinha Riri Williams (Dominique Thorne) construir uma máquina capaz de detectar vibranium no fundo do oceano, o que coloca em risco também a avançada civilização submarina de Talocan, comandada por Namor (Tenoch Huerta).
A união (ou não) desses dois mundos tão diferentes contra um inimigo em comum vai gerar mais perdas e colocar à prova o verdadeiro legado deixado por T'Challa para a família e para Wakanda.
Um dos personagens mais antigos da Marvel, Namor faz a sua estreia nas telonas como mais uma peça a ser encaixada antes da chegada dos X-Men ao MCU. A ligação com o universo de filmes da editora também é forçada com as presenças dos personagens de Martin Freeman e Julia Louis-Dreyfus, o que deixa o longa um pouco arrastado.
O filme também perde força ao ensaiar, mas nunca se aprofundar, em uma discussão sobre colonização e opressão de povos. Acabou apenas com um discurso vazio sobre o tema.
Falta também uma presença mais magnética em cena, até pela sombra deixada por Boseman na trama. Letitia Wright é uma grande atriz, mas não consegue entregar 100% do desamparo pelo qual a sua Shuri passa. Angela Bassett se sai melhor, como mãe e rainha em luto.
No fim, mesmo com algumas escorregadas, o diretor Ryan Coogler conseguiu entregar um produto maduro, que talvez não agrade totalmente o fã mais radical de filmes de super-heróis, mas que retrata, principalmente após o mundo sair de uma pandemia tão devastadora, o sentimento de que a vida precisa seguir em frente, apesar de tudo.