Famosos e TV Criador de Chaves e Chapolin, Roberto Bolaños foi o Chaplin da América Latina

Criador de Chaves e Chapolin, Roberto Bolaños foi o Chaplin da América Latina

Artista criou tipos universais e ao mesmo tempo próximos a todos nós

  • Famosos e TV | Miguel Arcanjo Prado, editor de Cultura do R7

Roberto Bolaños, como Chaves, seu papel mais querido no Brasil

Roberto Bolaños, como Chaves, seu papel mais querido no Brasil

Divulgação

O ator, roteirista e diretor mexicano Roberto Gómez Bolaños foi o maior nome do humor televisivo na América Latina. Tanto que recebeu do cineasta conterrâneo Agustin Delgado, logo no começo da carreira, o apelido Chespirito, por considerá-lo uma versão em miniatura do inglês William Shakespeare (1564-1616), por conta de seu 1,60 m.

O criador dos seriados Chaves e Chapolin foi uma espécie de Charles Chaplin (1889-1977) latino-americano, com seus tipos tão frágeis e pobres, mas repletos da malandragem que a vida no Terceiro Mundo exige. Ele sempre confessou ser fã do ícone britânico do cinema, a quem chegou homenagear com a paródia Charles Chapín.

Personagens inesquecíveis
Bolaños criou tipos inesquecíveis, que tinham muito mais a ver com nossa realidade subdesenvolvida do que os heróis importados dos Estados Unidos.

Seu super-herói não tinha a pompa de um Batman ou Homem-Aranha. Muito pelo contrário, Chapolin Colorado beira o ridículo, com seus poderes improvisados. É o herói possível na América Latina, é que dizem as entrelinhas do personagem.

E Chaves? O menino que era tão pobre que vivia dentro de um barril. Tentava dar a dignidade de um lar ao local, chamando-o de casa 8 da vila paupérrima da Cidade do México. Puro carisma, o garoto tão bem construído e crível era rodeado de outros personagens que também entraram para o inconsciente coletivo.

Mas Bolaños recusava o drama barato para comover, fazendo a cartilha manjada do oprimido. Ao contrário, humanizava seus personagens: podiam ser bons e maus. O próprio Chaves invejava o menino Quico, de quem se vingava com pancadas recorrentes por ser este mais rico, filho de uma viúva de militar cuja pensão garantia-lhe privilégios — comida e brinquedos — em relação aos outros moradores.

Bolaños também teve a sorte de encontrar elenco com talento à altura de seus personagens. Dona Florinda, a mãe de Quico interpretada por Florinda Meza, que foi sua mulher na vida real até o fim de seus dias, também representava a soberba tão comum a alguns latino-americanos.

Apesar de morar na mesma vila, Dona Florinda se sentia melhor que os outros por ter um pouquinho de dinheiro a mais. Logo, se impunha uma nobreza inventada, tão típica na América Latina sempre saudosa de uma Europa colonizadora. E não titubeava em chamar os demais de "gentalha".

O desempregado Seu Madruga, com sua malandragem, também cativa. Assim como sua filha, Chiquinha, tão esperta quanto o pai em seu exemplo de sobrevivência quase impossível.

E foi por criar personagens tão universais e também tão próximos à população latino-americana, em sua maioria pobre e explorada, que Bolaños se tornou um ídolo do povo. Amado instantaneamente. Por isso, sua morte é tão sentida. É como perder um membro da família, já que ele sempre esteve por ali, na tela da televisão.

História de sucesso
No Brasil desde 1985, em uma das mais acertadas apostas do dono do SBT, Silvio Santos, Chaves e Chapolin logo se converteram em sucessos atemporais, à prova de qualquer mudança na grade. Líderes de audiência em muitos momentos, os personagens conseguiram renovar seu público, fazendo parte da infância de pelo menos três gerações de brasileiros.

Nascido em 21 de fevereiro de 1929, Roberto Bolaños estudou engenharia, mas foi na publicidade que começou a carreira, aos 22 anos.

Na segunda metade da década de 1950, tornou-se roteirista requisitado, por conta de seu texto ágil e de humor facilmente apreendido pelo público. Depois de escrever os programas de maior audiência da TV mexicana, tornou-se também ator em 1968, na emissora TIM, com o personagem Doutor Chapatín.

Em 1970, estreou o programa Chespirito, com vários esquetes de humor, entre as quais a do personagem Chapolin Colorado.

Em 1971, surgia El Chavo del Ocho, ou simplesmente Chaves para os brasileiros. E o sucesso foi imediato. Em 1973, os dois personagens já eram vistos em quase toda América Latina. Em 1975, dava cerca de 60 pontos de audiência na TV mexicana.

Roberto Bolaños costumava dizer que sua maior alegria era algo bem simples: "Provocar sorriso sincero em crianças e adultos". De fato, com seu humor sem idade ou fronteiras, ele conseguiu.

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