O Grande Circo Místico tem trama superficial e delicadeza de elefante
Novo longa de Cacá Diegues parece não entender momento atual e se perde no passado que retrata na tela. Para o lado negativo
Cinema|Caio Sandin, do R7

O cinema é um reflexo e um retrato de seu tempo. Assim é explicado por muitos a ligação entre a sétima arte e a realidade. Por isso, em momentos históricos tensos e rígidos, vemos alguns filmes brilhantes que contestam o cinema, outros tão bom quanto que o enaltecem e, no meio disso, apenas os divertidos e escapistas.

A nova obra de Cacá Diegues, O Grande Circo Místico, que estreou nesta quinta-feira (15) nos cinemas, parece se encaixar nesta terceira categoria. Independentemente do momento em que fosse lançada. Uma história de amor romântica, mas com muita perversão, que demonstra como diversas personas se aproximam deste sentimento e o utilizam de maneiras distintas.
Acompanhar geração a geração de uma família é realmente interessante. A sua relação com o Circo, comprado pelo patriarca na década de 20, tentando conquistar sua amada e conquistar um lugar para que ela se apresente, as passagens de bastão e a decadência dos anos atuais, que refletem o desencanto com, não somente este tipo de arte, mas com toda a sua sorte. E, em meio a isso tudo, Celavi. Não a expressão francesa, mas o mestre de cerimônias atemporal.

O grande problema é a superficialidade com que tudo é tratado no longa, escolhido para representar o Brasil no Oscar 2019. Chega a ser pueril. Abordando temas extremamente sensíveis com a delicadeza de um elefante em uma loja de cristais. Pouco se importando em demonstrar críticas ao retratar preconceitos, o filme parece gargalhar ao custo deles. Talvez se aproximando de alguns atos realizados por palhaços no picadeiro.

Diegues acerta em alguns planos magistrais, lindos e apaixonados, mas na grande parte do longa, a monotonia e o vazio enchem a tela muito mais do que a inspiração. A fotografia é consistente, mas, também, não digna de nota.
Talvez o ponto alto sejam as músicas de Chico Buarque e Edu Lobo que, ao lado do estrelado elenco, se esforçam para demonstrar os extremos que seus personagens retratam. Talvez os 12 anos que o diretor despendeu nesta produção tenham atrapalhado mais do que auxiliado a história a ser contada.
Parece que o máximo que se pode dizer do indicado brasileiro ao Oscar em 2018 é o nome do personagem que costura toda a trama: C'est la vie.

Ficha técnica:
Ano: 2018
Classificação: 16 anos
Duração: 1h45 min
Direção: Carlos Diegues
Roteiro: George Moura e Cacá Diegues
Elenco: Jesuíta Barbosa, Bruna Linzmeyer, Rafael Lozano, Vincent Cassel, Antônio Fagundes, Juliano Cazarré e Mariana Ximenes
Fotografia: Gustavo Hadba
Produtora: Renata Almeida Magalhães
Música: Chico Buarque, Edu Lobo