“É filme de vingança terrorista", diz Adirley Queirós, de Branco Sai Preto Fica, sensação em Brasília
Com discurso potente contra apartheid social, diretor diz que não é representante de nada
Entretenimento|Miguel Arcanjo Prado, enviado especial do R7 a Brasília
O filme Branco Sai. Preto Fica, único do Distrito Federal na mostra competitiva do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, já saiu na frente na corrida pelo Troféu Candango, pelo menos na categoria voto popular.
Sua exibição, na noite do último sábado (21) abarrotou o Cine Brasília com um público ávido por ver o Plano Piloto desenhado por Lúcio Costa ser destruído na tela juntamente com os edifícios projetados por Oscar Niemeyer.
Tudo em nome de dilacerar o apartheid social vigente na capital do País.
O longa de Adirley Queirós, do CeiCine, o Coletivo de Cinema da Ceilândia, cidade satélite de Brasília, expõe a desigualdade no Distrito Federal, com pobres mantidos distantes da cidade planejada.
“É um filme de vingança”, diz o cineasta para definir seu longa metragem, no qual mistura de ficção científica com documentário para contar uma história de violência policial contra negros e pobres em um baile funk.
Terrorismo
Ele ainda vai além e diz “que não se faz diálogo com o outro com armas nas mãos” e declara que seu longa é também “um ato de terrorismo”. “Queremos explodir tudo, inclusive a gente. Se não há diálogo, o terrorismo surge”.
O diretor ainda revela seu desagravo contra a Brasília modernista com seus amplos espaços vazios. “Eu proponho a construção de um setor de domésticas norte e um setor de vigias sul. Está tudo muito vazio. Deveria se construir umas casas para o povo não precisar ir até a rodoviária e pegar depois duas horas de trânsito para chegar nas cidades satélites”, alfineta.
Recusa em ir ao Sesc de Ceilândia
Queirós ainda revela porque não quis assistir à sessão de seu filme no Sesc Ceilândia, bairro onde se passa sua história – ele só foi à sessão do Cine Brasília e ao debate no Museu Nacional.
“Não vi o filme em Ceilândia porque ele passou no Sesc, que é muito opressor. O Sesc Ceilândia está em um lugar periférico, mas eles odeiam a gente. Não dá para ser conivente. Eles não suportam pessoas com sandalinhas nos pés ou que entram um pouco bêbadas. Então, não me interessa ir até lá”, declara.
Apesar dessa fala, faz questão de afirmar que apoia o Festival de Brasília exibir filmes nas cidades satélites. E diz que já faz isso há muito tempo. “Toda quinta tem o cineclube lá em Ceilândia, quem quiser ir é só pegar o metrô e descer na penúltima estação”, avisa.
"Não me sinto representante de nada"
Queirós ainda revela que fará cópias do filme Branco Sai. Preto Fica em DVD para serem vendidas à população. “Se ninguém comprar a gente dá de graça mesmo”. E declara que não gosta quando dizem que ele sabe falar mais sobre a periferia porque vive nela.
“Não é porque fazemos filmes sobre a Ceilândia sendo de lá que fazemos um filme melhor do que os outros. Isso é fascismo. Não me sinto representante de Ceilândia, nem de nada, nem lá de casa”.
*O jornalista Miguel Arcanjo Prado viajou a convite do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro.