Sobre a grave crise de credibilidade pela qual passa a música sertaneja, não haveria artista mais emblemática para lançar luz e verdades do que a estrela Marília Mendonça. As falas dela publicadas no Twitter em 2019 e resgatadas em reportagem do R7 são esclarecedoras:
"O projeto Todos os Cantos é feito todo de boas intenções, pena que não é valorizado por quem mais deveria valorizar: os próprios líderes da cidade e de estado que têm sua casa exposta e valorizada para o mundo todo e sem incentivozinho, hein? Difícil!"
"Se estivéssemos pedindo dinheiro, eu entenderia. Agora: 'Ei, quero valorizar o turismo na sua cidade, trazendo um show grátis para a sua população, posso?'. Porta na cara! Não fazem e não deixam que façam! Ok… Aqui a luta não para", completou.
Que cacetada. Um verdadeiro nocaute nos colegas de Marília que aceitam receber cachês milionários (e indecorosos) de pequenas prefeituras espalhadas por todo esse país continental. E a prova de que, sim, há um esquema indefensável de desvio de verbas a ser duramente investigado.
É definitivo: abriu-se uma profunda caixa-preta com a origem e o destino dessas verbas públicas que deveriam ir para saúde, educação e saneamento básico – mas que servem para enriquecer empresários e cantores já devidamente agraciados pela sorte, pelo sucesso e por fortunas invejáveis.
Estamos apenas numa primeira fase de denúncias e decisões judiciais, mas já é possível antever que há algo de muito podre nesse reino de passinhos e sofrências. Que, ao final, sejam separados os joios e os trigos desse universo artístico e político. Que os corruptos sejam descobertos e punidos com rigor.
E que a cultura (e o dinheiro de nossos impostos) não sirva como refúgio para mamateiros de nenhuma coloração ou estilo.